Capítulo 23 - Instituição

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Não conversamos durante quase todo o percurso até a instituição, eu preferia ficar em silêncio tentando descobrir onde eu errei naquele dia. Pensei e repensei, mas eu simplesmente não entendia o que havia acontecido, como num passe de mágica, a droga estava ali. Eu tinha certeza absoluta que não era minha.

Eu não estava conseguindo me manter quieta no banco do carro, eu ficava de olho na estrada, mas às vezes virava pro lado e encostava a cabeça na janela, outras vezes ficava observando a forma como Benjamim dirigia, numa dessas vezes, ele virou-se rapidamente pra mim.

- O que foi? - perguntou risonho.

- Nada. Estou só pensando... Por que tudo tem que dar errado na minha vida? Eu não me lembro de ter feito nada de ruim pra ninguém ou pra qualquer ser maior que esteja no comando dessa coisa toda que chamamos de vida. Sério, eu sempre fui uma boa menina, mesmo depois que eu fui...

Ops. Já ia falar do que não devia.

- Que você foi...

- Que eu fui incriminada. Incriminada. - falei, desconversando.

É lógico que Benjamim não tinha caído nesse meu papinho, mas eu realmente não queria falar disso com ele agora.

- Julie, se quiser desabafar, é só conversar comigo. Sou seu amigo pra se divertir, mas pra te ajudar também. Eu sinto que você tem algo pra me contar.

- Não quero conversar agora. Por favor, eu só quero descobrir quem fez isso comigo e me livrar dessa acusação.

Ele suspirou e estacionou o carro na frente de uma casa grande, cercada de tábuas baixas que deveriam alcançar apenas minha cintura. Ela era amarela, e parecia muito alegre. Algumas crianças estavam brincando do lado de fora, numa espécie de parquinho, que tinha um escorregador baixinho, uma gangorra vermelha com a pintura descascada, e um balanço.

Tudo era muito bonito lá, mas o que realmente me atraiu foi o jardim. Lindo, colorido, e com algumas borboletas, já que ainda estávamos na primavera. Tinha violetas lá, e eu me lembrei de antigamente, meu pai sempre trazia violetas pra colocar em um vaso de flores que eu ganhei da vovó e ficava no meu criado-mudo.
Quando dei por mim, Benjamim já tinha aberto a porta do carro para que eu descesse.

- Julie? Está bem?

- Estou ótima, acho que vou amar esse lugar. - falei com os olhos fixos no jardim.

- Esse jardim é lindo, né? Também fiquei encantado quando vi a primeira vez. Vamos, já estão me esperando.

Eu saí do carro e entrelacei meu braço no de Benjamim. Ele abriu o pequeno portão de ferro e foi em direção ao jardim, pegou uma violeta e me entregou.

- Uma flor para a mais bela flor. - disse, com cavalheirismo.

- Obrigada, senhor. - falei, tentando imitar uma reverência.

Nós dois rimos e seguimos em direção às crianças, que abriram um sorriso gigantesco ao ver Benjamim.

- Tio Benjamim! Você chegou! - uma menina de lenço florido na cabeça falou, pulando no pescoço dele.

- Ivnes, eu disse que viria hoje, mas trouxe uma surpresa pra vocês.

- Ah é? E o que é? - a menina perguntou.

- Você não está vendo? - um garoto moreno de cabeça careca perguntou.

- Não. Onde está?

- Ah que menina bobinha! Ele trouxe a nova namorada dele não tá vendo?

- Não, eu não sou namorada do Benjamim! - falei, rapidamente.

- Claro que é! - dessa vez foi a própria menina que falou- Ele não trás muitas garotas aqui e ele pegou uma flor e te deu... E ainda mais, vocês andam de braços dados assim. Isso é namorar! - disse, entrelaçando seu braço com o garoto moreno.

Encontro (COMPLETO)Onde histórias criam vida. Descubra agora