Passado Condenado

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Nova York, EUA, 27 de Junho de 2003

Totalmente destruida. Era assim que eu me sentia em relação a esta data. 27 de Junho de 2003, era pra ser a data mais feliz da minha vida, era o meu aniversário de 16 anos que acabou em uma grande tragédia. Meu pai Cesar McCarther, minha mãe Sue McCarther e minha irmã de apenas 6 anos Jane, estávamos saindo do restaurante onde comemorei o meu décimo sexto aniversário, quando entramos no carro e tudo foi perdido em um terrível acidente. O meu pai estava dirigindo, tudo de repente foi se tornando escuro como a noite, ele perdeu o controle do carro e tudo foi embora, toda a felicidade de uma família, toda a alegria daquele dia tão especial, tudo se tornou cinzas, tudo se tornou um grande vazio.
Meus pais morreram no hospital e eu presenciei tudo, foi o pior aniversário da minha vida. Acredito que foi um milagre eu ter somente alguns ferimentos no braço, um corte na cabeça e uma perna quebrada. Tive que ficar internada por três dias em observação, mas depois eu fiquei bem, na medida do possível.
Minha irmã Jane também sobreviveu, ela ficou em coma por duas semanas, e quando voltou do sono profundo, tive que criar muita coragem pra contar para uma criança de 6 anos onde seus pais estavam, e o que aconteceu pra eles não estarem mais entre nós. Fiquei treinando esta revelação por muitos dias até conseguir as palavras certas e fui, para a pior coisa que eu teria que fazer, contar a verdade, ser calma e passar tranquilidade para uma criança que acabou de sair de um coma e agora está prestes a descobrir que os pais morreram e que agora ela só tinha a mim. O quarto onde minha irmã estava era frio, tenho quase certeza que era por causa do ar condicionado, as paredes eram pintadas de um branco reluzente que se destacavam na luz fluorescente do hospital, havia também muitas cortinas de um azul fosco que eram usadas para separar as camas dos doentes, percebi no mesmo instante que o quarto não era pago, assim como o que eu fiquei quando estava internada. A cama de Jane era a terceira na fileira das camas, ela estava assustada, com medo. Uma enfermeira estava trocando o medicamento quando me aproximei da cortina.
-Como você está? -perguntei, quase chorando.
-Eu estou... - ela parou. -Estou com medo. -Jane disse partindo o meu coração.
-Vai ficar tudo bem, você vai ver, não precisa ter medo, nós vamos sair daqui e vamos buscar uma vida nova, eu prometo que vou cuidar de você pelo resto da minha vida. - eu disse tentando parecer forte.
-Onde estão a mamãe e o papai? -perguntou, fazendo-me lembrar dos ensaios que agora iriam virar realidade.
Eu olhei discretamente para a enfermeira, que após fazer o seu trabalho, saiu pela cortina a fora e me deixou sozinha com a minha única família a partir de agora.
- Eu tenho que te contar uma coisa, mas tem que me prometer que vai ser forte e vai superar. -as palavras mal saíam da minha boca.
-Pode contar, eu prometo que vou ser forte. -disse ela com um rosto angelical que me encantava.
-A mamãe e o papai eles.... -eu não consegui retomar, quase perdi a voz, mas tive coragem para continuar. -Eles estão em outro lugar agora, provavelmente estão com Deus e todos os anjinhos do céu. -Eles não vão voltar meu amor. Eu sinto muito.
Depois dessas palavras não consegui mais dizer nada, tudo que eu sentia era o meu corpo destruído, minha mente desolada e as lágrimas que se espalhavam rapidamente pelo meu rosto.
-Eles morreram? -perguntou Jane com os olhos cheios d'água.
Eu não disse nada, apenas fiz que sim com a cabeça. Nós duas nos acabamos nas lágrimas, eu consolei minha irmã e tentei acalma-la, até que ela conseguiu dormir depois dos medicamentos fortes que ela estava ingerindo pelos ferimentos e pelo coma.
Depois que se passaram alguns dias, conhecemos uma mulher chamada Lucy Perry, ela disse que era assistente social do governo e que iria ligar para todos os parentes dos meus pais, para saber se tinha alguém "disponível "para ficar com a gente até a guarda final no juizado de menores. Nenhuma resposta foi concreta. Todos da família, tanto do meu pai quanto da minha mãe recusaram ou arrumaram uma desculpa para não ficar comigo e com minha irmã. Lucy disse que todos estavam chocados pela tragédia mas que não podiam criar mais duas crianças. Eu fiquei surpresa, pensei que minha tia Samantha, irmã do meu pai pudesse ficar com a gente, afinal ela sempre nos bajulou e nos tratou muito bem, mas não, a desculpa dela foi a mais sem noção de todas; Ela disse que não tinha um emprego fixo, e que seria uma grande responsabilidade criar duas meninas. Depois de todas as desculpas idiotas da "familia" não haveria outro jeito, Lucy como assistente social nos mandou para um orfanato afastado da cidade de Nova York.
Jane não queria ir, eu também não mas, era o único jeito de ficarmos em um lar, até uma família incrível adotar uma de nós duas, como acontece nos filmes.
-Vocês vão gostar de lá. -disse Lucy. - Tem muitas crianças e você vai poder brincar bastante. -disse ela, se referindo a Jane. -E quanto a você Jessy, vai poder cuidar de sua irmã. -disse a assistente social.
- Eu só não quero me separar dela. - Eu disse, sendo um pouco grossa.
-Isso não depende de mim. -retrucou.
Entramos no carro, estava com trauma ainda, acho que esse medo iria percorrer por muito tempo. Jane estava do meu lado, com uma carinha triste que me cortava o coração.
-Jessy -disse ela, com uma voz tranquila e ao mesmo tempo apavorada. -Nós vamos ficar juntas sempre né?
-É claro meu amor, eu te prometi, e eu vou cumprir essa promessa até ficar bem velhinha. -disse sorrindo para acalma-la.
-Chegamos. -disse Lucy.
O orfanato era enorme, tinha um jardim espetacular com números quadrados infinitos, a Madre superior nos mostrou todos os lugares e eu fiquei encantada com todas aquelas crianças que assim como eu e minha irmã só precisavam de um lar e principalmente amor.
Muitos dias se passaram, já estávamos no mês de agosto. Uma família estava visitando o orfanato naquele dia e ficou encantada com as crianças, mas uma delas os chamaram mais a atenção: minha irmã Jane. Escutei uma conversa no corredor do orfanato do homem e da mulher que estavam interessados em levar minha irmã com a Madre. A mulher tinha uma aparência nova, devia ter no máximo 23 anos e o homem que provavelmente seria o seu marido deveria ter 26. Eles estavam bem vestidos, deveriam ser ricos, e não paravam de dizer o quanto queriam minha irmã como um novo membro da família.
-Madre, nós temos todas as qualificações para cuidar de uma criança, estamos casados a dois anos e não podemos ter filhos, por isso estamos aqui, nós queremos aquela menina linda como nossa filha. -disse a mulher loira.
- Eu vou conversar com a assistente social responsável por ela, pelo o que eu vejo vocês são perfeitos para cuidarem de uma criança como a Jane, e dar todo o amor possível para ela que perdeu os pais. -disse a Madre.
-Hoje mesmo eu vou ligar para Dr. Lucy e contar a ela sobre vocês. Se tudo der certo poderão voltar amanhã no mesmo horário. -disse a Madre confiante.
-Muito obrigado! -disse o homem barbudo.
Entrei em pânico. Não poderia deixar minha irmã se separar de mim, eu prometi a ela que nunca íamos nos separar, esse casal não poderia atrapalhar minha promessa. Corri o corredor inteiro, subi as escadarias e no caminho tive uma ideia que poderia ser a salvação de todos os novos problemas. Decidi que iríamos fugir ainda hoje para qualquer lugar, longe de todas essas pessoas. Entrei no quarto e minha irmã estava dormindo calmamente, tive que acorda-la.
- Nós temos que sair daqui ainda hoje. -disse, cansada por subir todas aquelas escadas correndo.
-Por que? -Para onde vamos? -perguntou Jane.
-Ainda não sei para onde vamos, mas eu te garanto que vamos ficar juntas. -disse convincente.
A noite chegou, já estava tudo arrumado, a pequena quantidade de roupa ja estava na pequena mala, eu e Jane estávamos colocando o meu plano em prática. Como uma espiã minha irmã me ajudou a pular a janela primeiro, depois eu consegui pega-la quando ela pulou. Tudo estava quieto, estava torcendo para não haver nenhuma armadilha naquele campo. Já estava tudo planejado na minha cabeça, o próximo passo era subir na árvore com a corda e pular o muro, ai estaríamos livre de tudo. Primeiro passei a minha irmã para fora do muro, por ela ser menor, depois eu pulei e quase quebrei minha outra perna caindo de mal jeito. Felizmente deu tudo certo, conseguimos pular o muro sem ninguém ver e agora tínhamos que caminhar para uma nova vida, que seria composta por somente duas pessoas: Eu, Jessy McCarther e minha irmã Jane McCarther.
Depois de andar alguns quilômetros, avistamos o que seria uma pensão, caminhei com minha irmã até lá, e já comecei a rezar por uma cama e um banho. Entrando na recepção percebi que aquele lugar não era realmente uma pensão e sim um Hotel bem fajuto que com certeza cobraria um grande preço pela moradia. No balcão da recepção uma mulher robusta, ruiva e cheia de sardas percebeu nossa chegada e logo nos encarou.
-Posso ajudar? -perguntou a recepcionista ruiva.
- Eu queria um quarto para passar esta noite.
-disse com toda a conformidade possível.
-Pelo que vejo vocês são menores de idade, não posso deixar que fiquem no meu estabelecimento. -disse, confirmando que ela não era só a recepcionista e sim a dona do Hotel.
-Eu insisto senhora, por favor, não temos onde ficar esta noite... -disse tentando convencer.
- Eu e minha irmã precisamos dormir, ela é uma criança, só tem 6 anos. Por favor...
- Eu não sei... -disse. -Onde estão seus pais? -perguntou a mulher com um ar de arrogância.
-Eles... -Travei na hora de dizer a verdade. -Eles morreram. -disse com toda a tristeza tomando meu coração.
- Vocês deviam estar com um parente mais próximo, ou em um orfanato. Não deveriam estar aqui. -disse ela, agora aumentando o tom de voz.
-Vou ligar para o juizado de menores. Eles saberão o que fazer com vocês duas. -disse já decidida do que fazer.
Naquele momento tive que inventar alguma desculpa e convencê-la de que não seria necessário ligar para o Juizado de Menores. Se ela fizesse isso estaria tudo acabado, eu seria separada da minha única família: Minha irmã.
-Por favor senhora, por favor, não faça isso, eu posso pagar o dobro que todos pagam nesse hotel, eu prometo, por favor... -disse tentando ser convincente.
-Como pode pagar menina, posso apostar que vc não tem nenhum tostão nesse seu bolso. -disse a ruiva Sardenta debochando. -Eu posso te garantir que eu consigo $1200 dólares só nesta noite. Só quero que minha irmã fique segura, só quero que ela tenha um abrigo.
-$1200? - Você está muito confiante. -disse ela ainda debochando.
-Por favor, só preciso que confie em mim, eu te trago $1200 dólares esta noite. Se eu não trouxer, você pode ter certeza que eu vou embora com minha irmã por conta própria e não volto mais no seu Hotel.
-Tudo bem. -disse, agora meio rouca. -Eu aceito sua proposta. Você me traz $1200 dólares adiantados hoje, e a sua irmã passa a noite segura aqui. Estou confiando em você garota. -disse agora olhando no fundo dos meus olhos. -Se me enganar vou ter que ligar para o Juizado de Menores, eu não quero problemas pra mim.
-Pode ter certeza, não vou te decepcionar.
-Senhora? -perguntei me referindo ao nome da mulher ruiva.
-Pode me chamar de Teresa, só Teresa. -disse, dando uma bronca por eu tê-la chamado de senhora.
-Tudo bem Teresa. O meu nome é Jessy McCarther, e aquela é minha irmã mais nova, Jane. -disse, indicando minha irmã no quanto esquerdo do balcão.
Enquanto eu estava convencendo Teresa, minha irmã estava admirando os quadros que enfeitavam a recepção do Hotel. Jane sempre se interessou por Arte e pintura.
- Você pode acomodar sua irmã no quarto, mas depois vai atrás do meu dinheiro, quero ele ainda hoje. -disse Teresa com ar de ambição.
-Pode deixar, vou tomar um banho e colocá-la na cama. Eu te prometi não prometi? Pode ficar sossegada, vai ter o seu dinheiro ainda hoje.
Depois de toda a conversa difícil, finalmente Teresa me entregou a chave do quarto que iríamos ficar, era o cômodo de número 73.
Primeiro dei um banho em Jane e coloquei ela para dormir, contando a história de conto de fadas que ela mais amava: Cinderela.
Só assim para ela entender que é uma criança e ainda ter esperanças que poderá ter um final feliz, mesmo com todas as dificuldades.
Ainda não tinha pensado em como conseguiria $1200 dólares para Teresa. Teria que pensar em alguma maneira de conseguir esse dinheiro, senão não teríamos nenhum lugar para ficar durante os próximos dias. Tomei um banho quente, vesti um vestido que era de minha mãe e que ficava enorme em mim, penteei o cabelo e me olhei no espelho. Mesmo vendo o meu reflexo, não tive nenhuma idéia brilhante. A minha única chance era sair nas ruas de Nova York para tentar conseguir o dinheiro.
Saí do quarto e deixei minha irmã dormindo tranquilamente. Desci pelo elevador, e passei por Teresa que estava tão "animada" com um rapaz alto e moreno que nem notou minha passagem pela recepção.
Pelas ruas da cidade, percebi que tudo era iluminado e movimentado, as luzes de Nova York chamavam a atenção por toda a parte. A última vez que andei pela cidade, foi com minha mãe, quando ela foi em uma loja comprar presentes de Natal. Lembrando desse dia, tudo veio a tona, toda a tragédia do acidente, a morte dos meus pais, tudo foi se transformando em cinzas novamente.
Focada novamente em meus objetivos, percebi que o único jeito de conseguir dinheiro era pedindo na rua. Muitas pessoas que passavam por mim, mostravam desprezo, algumas até me ajudavam e colaboravam comigo, me doando 10, 30 dólares, não passava disso.
Percebi que não conseguiria juntar $1200 dólares na noite e então comecei a chorar, não consegui me segurar.
Depois de alguns minutos chorando, percebi que alguém estava se aproximando de mim. Pelas pernas turvas vi que era uma mulher. Levantei a cabeça e conclui que era uma jovem loura e magra que deveria ter minha idade. Ela era muito bonita, tinha os cabelos louros e lisos, e estava vestindo uma roupa não muito apropriada para a sua idade. Com uma saia de couro preta curtíssima, uma mini blusa vermelha e um salto enorme, a moça parou e me encarou.
- Por que está chorando garota? -perguntou ela, e então percebi que estava mascando chiclete.
- Por que quer saber? -retruquei
- Só quero te ajudar, estou te observando a alguns minutos e percebi que está pedindo esmola na rua. Acho que você não precisa disso. -disse ela dando um meio sorriso.
-Preciso de $1200 dólares ainda está noite. -disse me referindo ao dinheiro do Hotel.
- Você pode conseguir este dinheiro se vier comigo. - Meu nome é Melanie Fire, mas pode me chamar de Mel, esse apelido são para os mais íntimos. -disse ela, de um jeito engraçado.
-Como posso confiar em você? - Para onde quer me levar?
-Acho que você está fazendo muitas perguntas para quem precisa de uma quantia tão grande em dinheiro esta noite. -disse, me deixando sem palavras.
Melanie segurou o meu braço e foi caminhando em direção a um lugar que eu não conhecia.
-Será que você pode me dizer para onde está me levando?
-Estou te levando para um lugar onde vai ganhar muito dinheiro, muito mais que $1200 dólares. ---Com esse seu rosto lindo e jovem vai conseguir muito dinheiro, assim como eu consigo todas as noites.
Quando ela terminou de falar a última frase eu percebi a qual lugar ela estava se referindo e o que ela fazia para conseguir tanto dinheiro:Ela era prostituta.
- Eu sei o que você faz, eu não vou me prostituir, não vou vender o meu corpo para conseguir dinheiro.
- Garota, olha, é sua única opção se quer ganhar dinheiro na sua idade. Pelo que eu percebi você está fugindo de alguém ou até mesmo do juizado de menores, então se quer ganhar dinheiro, está é sua única opção. -Ou você vem comigo, ou não vai conseguir este dinheiro, você decide, não vou te obrigar a nada. -disse ela, agora soltando o meu braço.
Enquanto Melanie falava, um filme passava pela minha cabeça. Pensei na trágica morte dos meus pais, nas semanas que minha irmã ficou em coma, na rejeição dos nossos parentes, no orfanato que mudaria o destino da minha vida, e por último na conversa definitiva que tive com Teresa na recepção do Hotel, do dinheiro que prometi trazer ainda naquela noite. Depois de refletir todos esses acontecimentos, não teria como recusar a proposta da garota.
-E ai? Já decidiu o que quer? -disse Melanie já sem paciência.
- Eu... -Travei mais uma vez quando fui responder. - Eu aceito. -E então não teria mais volta, por $1200 dólares eu iria me prostituir, transar com homens mais velhos que eu nem conhecia para garantir o meu futuro e de Jane.
-É assim que se fala garota, você vai ganhar muito dinheiro, pode apostar. Até esqueci de perguntar o seu nome.
- Meu nome é Jessy McCarther.
-Jessy. Até que é bonito, mas temos que arrumar um nome de guerra pra você.
-Como assim "nome de guerra"?
- Você tem que ter um apelido picante no seu sobrenome, como o meu Mel Fire, fogo, entendeu?
-O nome pode ser Garota Mascarada
-Garota Mascarada? Você está brincando né?
Vai usar máscaras?
-Bom, é essa a idéia, ninguém pode me reconhecer, sou menor de idade e estou sendo procurada.
- Procurada? Como assim?
- Você acertou quando disse que eu estava sendo procurada pelo Juizado de Menores. Na verdade não sou só eu, minha irmã também, nos fugimos de um orfanato afastado da cidade e agora eles vão procurar a gente até achar, eu não posso dar bandeira.
- O que aconteceu para você e sua irmã entrarem em um orfanato?
-Bem, é uma longa história.
-Pode contar.
Enquanto eu contava para Melanie sobre a morte dos meus pais e a causa por eu estar atrás de dinheiro, chegamos eu um local que parecia ser um Bataclan, um lugar que mulheres como a Melanie viviam para garantir dinheiro.
- Eu sinto muito pelo seus pais. -disse ela se referindo a história que eu contei. -Bom, chegamos.
-Onde estamos? -perguntei
-Estamos no Bataclan, a maior casa de shows de Nova York. Trouxe você aqui para mudar de roupa e mudar de identidade. Como você disse, agora você se chama Garota Mascarada.
-Mas eu não tenho roupa, nem a máscara.
-Pode ficar tranquila, temos tudo aqui. -disse Mel toda eufórica.
O Bataclan era um espaço enorme, estava tocando muitas músicas, a maioria sensuais, muitas mulheres estavam se preparando para o show da noite, algumas estavam se maquiando, outras estavam ensaiando no Pole Dance.
As luzes daquele lugar me faziam piscar várias vezes, tudo era colorido e cheio de alegria, nem parecia uma casa de shows proibida.
- Está gostando? -perguntou Melanie animada
- É bem diferente dos lugares que eu frequento mas eu sei que preciso me acostumar. -respondi mostrando-me sincera.
-Vamos, tenho que te levar para conhecer o nosso chefe.
-Chefe? Achei que você e todas essas garotas trabalhavam por conta própria.
-Quem você acha que paga o nosso salário? -Os nossos clientes pagam pela noite mas quem trabalha no Bataclan ganha um dinheiro extra. -disse Mel com um sorriso torto.
A caminho da sala do "Chefe" percebi que muitas mulheres, algumas mais velhas, me encaravam feio, acho que não foram realmente com a minha cara. No corredor da sala existia muitos quadros estampados que certamente valiam uma fortuna, as paredes do corredor eram de um vermelho chamativo, e as lâmpadas eram todas emolduradas por um lustre feito de cristais.
Quando chegamos em frente a porta do escritório do chefe, Mel olhou-me, e tive a impressão que queria dizer algo.
- Você quer dizer alguma coisa. -disse. -O que tem para me dizer? -perguntei com dúvida.
-O Dr. Russel é um homem muito deselegante, ele vai perguntar muitas coisas pra você que vão te deixar um pouco constrangida. Você só vai conseguir este emprego, se passar pelas perguntas teste dele.
Tentei prender a respiração por um minuto e fiquei totalmente tensa quando Melanie me disse que eu teria que responder perguntas deste homem poderoso.
- Eu vou conseguir passar nesse teste, minha vida vai mudar depois que eu entrar nesse Bataclan... -Eu sinto isso. -disse confiante.
-Vamos lá..
Melanie abriu a porta e logo o Chefe olhou. Ele era desprezível, deveria ter pelo menos 45 anos, era careca e um pouco barrigudo.
-Bom, desculpe atrapalhar Dr. Russel, eu vim trazer uma nova candidata para trabalhar no Bataclan. -disse Melanie meio nervosa, parecia que ela tinha medo dele.
- Que ótimo. -disse ele com olhos arregalados em mim. -Mais uma linda jovem para o meu pequeno clube. -Sente-se fique a vontade.
Sentei-me na cadeira de frente para a fera. Percebi que o escritório era completamente rústico, com muitas obras de arte, a mesa de vidro continha vários objetos, na parede ao fundo um quadro revelava o que parecia ser a família de Russel.
- Melanie, você pode voltar a seus afazeres, vou ter uma conversa com a nossa pequena novata.
-Sim Dr. Russel. -disse Mel um pouco preocupada.
-Espere. -disse ele acendendo um cachimbo.
-Depois. - Você sabe o que tem que fazer. -disse Russel com um sorriso malicioso.
-Claro, com licença.
Depois dessas últimas palavras Melanie saiu e fiquei sozinha com o homem que decidiria o meu futuro.
-Vamos começar, primeiro quero saber o seu nome, depois vamos para as perguntas sérias.
- Meu nome é Jessy... -engasguei. -Jessy McCarther.
-Jessy, nome bonito, bom não vou perder nosso precioso tempo perguntando o que você fez para escolher esse caminho, quero saber sobre a sua intimidade. E você tem que falar a verdade. -disse ele, fazendo-me tremer as pernas. Já poderia imaginar o que ele me perguntaria.
-Quantos anos você tem?
-Tenho 16 senhor.
- Não me chame de senhor, pode me chamar de Oliver, você é única pela qual darei esta intimidade.
- Claro, me desculpe Oliver.
-Vamos continuar. - Com 16 anos, imagino que você nunca teve relações sexuais com um homem, estou certo?
Esta era a pergunta que eu mais temia, e com medo das consequências tive que responder me tremendo toda.
- Eu... - Não estava conseguindo terminar. - Eu sou virgem, se é isso que quer saber.
- Era de se esperar. Bom se você quer trabalhar no meu Bataclan tem que ter experiência com os clientes. -disse ele me deixando ainda mais nervosa.
- Eu prometo que vou conseguir satisfazer todas as vontades de todos os clientes Oliver.
-Como você diz isso garota, você nunca se deitou com um homem na vida. -disse ele me pondo contra a parede.
- É só questão de tempo, eu posso aprender.
- Você vai aprender, e eu sei muito bem quem vai te ajudar. - disse ele me deixando com medo.
- Como assim? Quem vai me ajudar? - disse questionando todas as minhas dúvidas.
- Chega de perguntas garota, você verá. Você não vai fazer nenhum programa hoje, depois que tudo acabar e o Bataclan fechar espere aqui, vou trazer uma pessoa que vai saber lidar com a sua situação. -disse ele, falando com autoridade.
Depois que saí da sala me senti com medo e insegura, Oliver Russel com certeza estava se referindo a minha primeira vez, e eu podia sentir arrepios só de pensar quem ele arrumaria para o meu momento que não seria mais especial.









Garota MascaradaOnde histórias criam vida. Descubra agora