Era um bela tarde no rio de janeiro, Elizabeth, uma garota de dezenove anos com seus longos cabelos loiros e olhos azuis, que cursava medicina na UFRJ faziam três meses, estava voltando pra casa de sua faculdade, como fazia todo dia. De onde estava, conseguia ver o sol se pondo no belo céu alaranjado, sumindo no corcovado, abaixo da mão do cristo redentor. Perdeu alguns minutos observando a cena, mas quando percebeu que havia perdido bastante tempo, prosseguiu seu caminho.
Pouco tempo depois, percebeu que estava sendo perseguida, um homem do outro lado da rua constantemente a encarava, enquanto sentia a presença de alguém atrás dela.
"O que? Tem alguém me seguindo?" - pensou Beth
Ciente dos vários casos de violência sexual, começou a entrar em pânico, e andar mais rápido, mas em vão, pois os perseguidores aumentaram os passos também. Desesperada, começou a correr em direções aleatórias, mesmo sem conhecer totalmente a cidade, já que havia se mudado recentemente.
"Onde eu estou? Socorro, alguém me ajude, alguém por favor." - repetia várias vezes suas suplicas mentalmente.
Para a tristeza de Beth, acabou parando em um beco, e teve que dar meia volta, mas era tarde demais, pois os dois perseguidores se tornaram três, e estavam cercando a pobre garota.
- O-o que vocês querem? - o pânico fez Beth gaguejar.
- Que gostosa lesk, você vai sê bem obediente, ficá bem quétinha, tá ligada!? - tinha um sotaque irritante.
A cada passo que algum dos assediadores dava, era um passo de Beth pra trás, a qual rapidamente perdia território.
- Saiam! Saiam daqui! - desesperada e choramingando, beth ficava cada vez mais desesperada.
Antes que os assediadores pudessem reagir, alguém com a agilidade de uma pantera caiu dos telhados laterais, pousando exatamente em cima do homem do meio, o salvador estava com um casaco roxo escuro bem sujo e uma calça tactel preta, fazia movimentos precisos, derrubou facilmente o segundo bandido com um gancho perfeitamente dado. No meio da confusão, o ultimo dos perseguidores puxou um pedaço de ferro e tentou atingir o pescoço do homem misterioso.
- Cuidado! - Beth gritou por impulso para ajudar seu herói.
Com seus reflexos gatunos, virou-se de frente para o agressor e desviou curvando suas costas para trás, e seu capuz acabou se soltando, era um rosto familiar para Beth, mas antes que pudesse analisar mais a face do rapaz, o mesmo deu um mortal pra trás e chutou o queixo do ultimo homem. O herói botou seu capuz de novo, mas já era tarde, a garota o havia reconhecido, e quando foi começar a correr, Beth acabou por segurar em seu braço, e puxou o capuz, mas seu braço foi segurado pela grande mão do rapaz.
- Ryan? - Beth pronunciou o nome com uma voz pesada, ainda em choque com o que havia acontecido.
O garoto tentou se desvencilhar dos braços de Beth, com sucesso, mas logo após foi puxado e abraçado por trás.
- Ryan, você sumiu! Me abandonou, não cumpriu nosso trato! - Beth já não sabia mais se estava chorando pelo reencontro, ou se era pelo ataque mal-sucedido dos maníacos.
- Não conheço esse tal de Ryan, desculpa. - o garoto tirou os braços da garota de si, e escalou o muro do lado.
Conseguiu chegar em casa tranquila, sem mais interrupções, vivia apenas com seu pai, que não se encontrava no momento, mas teve dificuldade em dormir, rolava de um lado pra outro na cama, e quando dormiu sonhou com sua infância, mas exatamente aos seus dez anos.
- Mas eu não consigo, é muito difícil lembrar de tudo! - resmungava Beth.
- Mas tem que estudar! Eu acredito em você! - uma voz de garoto tentava anima-la.
- Você acha mesmo que eu consigo passar pra medicina?
- Nos vamos passar juntos, e nos tornaremos os melhores médicos do mundo!
- Então eu poderei me casar com um ator bonitão? - os olhos de Beth brilhavam.
- Não! Você vai se casar comigo! - Ryan gritou contestando. - PI PI PI PI! - a voz de Ryan se misturou com o despertador.
Beth fez sua rotina normal pós acordar, e foi para aula, perdida nos pensamentos sobre o dia anterior, quando saiu, pegou um caminho mais movimentado pra casa. O caminho que havia tomado, passava na frente da favela, e olhando de relance, viu o mesmo garoto de casaco roxo sujo, dessa vez sem capuz, era sem duvida Ryan, sempre apoiou Beth para se tornar médica, e sempre explicava pra ela a matéria que precisasse, seu rosto havia mudado pouco, mas estava com cabelo meio raspado, com uma barba tipo âncora. Para infelicidade de Beth, Ryan guardou algo no seu bolso enquanto entregava dinheiro a um outro homem bem suspeito.
Mesmo com os acontecimentos do dia anterior, se aventurou favela adentro, para falar com seu antigo amigo. Pegou-o de surpresa enquanto se afastava do seu fornecedor, e o agarrou pelo braço o encarando seriamente.
- Pois não senhora?
- Para de brincadeiras Ryan, o que você guardou no bolso?
- Ryan? Do que esta falando moça? - mesmo na favela, tinha um vocabulário bem rico pra ser um ladrão.
Começou a puxar Ryan, para fora da da favela, e o homem foi sem lutar, talvez para não machucar a amiga. Entrou em um beco e o colocou Ryan na direção da parede, ficando na mesma posição que seus perseguidores do dia anterior.
- Ta bom Beth, eu posso expli-. - foi cortado por um caloroso abraço de Beth.
- Eu senti tanto a sua falta, seu idiota! - Beth começou a chorar. - Eu consegui entrar na UFRJ, cumpri nossa promessa.
Nesse momento, Ryan calmamente tirou os braços da garota de sua cintura e botou ambas as mãos nos ombros de Beth, encarou o chão e respirou fundo, então tornou a fitar a agora mulher na sua frente.
- Desculpa Beth, esse é um caminho que não posso seguir...
- O que? Foi uma promessa!
- Uma promessa tão frágil quanto vidro. - respirou fundo novamente. - Apenas, me desculpe.
Após falar aquilo, saiu correndo beco afora, e pela segunda vez na vida, Beth perdeu seu amigo, mas dessa vez, o viu ir embora diante seus olhos.