Capítulo 7 - Confissões

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Abri os olhos, confusa, esperava acordar em casa. A luz me atingiu do mesmo modo que a luz vinda da estrela e achei que estava sendo levada de volta para casa, mas ao encontrar os olhos lilases de Max, me olhando aflitos, fiquei imensamente feliz por não ter voltado.

__Vic, você está bem? – ele me mantinha em seus braços ainda com parte do meu corpo no chão. Estranhamente eu não conseguia sentir a calma que normalmente sentia quando ele me tocava, meu coração estava disparado e um temor crescente me assaltou.

__Max! Afaste-se dela! – seu pai e sua mãe lhe pediram enquanto me ajudavam a levantar.

__Estou bem. – eu disse procurando por ele. __Está tudo bem. É sério. Eu só fiquei tonta, a luz era muito forte. – fui retomando o controle de minhas emoções, não estava mais com medo, só cansada.

Eles então me levaram de volta ao meu lugar. Enquanto me faziam sentar, percebi que trocavam algum comentário entre eles que não pude ouvir. Ariadne e Erasmos pareciam assustados e Max, mesmo longe de mim, era possível perceber sua respiração alterada, o rosto contorcido como se sentisse dor.

O Conselho de anciões se levantou devagar e Adelfo voltou-se para mim. Celandine com seus cabelos de luz me olhava com uma expressão que não pude definir, espanto e surpresa, talvez.

__Victória. – O ancião me chamou. __Volte para casa de seus anfitriões e aguarde minha visita amanhã.

Levantei-me depressa e quase caí, fui amparada por Ariadne. Max estendeu as mãos, mas não me tocou, seu pai o repreendeu com o olhar. Eu estava tonta e confusa, não estava entendendo nada.

Saímos do Templo e fomos andando devagar pelas ruas escuras, o vento estava frio e envolvi os meus braços em meu corpo tentando me aquecer. Max aproximou-se e sua mãe deixou que ele me ajudasse o resto do caminho, ele abraçou-me de lado e senti meu corpo se aquecer.

__O que aconteceu lá dentro? – perguntei baixinho, com medo que seus pais, que iam à frente, pudessem me ouvir. Como se eles não pudessem ler meus pensamentos se quisessem.

__Você absorveu grande quantidade de energia de uma única vez. – ele disse também baixinho. Seu rosto voltado para baixo a me olhar com preocupação, senti uma estranha vontade de lhe tocar o ponto onde suas sobrancelhas se uniam em uma ruga, que lhe deixava com aquela aparência de mais velho do que realmente era.

__Eu senti um choque, pensei que fosse voltar para casa quando a luz me envolveu. Foi como ver a estrela outra vez.

__Quer tanto assim voltar pra Terra? – ele me perguntou com tristeza voltando a olhar para frente.

__Sim...não sei...eu... – me senti sem palavras, eu queria voltar pra casa, mas ao mesmo tempo não queria ir embora. Ficamos calados por mais algum tempo até que perguntei: __O que deu errado? Era pra ter acontecido o que aconteceu? Aliás, o que aconteceu?

__Você desmaiou. – ele disse sem olhar para mim.

__Por muito tempo?

__Tempo suficiente.

__Suficiente? – perguntei confusa.__ Para quê?

__Para me deixar preocupado. - ele falou com uma expressão de desagrado e eu me pus a pensar. Então foi isso que aconteceu? Ele ficou preocupado comigo.

__Quando perguntei o que aconteceu me referia a outra coisa. – falei voltando ao assunto.

__A quê? – ele me olhou sem entender.

__Por que seus pais o afastaram de mim?

Ele ficou visivelmente constrangido com minha pergunta e levou algum tempo até responder. Eu não insisti, mas ele sabia que eu aguardava uma resposta.

__Por que não consegui controlar minha apreensão e estava deixando você mais nervosa e confusa. – ele disse e não me olhou nos olhos, até que chegamos a sua casa.

Ainda estava tonta com tudo que aconteceu e também por saber que Max ficou preocupado comigo, olhei ao redor procurando por ele, mas Ariadne me levou até a mesa e me fez sentar.

__Precisa comer algo. – ela disse e foi para o fogão, rapidamente o acendeu e pôs uma panela contendo sopa para esquentar.

__Acho que não estou com fome. – falei e me virei à procura de Max. Ele estava encostado à parede, bem distante de mim, mantinha os braços cruzados sobre o peito e os olhos fechados. Voltei a olhar para Ariadne e Erasmos que conversavam através da mente. Apesar de não poder ouvi-los podia perceber pela expressão em seus rostos que conversavam sobre mim. Pareciam preocupados e isso me fez tremer de medo, então ela olhou para mim e sorriu.

__Está tudo bem querida, não precisa se preocupar. – ela se aproximou e depositou um prato de sopa e um pedaço de pão a minha frente. __Tome, coma e depois iremos dormir. Olhei novamente para Max e seu pai fez o mesmo e com um movimento de cabeça o mandou subir.

__Ele não fez por mal. – eu disse tentando defendê-lo.

__Nós sabemos, querida. – ela sorriu de forma maternal e eu comecei a comer. Na verdade, eu precisava mesmo comer, só percebi que estava com fome depois que senti o cheiro da comida.

Mais tarde, depois que devorei a sopa e o pão, Ariadne me levou ao meu quarto, me mantendo distante de seu filho.

__Se precisar de alguma coisa é só chamar querida.

__Está tudo bem? – perguntei antes que ela saísse do quarto.

__Sim, não se preocupe, deve descansar agora.

__Fiz algo errado lá no templo?

__Claro que não! – ela disse e se aproximou de mim envolvendo suas mãos em meu rosto. __Você foi muito bem.

__Por que Max parece aborrecido comigo?

__Não é com você que ele está aborrecido, minha filha. Agora pare de se preocupar e vá dormir. – ela me beijou no rosto como vinha fazendo e saiu do quarto fechando a porta. Ouvi um ronronar no canto do quarto e ele surgiu das sombras. Taki pulou sobre minha cama e começou a se lamber, deixando seu pelo molhado onde sua língua áspera passava penteando os fios cinzas de sua pelagem. Suspirei e me sentei ao seu lado, já me acostumando com sua presença felina.

__Oi Taki, será que você pode me explicar o que eu estou fazendo aqui? Quero tanto ir pra casa, mas sinto meu coração doer quando penso em Max. É loucura demais achar que estou me apaixonando por alguém que conheci ontem pela manhã?

Taki parou de se lamber e miou para mim, como se tivesse entendido o que perguntei, levantou-se e se enroscou ao meu lado esfregando sua cabeça em meu corpo. Talvez quisesse dizer que era solidário em minha angústia. Escorreguei sobre a colcha e nem sequer troquei de roupa. Não levei muito tempo para dormir, eu estava tão cansada, deitei e apaguei no mesmo instante.

Andirá - a jovem da profeciaOnde histórias criam vida. Descubra agora