Capítulo 11

177 23 0
                                    

— A contragosto do marido, Amanda pediu para ir com ele ao médico no dia em que teriam o resultado do exame de espermograma. Antônio aguardava nervoso enquanto Amanda conversava animadamente com a secretária que conhecia havia tempos. Antônio a observava, esperançoso. Aquela tranquilidade toda podia lhe dizer alguma coisa, mas ainda assim ele sentia-se como um peixe fora d'água.

— É a vez de vocês — informou a moça gentilmente. Amanda olhou para ele e acenou para que fossem. Levantando-se, Antônio a seguiu calado.

— Bom dia! — disse o médico quando ambos entraram. Amanda ainda permanecia muito magra e o profissional não sabia de sua gestação.

— Vamos ver o que os exames nos dizem. Ele abriu o envelope levado pela secretária e começou a ler as informações.

— Bom, pelo que me falou, você já sabia da provável infertilidade, não é mesmo, Antônio? — Amanda estranhou aquela frase.

— Sim, tempos atrás um médico me disse que a possibilidade de eu ser pai era quase nula.

— Me parece que ele falou mesmo a verdade. O espermograma confirma sua infertilidade, filho. — Antônio ficou calado e nem por um segundo desviou seus olhos para Amanda. Ele estava pálido e ela não acreditava no que ouvira.

— Há alguma possibilidade de esse exame dar errado, doutor? — perguntou ela sem receio.

— Sim. Existem fatores como estresse, o nervosismo durante o processo que podem interferir nos resultados. Estamos falando de algo muito frágil e instável.

— Podemos solicitar um segundo exame? — A conversa seguia entre Amanda e o médico.

— Não só pode, como deve. Sempre indicamos quando o primeiro resultado não é positivo. — O médico olhou para Antônio com um sorriso terno.

— Não acredito que esteja errado. Esse já é o segundo, doutor — disse Antônio por fim.

— Sim, mas isso foi há anos e a tecnologia está mais avançada. Você pode fazer novamente em 15 dias em média e, caso ainda não esteja satisfeito, podemos fazer mais uma vez.

— Nos faça a solicitação, doutor — pediu Amanda.

— Lembrando que o período de abstinência sexual precisa ser entre dois a sete dias. Se puderem ficar cerca de cinco dias, seria muito bom. — Amanda movimentou a cabeça positivamente. Estava certa de que teriam esse período sem problemas devido ao afastamento deles.

Quando saíam da clínica, Antônio permaneceu calado até entrarem no carro.

— Talvez devêssemos deixar para lá, Amanda. Eu sinto muito, mas você me conhece bem e sabe que não desejo passar por isso mais uma vez. Já foi demasiadamente ruim nas duas que precisei. — Amanda expirou suavemente para não se alterar.

— Espere o próximo exame — pediu ela.

— Não passarei por isso novamente. Para mim é o fim. Ficamos por aqui. — Uma dor quase insuportável o impediu de concluir sua frase. Imaginar-se sem aquelas três pessoas o machucava muito. Mas seria melhor que criar um gelo de mágoa e rancor entre eles.

— Como assim, Tony? — Amanda não queria acreditar no que ouvia.

— Eu tentarei entender suas escolhas depois que eu me afastar. Mas peço que me deixe ver as crianças. Em especial a Isabelle, porque a registramos juntos e aquela criança certamente será minha única referência futuramente. — As palavras dele a atingiram como um soco.

— Você está sendo infantil, Tony. Espere o outro exame e, quem sabe, o de DNA daqui há mais de um mês.

— Não posso esperar tanto, Amanda. Desculpe-me, mas quero o fim do nosso casamento. — Ela podia ver lágrimas nos olhos dele, mas Antônio forçava-se para não deixá-las cair.

Muito Além das aparências - Livro II da Série  AparênciasOnde histórias criam vida. Descubra agora