UM DIA DE BRASIL

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Aos poucos vou despertando, minha visão está turva. Começo a sentir dores por todo o meu corpo. Respiro fundo, e com os olhos cerrados, em virtude da claridade que entra pela janela, tento descobrir onde estou. É um vão em construção, acho que será um quarto. As paredes não estão rebocadas, o chão ainda está em concreto, a própria janela não possui os vidros. No canto oposto, vejo que há madeiras entulhadas, restos da obra. Escuto alguém falando, acredito que ao celular, em outro ambiente do local.

Cada pedaço do meu corpo dói. Sinto que minha cabeça lateja, foi essa dor que me fez acordar, agora percebo isso claramente. Vou levar as mãos à cabeça, mas a mão direita não vem, está presa – olho e vejo que está algemada em uma barra de ferro, que serve como alça de uma peça gigantesca de concreto, uma espécie de tampa de bueiro, na qual agora vejo que estou sentado em cima. Meu pulso algemado está roxo. Há escoriações pelo meu braço, sangue seco. Noto que não consigo abrir totalmente o olho esquerdo, acredito que está inchado.

Mas afinal, o que ocorreu comigo? Lembro-me de estar retornando para casa em meu carro, lembro do meu motorista conversando algo comigo, mas o resto eu não consigo lembrar. Agora acordei aqui, todo machucado... o que diabos aconteceu?

Levo a mão livre à nuca, então gemo de dor – há um calo enorme em minha cabeça.

- Acho que o cara acordou, Rocha, escutei algo vindo de lá – falou outra voz.

- Vou ter que desligar agora, ele acordou. Daqui a pouco te deixo a par – falou a primeira voz.

Escuto os passos vindo em minha direção, um medo imenso toma conta de mim, um frio percorre todo meu corpo a cada passada que escuto. De repente entram dois homens, ambos vestidos com uniforme da polícia militar. Em uma fração de segundos, ao encarar seus olhares, eu percebo que eles não estão ali para me ajudar.

- Hora, hora... a donzela acordou novamente, Santos – a voz que falava ao telefone, que deveria ser o Rocha, é quem se dirige a mim.

- Esse filho da puta vai querer apanhar mais ou vai abrir o bico? – Santos completa.

Permaneço em silêncio.

- Escuta aqui seu viado – Rocha aproxima-se e puxa meus cabelos, a dor é imensa – você vai falar onde está o dinheiro, porque vou começar a arrancar pedaços de seu corpo e você vai sofrer bastante, isso eu te garanto.

Dinheiro. Alguns flashes bombardeiam minha mente. Eu fui sequestrado por quatro homens, que cercaram meu carro, que é blindado, mas eles possuíam armas de alto calibre e deram um tiro de advertência, que atravessou a blindagem do veículo. Me lembro que me rendi e que fui trazido junto com meu motorista.

- Eu não sei do que você está falando – menti, pois agora sei que essa informação é a única que me mantém vivo.

- Você não sabe... – Rocha saca a pistola, tudo que ele quer é me assustar – qual dedo você quer perder?

Não gostei da pergunta, ele de fato está me assustando.

- Vem Santos – ele dá a ordem para seu parceiro, que senta-se por trás de mim e me dá uma chave de pescoço, ao mesmo tempo que prende meu braço livre.

Eu entro em desespero. Esse desgraçado vai realmente atirar em mim! O brutamontes posiciona a ponta do cano da pistola no osso da ponta do meu indicador, e apesar de toda a minha luta para dificultar a ação, ele dispara. A dor é ainda pior que o pavor. O grito que dei foi tão forte, que consumiu o resto de energia que eu possuía. Cai novamente, e apesar de não estar desmaiado, eu estava mole. Já passei por muitas coisas ruins e nunca havia chorado, mas desta vez eu chorava de ódio.

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⏰ Last updated: May 09, 2016 ⏰

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