Uma leve chuva caia e salpicava os telados, árvores, asfalto e o capô de alguns carros que estavam estacionados na rua. Era mais uma noite de inverno. Muitas pessoas consideram a chuva um clima agradável, para dormir, outras para ler, outras simplesmente não gostam, devido ao barulho de chuva intercalado de trovões e relâmpagos que cortam o céu.
E ali naquela noite chuvosa uma pessoa em particular não admirava a chuva de nenhuma dessas formas, nem se quer sentia os pingos grossos que caia a sua frente ensopando o telhado. Bernard passava mais uma noite em claro, naquela gélida chuva de inverno. O frio que parecia emaranhar-se entre cada pelo do seu corpo, as luzes lá embaixo lembravam-lhe daquela noite, muito embora houvesse bem mais luzes, bem menos chuva, bem mais surpresa e bem menos solidão. Este ultimo pode ser bem relativo.
Bernard havia terminado o namoro, ou melhor, a namorada terminara com ele para ficar com o cara que ele sempre considerou ser seu melhor amigo, mas que agora ele percebeu que não passava de um babaca. Ou talvez o próprio Bernard tenha sido o babaca. Mas não fora só isso, sua avó falecera duas semanas depois.
Sua avó era a pessoa que cuidava dele desde seus sete anos após a morte de seus pais. Então ele perdeu duas partes do seu mundo em menos de um mês. Após o ocorrido ele havia ido morar com seus tios. Os tios que sempre o trataram com frieza, que apenas lhe mandavam cartões de natal.
"Que tipo de tios manda cartão de natal para uma criança?"
Foi o que o rapaz começou a perguntar-se algum tempo depois de tomar consciência de algumas coisas.
No entanto não era isso que lhe assombrava a ponto de fazê-lo estar no telhado a uma da manhã, sob aquela chuva de começo de inverno. Bernard não conseguia dormir, não sem sonhar com ela. A garota de olhos caramelos quase amarelos e de pupilas pretas, quase em fendas. Olhos de serpente eram isso que seus olhos o lembravam. Exceto os olhos – e até esses o encantava nela – ele não sabia julgar em palavras o quanto ela era linda, só por esse fato ele acreditava que já deveria perceber que era um sonho, exceto pelo fato de que seu colega do judô, o nerd que ele nunca deu atenção, havia lhe perguntado por ela nas ultimas duas semanas.
Alguns meses atrás uma garota linda havia se inscrito na academia de judô. Laylin era esse seu nome – que ele só viria descobrir dias depois – e ela tinha feito par com Bernard no primeiro dia para iniciação dela, a garota estava só e ele foi forçado a fazer par com ela – embora ele não tivesse achado esforço algum – desde então sempre que a garota entrava no local e o via, encarava-o de um jeito escandalosamente furtivo, – se é que isso é possível. – mas nunca se aproximava e Bernard não iria fazer papel de bobo, pois somente nos seus sonhos uma garota tão linda como ela lhe daria bola.
Ela era esguia, mas sem ser magricela, pernas longas e torneadas nos lugares certos, cintura fina, cabelos longos cor de chocolate, boca carnuda e rosada, pele branca e olhos amarelos com Iris pretas, ou caramelos meio amarelados. Tudo bem podia não ser tão amarelo nem verde, mas era um cobre lindo. Tudo nela estava em seu devido lugar e emanava beleza, uma beleza expressiva, mas comedidamente recatada.
Bruce seu atual amigo nerd o incentivara a ir falar com ela.
--Vocês vão ficar só se secando ou você vai tomar uma atitude? – ele disse enquanto Bernard treinava alguns golpes com ele.
--Pensei que nerds não tivesse esse tipo de linguagem... – alfinetou-o.
--Pensei que caras como você tivesse mais atitude...
--Caras como eu?
--É do tipo desleixado, mas que sabe o que fazer na hora certa...
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PROJETO FICSTAPE
RandomEinstein dizia que se não fosse físico seria músico, porque ele pensava tudo em forma de música. A música é a tradução literária mais perfeita de uma infinidade de sentimentos, que nos transporta a um mundo só nosso, é um sonho melodioso daquilo que...