2- No vale da sombra

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Eles caminhavam por um corredor escuro, que tinha o mesmo estilo arquitetônico da sala onde pararam quando ela atravessou o portal por acidente com Andy. O corredor levava a uma porta.

- Precisamos passar por aqui antes de sair. Você não pode andar por aí trajando isso.

E ele apontou para a roupa simples que ela usava

- O que há de errado com a minha roupa?

- É que ela é muito humana. Entre - disse ele enquanto abria a porta - acho que você vai encontrar algo que sirva em você.

Ela entrou. Era um quarto, nele havia uma cama enorme e um armário que de alguma forma lembravam a era vitoriana, mas de uma maneira bem obscura.

Dentro do guarda roupa existia uma série de calças e saias de couro com correntes, e todas as blusas e camisetas pareciam mostrar a barriga, exceto os espartilhos, haviam muitas botas diferentes e luvas de varias cores e tecidos.

Dessa pegou uma calça de couro vermelho escuro, uma regata preta apertada e, um pouco transparente demais pro seu gosto, que não mostrava o umbigo. Colocou uma das luvas pretas e uma bota de cano longo.

Ela foi até a porta e abriu.

- Está certo?

Ele riu, e apontou para o cabelo pedindo que ela soltasse e pegou uma cartola bordô e vestiu nela.

- Agora até está parecendo um peregrinum.

- O que um peregrinum?- perguntou ela que finalmente percebeu que não havia perguntado quase nada para aquele estranho, e estava prestes a embarcar em alguma coisa que ela não fazia a menor ideia do que se tratava.

- São pessoas que tem permissão para viajar entre os mundos, assim como eu. Nós somos os responsáveis por manter o equilíbrio em Triantum. Nós não pertencemos a nenhum lugar, e ao mesmo tempo pertencemos a todos.

- Você é humano?

Ele riu de novo, mas dessa vez um sorriso deboche.

- Não. Nenhum humano consegue suportar a viajem por portais. Exceto é claro por você, algo que ainda está me intrigando.

Ele olhou pra ela da cabeça aos pés procurando algo de especial, mas só viu uma garota comum.

- Vamos, quem vamos encontrar não gosta de esperar. E a propósito, ele tem uma aparência muito diferente do que você está acostumada, tente agir com naturalidade. Quando voltarmos eu te explico melhor as coisas. Por hora apenas não faça mais perguntas.

Eles caminharam de volta pelo corredor e chegaram a uma grande sala onde havia uma enorme porta de madeira cheia de entalhes. Andy foi até a porta e abriu.

- Chegou a hora. Lembre-se, boca fechada e tente não demonstrar caso se impressione.

Eles caminharam para fora da casa e Dessa se viu de frente para uma rua estreita que lembrava muito as vielas da Toscana, não que ela já tivesse ido a Itália, tudo que sabia sobre a Europa vinha de livros e filmes, mas aquele lugar tinha um ar sombrio, não lembrava nem um pouco o clima dos filmes românticos que costumava ver.
O céu era escuro e cheios de tons de vermelho, como se houvesse fogo nas nuvens. Haviam corvos voando e grasnando, fazendo aquele lugar ainda mais tenebroso.

- Enquanto andamos vou te explicar algumas coisas.

Dessa se manteve atenta, finalmente teria algumas explicações.

- Como disse antes, Triantum é feita por 3 mundos. Esses mundos correspondem ao que vocês humanos chamariam de terra, céu e inferno - ela arregalou os olhos, concluindo então que estavam no inferno- mas não é como vocês imaginam. O Inferius é feito de energia negativa e as criaturas que vivem aqui também, mas não quer dizer que são necessariamente más. A energia negativa está presente na escuridão, aqui sempre é noite e os seres que habitam esse mundo são noturnos. Essas criaturas estão no folclore humano, como demônios por exemplo, embora não sejam exatamente como vocês imaginam. A noite as barreiras entre esse mundo e o seu diminuem e esses seres podem atravessar, porém eles devem voltar antes do amanhecer, senão ficarão presos no seu mundo e podem atrapalhar o equilíbrio entre os mundos além de serem mortos pela luz do dia.E um dos motivos de estarmos aqui é que o lugar esta meio vazio porque é noite no seu mundo. É dever dos peregrinum fazer com que eles não quebrem as regras, incluindo a de nunca revelar a verdade aos humanos.

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