Era outono quando a primeira pétala saíra de sua boca.
Do outro lado da rua, Park Chanyeol estava empoleirado em um banco de madeira.
Baekhyun tossia e tossia e mais pétalas voavam de sua boca, pairando em frente ao seu rosto. Pétalas de tulipa amarela como o sol nos desenhos de crianças. Ao seu lado, uma senhora o olhara espantada, seus olhos focados em Baekhyun expressavam uma tristeza sem tamanho. Baekhyun tossira todo o trajeto até seu apartamento, espalhando pétalas pelo caminho.
Baekhyun morava no 4B, Park Chanyeol morava no 5B.
Viam-se pouco. No elevador, um bom dia. No mercado da esquina, um olá.
Não se falavam muito, mas para Baekhyun, cada palavra é um mundo. Uma esperança no fundo do peito que talvez, um dia, quem sabe.
- Oi, Baekhyun. – a voz forte soara atrás de si, simpática como sempre.
- Oi Baekhyun! – a voz tão risonha, difícil de não sorrir ao ouvir.
Virara-se devagar. Park Chanyeol, Lee Kyungri. Mãos dadas, sorrisos felizes e exuberantes, rostos corados. A imagem do casal perfeito.
E Baekhyun sorrira.
- Oi Kyungri, Chanyeol. Como vão? – sua voz animada era tão falsa quanto seu sorriso, mas o casal não perceberia. Através do tempo, Baekhyun aprendera a agradar aos outros.
-
As pétalas não paravam.
Baekhyun podia sentir as flores crescendo dentro de si, sem parar. Não demoraria muito até que ocupassem completamente seu peito e lhe cortasse a respiração.
Não era estranho à doença. Hanahaki. A senhora Kim, dona da floricultura em que trabalhava, sempre o contara de como algumas pessoas que sofriam de um forte amor unilateral acabavam contraindo a doença. Baekhyun nunca esperou ser uma dessas pessoas.
Para a doença, só haviam dois caminhos: ser correspondido ou remover as flores e, consequentemente, a capacidade de amar. Baekhyun escolhera o terceiro caminho, o que ninguém falava a respeito: morrer de amor.
-
Era a terceira vez que Park Chanyeol aparecia na floricultura aquela semana. Comprara buquês para Kyungri. Tulipas amarelas, são as favoritas dela, dizia. Baekhyun achava irônico e de extremo mau gosto. A vida lhe pregava peças desde que se entendia por gente, não se surpreendia com mais uma delas.
As pétalas saíam constantemente agora e em maior quantidade. Brincava em sua cabeça que podia montar um buquê para Park Chanyeol, caso quisesse. E então se reprimia. Estúpido.
-
Park Chanyeol tinha olhos de vidro, brilhantes e escuros. Belos, Baekhyun diria. Eram tão intensos, tão distintos.
Park Chanyeol tinha sorriso de gato que comeu o canário, dentes brancos e enfileirados. Sorriso perigoso, mas ele não se dava conta. Park Chanyeol era, afinal, uma pessoa animada e feliz. Ninguém associaria perigo ao alto rapaz que cumprimentava a todos da rua pela manhã.
Baekhyun via perigo em Park Chanyeol. Ah, o jeito como ele andava, o modo de falar. A forma que ele olhava para Baekhyun com aqueles olhos de cachorro que caiu da mudança, pedindo por favor para que Baekhyun amarrasse o buquê com uma fita azul.
Como Baekhyun poderia evitar se apaixonar? A cada instante, cada minuto, tudo em sua mente gritava Park Chanyeol.
Quando acordava e ia para o banho, chorando um pouquinho em baixo do chuveiro. Quando deitava a cabeça sobre o travesseiro a noite e se contentava em imaginar o que poderia ser, o que nunca seria.
Era difícil, tão difícil, amar sem querer.
Ah, porque Baekhyun nunca quisera amar. Corria do amor como o diabo foge da cruz.
Ainda lembrava da vez que Kim Jongdae o convidara para um café no colegial. O rapaz era bom de mais, tão bonito, tão simpático e não demoraria para que Baekhyun se pegasse suspirando pelos cantos por Kim Jonhgdae. Baekhyun nunca aceitara o café.
Ah, mas como queria ter aceitado. Antes Kim Jongdae do que Park Chanyeol. Park Chanyeol, tão feliz com sua pequena noiva pendurada em seu braço.
Baekhyun já podia ver os dois morando em uma casinha de dois andares com varanda e cerca branca. Comeriam frango e arroz com legumes no almoço, torta de maçã para sobremesa enquanto seus filhos corriam pela casa preenchida com o riso exuberante de Park Chanyeol.
Baekhyun já passara da fase de escrever nomes na borda de folhas de caderno a muito tempo, mas havia algo sobre Park Chanyeol que o fazia repetir cada pequeno hábito de dez anos atrás.
Park Chanyeol.
-
Senhora Kim fora a única que percebera. O olhara triste, suspirara e então e se oferecera para montar o buquê de tulipas. Baekhyun agradecera e se trancara na estufa. Se permitira chorar por dois, três minutos. Senhora Kim aparecera na estufa e lhe chamara para conversar.
Duas semanas depois, Baekhyun marcara sua cirurgia.
Um mês depois, Park Chanyeol se casara.
Um mês depois, Baekhyun se despedira das flores.
-
Não doía. Para ser honesto, Baekhyun não sentia nada.
Ah, os sentimentos ainda estavam ali, ainda chorava com filmes antigos e sorria ao cantar La Vie En Rose para a Senhora Kim, mas não havia mais aquele salto em seu peito, aquele sufoco quando Chanyeol aparecia pela floricultura, pedindo um buquê bonito. Ele agora comprava rosas, camélias, cravos, azaléas, não mais tulipas. Agora Baekhyun via Chanyeol, e via olhos marrons, comuns e entediantes, sorriso um tanto forçado, branco de mais. Acabaram tornando-se amigos. Era simples.
-
Baekhyun fora o primeiro a perceber quando Chanyeol parara de sorrir. O primeiro a oferecer apoio quando Chanyeol aparecera chorando na floricultura, segurando fortemente entre os dedos uma pequena aliança, não que permanecia pesada em seu próprio dedo, mas a pequena e delicada que um dia enfeitara a mão de Kyungri. E Baekhyun se sentira triste pelo amigo, apenas triste.
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Foram cinco meses depois que começara.
Conversavam perto do balcão, Chanyeol o olhava estranho.
A pétala saltara da boca rosada, faceira toda. E Chanyeol lhe olhara, triste, murmurara.
- Eu sempre soube, Baekhyun.
E Baekhyun chorara. Porque era Park Chanyeol que agora soltava pétalas por sua boca, que olhava triste para Baekhyun e que o amara a algum tempo. O quão simples teria sido se Baekhyun houvesse dito algo antes, se tivesse deixado as flores crescerem em seu peito, só mais um pouquinho.
-
Park Chanyeol removera as flores de seu peito. Naquele dia, voltara para casa com um belo buquê de tulipas amarelas e entregara a Baekhyun.
Amor sem esperança, admiração sem limites. Era o que a Senhora Kim murmurava ao descrever as flores. Baekhyun sorrira.
Se aproximara de Chanyeol, lhe dera um cálido beijo nos lábios e então fora em busca de um vaso para por as flores.
Não havia mais esperança, Baekhyun pensara ao sentir os braços fortes lhe envolverem, mas sempre admiraria o amor que um dia nutrira por Park Chanyeol, de olhos comuns e sorriso, não mais forçado, porém muito branco.
Hanahaki Byou: doença do sistema humano em que o portador vomita flores, causada por severo amor unilateral. Para se recuperar, é necessário que o amor seja correspondido.
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Tulipas
FanfictionHanahaki Byou: doença do sistema humano em que o portador vomita flores, causada por severo amor unilateral. Para se recuperar, é necessário que o amor seja correspondido.