8| Stay awake

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"Everything is grey, his hair, his smoke, his dreams
And now he's so devoid of color
He don't know what it means
And he's blue"
                                    — Halsey

Como foi o seu final de semana? — pergunta Shay, assim que me sento ao seu lado no refeitório. Fiquei tão atarefada que mal nos falamos.

— Teve aquele jantar de caridade da minha tia e nada mais — digo dando de ombros. Cameron também dormiu lá em casa, sem camisa, mas isso você não precisa saber. — E o seu, como foi?

— Eu e o Nate tivemos que ir pra fazenda de uns tios em Minnessota — ela revira os olhos me fazendo rir de sua cara. — Não ria, foi uma tortura, acredite.

— Sabe aquela menina que senta atrás de nós nas aulas de química?

— A esquisita com óculos fundo de garrafa e cabelos sem pentear? — ela pergunta franzindo o nariz me fazendo rir novamente.

— Olha quem fala — reviro os olhos e volto a minha atenção para a bandeja do almoço. — Enfim, ela estava ontem no jantar de caridade. Ela consegue ser bem bonita quando se produz.

— Só vendo para acreditar, minha cara — diz. Eu pego um pedaço de frango o jogo na direção da sua cara. Ele bate na sua bochecha deixando uma mancha de molho.

— Ta sujinho aqui, olha — eu aponto pro seu rosto e ela dá um tapinha na minha mão. Só consigo rir da sua cara de retardada.

Olho para a porta do refeitório e o vejo entrando. As pessoas começam a cochichar e, provavelmente, falar coisas horríveis a seu respeito e ele apenas abaixa a cabeça. Eu me levanto para chamá-lo mas Shay me impede.

— Sei o que está tentando fazer mas, Sam, ele é perigoso... — ela me alerta.

Perigoso? Na minha opinião Cameron é apenas incompreendido. Ninguém sabe pelo que ele passa, muito menos eu, mas pretendo descobrir. Sei que por baixo de toda essa fachada existe um garoto vulnerável. E eu quero ajudá-lo.
Deixo Shay falando sozinha e ando até ele. Com seus fones de ouvido, ele estava sentado numa mesa sozinho enquanto revirava a comida de lá para cá. Sento-me ao seu lado e toco seus ombros.

— Oi — digo receosa. Não sabia se ele iria me responder ou me ignorar, como sempre faz.

— Oi — responde com um sorrisinho. Ele olha de um lado para o outro e então chega perto de mim para sussurrar algo em meu ouvido. — Olha, eu acho que não é bom você falar comigo publicamente.

— Porque? — eu pergunto franzindo as sobrancelhas. Ele respira fundo e abaixa a cabeça. — Me fala, Cameron. Uma hora ou outra você vai ter que contar.

— Okay, então vamos fazer o seguinte — revira os olhos e vira pra mim chegando ainda mais perto. — Se você sair de perto de mim agora, eu te conto tudo mais tarde.

— Tudo bem, — eu respondo com o coração acelerado. Tantas vezes insistindo e ele finalmente vai me contar. — Mas saiba que é você quem está se aproximando de mim — ele ri e eu me sinto feliz. A risada dele é melodiosa, boa de se ouvir, e saber que eu o fiz rir é melhor ainda.

— Estou falando sério, Samantha — ele me fuzila com o olhar, porém seu rosto transparecia divertimento. — Agora vai.

— Mas onde vamos nos encontrar?

— Eu vou até a sua casa, — mais uma vez, ele olha de um lado para o outro. — Fique acordada.

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Quando o ponteiro do relógio marcou uma e meia da manhã, eu cansei de esperar por Cameron e me virei para dormir. Estava totalmente furiosa, faltava muito pouco pra sair fumaça pelas minhas orelhas.

Meus olhos ficaram pesados e eu já estava quase dormindo, quando ouço barulhos de algo se chocando contra o vidro da sacada. Achei que minha imaginação, porém isso se repetiu até eu tomar coragem e levantar.

Assim que eu abro a porta, uma pedrinha bate na minha testa. Mas que merda?! Olho para baixo e arregalo os olhos quando o encontro prestes a tacar mais uma.

— Não se atreva — eu digo apontando o dedo indicador em sua direção. Ele ri e se aproxima da lateral da casa, onde havia uma escada de incêndio com acesso ao segundo andar. Vou para o quarto novamente e deixo a porta aberta para que ele entre. Assim o faz.

Tento evitar pensar no fato de que estamos sozinhos no meu quarto e respiro fundo. Sento-me na beirada da cama mas então me lembro que estou apenas de pijama e me cubro da cintura pra baixo.

— Você demorou muito — eu digo observando-o correr os olhos por todo o meu quarto. — Já estava quase dormindo.

— Eu disse para ficar acordada — ele diz dando um sorrisinho de lado. O silêncio toma conta do cômodo e eu percebo seu corpo ficar rígido. — Eu vou te contar tudo, mas eu... — hesita.

— Vou continuar ao seu lado, Cameron — completo.

— Meu medo é que você não acredite em mim — ele diz fazendo com que meu coração se aperte. Por fora ele é todo bad boy, se mostra impassível, porém por dentro é apenas um menino inseguro. Ele puxa o ar pelos pulmões e levanta os olhos para mim. — Eu estava no último ano, prestes a entrar pro ensino médio, quando tudo aconteceu.




Foi difícil para digerir tudo o que Cameron me contou.

Então, essa tal Morgana na verdade era a namorada dele que foi brutalmente assassinada numa festa, onde ele estava drogado, impossibilitado de ajudá-la, e assistiu à tudo tornando essa a causa de seus constantes pesadelos. 

Uau.

Não tenho muito o que falar, as palavras fugiram da minha mente depois de tudo o que eu ouvi. Porém eu acreditava nele. Acreditava na inocência de Cameron.

Eu iria ajudá-lo a provar tudo isso até a próxima audiência. Se a minha ajuda é necessária para que ele fosse inocentado, eu faria o possível e o impossível.

— Eu vou te ajudar — murmuro fazendo com que ele balance a cabeça negativamente. — Não importa o que você diga, Cameron, eu não estou pedindo a sua permissão.

Ele solta um riso nasalado e me encara por tempo o suficiente para fazer com que eu pare de respirar. Meu coração batia descompensado conforme eu ficava ainda mais ansiosa. Ansiosa por ele. Cameron levanta a mão e põe uma mecha do meu cabelo atrás da orelha. Sua atenção intercalava entre os meus olhos e minha boca, nos aproximávamos mais a cada instante.
Ele passa a língua entre os lábios e eu fecho os olhos, apenas aproveitando nossa proximidade.

Eu não sei muito bem por quanto tempo ficamos assim, porém meu cérebro parou de processar qualquer coisa desde o momento em que um beijo inicialmente casto foi depositado em meus lábios. Sua língua pede passagem e eu a cedo sem pestanejar. A sensação de seus lábios nos meus era indescritível.
Cameron puxa meus cabelos por entre seus dedos, o que me causa um leve arrepio na nuca. Prendo seu lábio inferior com os dentes assim que sinto sua mão vaguear por dentro da minha blusa. Ele pára a mesma em cima do meu seio direito e eu arfo em puro prazer. Seus beijos descem na direção do meu pescoço deixando uma trilha em lugares estratégicos.

Eu estava me sentindo no céu. Eu queria mais dele, muito mais. Mais dessa sensação maravilhosa que apenas ele conseguia me proporcionar. Esse sentimento de preenchimento, como se eu estivesse completa ao seu lado.

— Sam, eu... — ele murmura cessando os beijos e me encarando de cenho franzido. — Desculpa — diz, retirando sua mão debaixo da minha camisa. — Eu preciso ir.

— Como assim? — indago observando-o levantar-se e correr para a janela da sacada. — Cameron?

— Me desculpa, Samantha — diz com um olhar triste. — Mas isso não era pra ter acontecido, e não pode se repetir — uma lágrima escorre pelo meu rosto e ele se contém para não vir ao meu encontro. — Boa noite.

Ele se vira para ir embora, deixando-me sozinha com meus pensamentos.

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