Quando você é muito magro, mas muito magro mesmo. Pode ser que pensem que você é além de magro, cabeçudo. Dependendo do corte de cabelo que você usar, ah... Aí as coisas podem piorar bastante. Cabeçudo e magrelo, quanto mais magrelo, mais cabeçudo, quanto mais cabeça menos corpo.
Nos anos 80, durante minha infância eu usava um corte de cabelo que jamais foi moda, mas tanto naquela época quanto nos dias de hoje, se vê garotos com o corte "príncipe" , mais parecido com um cogumelo. Em todo caso nem esse equivoco de meus pais com a minha estética, deu margens para que eu me tornasse o cabeção da turma. Eu era bem pequeno pra uma criança de 7 anos e magro bem magrinho. Percebam então o risco que corria de ser notado pela grandiosa cabeça...
Podam dizer: Nossa!!! Quase não existe uma criança ali, só cabeça... No entanto como já disse esse apelido jamais passou perto de mim, fazendo justiça e deixando claro, talvez porque de fato minha cabeça é bem normal. Outro motivo pode ser que naquela época e em algumas situações hoje em dia, eu seja uma pessoa praticamente invisível, nem tanto pelo tamanho, mais pela postura, pelos movimentos lentos e os atalhos que me fazem percorrer sempre os caminhos dos bastidores, por de trás das cortinas ou pessoas, longe dos palcos e até mesmo os primeiros bancos da platéia... Jamais!!!
Quando criança (aquela que aparentava mas não tinha um cabeção) poderia me esconder atrás de uma das pernas de meu pai (Estão vendo mais uma prova de que de fato não tinha nenhum cabeção). Bastava subir com os dois pés encima de seu sapato, me equilibrar segurando em seu sinto e pronto. Conforme ele andava eu ia junto, e o melhor, sem ser percebido.
Utilizava esse "veículo" principalmente nos eventos da família. Lá já estavam dezenas de crianças brincando, já entrosadas e como normalmente chegávamos sempre atrasados, não queria ser atacado por aqueles olhares de vespas. Nada mais perigoso do que um bando de crianças juntas, armadas com doses cavalares de açúcar no sangue. Nada mais frágil do que uma criança sozinha, tímida e deslocada do bando.
Herdei de meus pais o péssimo hábito de chegar sempre depois nas festas. Lá se foram as apresentações, o momento de timidez em conjunto onde ninguém se conhece e por isso são todos mas afáveis uns com os outros. Depois de horas lá estava eu, tocando a campainha para entrar no baile de garagem. Impossível achar o dono da festa aquela altura, e normalmente esse era o meu único conhecido. Por tanto mais uma vez como uma ilha rodeado de cardumes bem unidos e avessos ao que vem de fora, ao que sobrou fora daquela pequena multidão.
Pouco tempo depois dessa fase outras dificuldades me distanciaram de um envolvimento normal com as outras pessoas. Se na infância o chegar depois e a diferença de açúcar no sangue me tornava um garoto apático quase triste... Alguns anos depois era a falta do álcool que surtia um efeito de extremo contraste entre eu e os grupos.
Tantas outras situações banais e imperceptíveis para os outros, diante dos meus olhos eram verdadeiras odisseias. Apresentar seminário, ser chamado de repente pelo professor que quer ter certeza de sua atenção na aula. Faculdade, colação de grau, entrevista de emprego, dinâmicas!!!!!
Eu não nasci para aglomerações, nem para ser observado por mais de uma pessoas, nem para ser observado por uma pessoa desconhecida, uma pessoa que não faz a menor ideia de quem eu seja, uma pessoa que eu não tenha a menor pista sobre seus pensamentos...
Mas não sou de todo freak, aposto que sou igual a você, talvez você seja mais estranho do que eu... Bem, na verdade eu não sou estranho estou sim, sendo absurdamente claro através dessas palavras, tornando explícito meus mais secretos pensamento. Desse jeito, até esse momento e com essas poucas palavras concordo que você pode mesmo estar achando que sou um esquisitão. Mas sou mais do que isso, ou menos do que isso. Nessas situações eu era um menino tímido, quase invisível, um adolescente mudo, incomunicável e incompreendido (mas isso não conta já que todos somos ou foram), um jovem introspectivo-observador.
Mas eu sou bem menos do que tudo isso que vocês está pensando, sou bem mais do que apenas isso que você teve pressa em formular a meu respeito. Eu era um lobisomem juvenil que poucas pessoas podiam ver a transformação, somente em ocasiões muito específicas é que acontecia a Lua cheia, e eu não era mais tímido nem inseguro. Quando olhava nos olhos de meus pais e irmãos sabia o que estavam pensando, da mesma forma os amigo da rua, que eram amigos de verdade pra vida toda, mesmo quando a "vida toda" significava apenas alguns anos ou um período de férias. Eu era um lobisomem juvenil que longe das aglomerações ou olhares de vespas, era como Jerry Lewis. Dentro do meu campo de segurança eu era Michael Jordan, eu era Fernando Pessoa diante da página vazia, quer dizer... nem tanto, mas era foda na aula de redação, era Chacrinha quando a platéia era minha vozinha, ou destemido domador de leões no quintal de minha casa com Rolf, Spok e Joe, três feras selvagens também conhecidas como cães de estimação.
Eu sou por tanto bem mais do que as coisas que eu deixei de fazer, muito mais do que as coisas que fiz, sou bem mais do que as coisas que me definem e as coisas que não me tornam palpável. Eu sou muito mais do que aparento ou bem menos do que julgam, porque no meu silêncio e na minha timidez cronica cabem quase todas as possibilidades. Eu era um lobisomem juvenil... Sou ainda esse ser que aparece apenas em determinadas situações e sou por fim a antítese de qualquer certeza a curva de qualquer definição.
Sendo assim essas palavras são os campos onde eu sou mais do que aquele menino preso as pernas do pai, o funcionário mudo ou o adolescente inseguro, aqui sim e nas próximas páginas é onde poderão me conhecer, aqui eu deixo de ser o lobisomem e passo a ser homem, criatura por completo...
Rascunho de capitulo, vou revisa-lo ainda, editar e melhorar antes de passar para as próximas páginas, mas por favor deixe aqui suas considerações e me ajude a continuar essa história... Obrigado!
att: Ygor Moretti
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Eu era um Lobisomem Juvenil
RomanceOlá a todos e obrigado por chegar até aqui. Esse é um projeto que estou escrevendo especialmente para o formato Wattpad, será um romance sobre as dificuldades, memórias e os momentos que marcaram a trajetória de um jovem escritor. Quando começamos a...