Capítulo 26

296 41 78
                                    


- E daquela vez que Daisy levava sermão da mãe na sala de estar e nós não podíamos rir? – pergunta Henri olhando para mim.

O sol já estava se pondo, eu o encarava deixando a rede me balançar lentamente enquanto Henri conversava comigo na outra rede ao lado.

- Nossa! Eu tenho uma vontade assustadora de rir quando não pode, mas que droga! – digo rindo.

- Rimos tanto que pensei que a mãe dela iria nos enxotar de casa. – completa ele gargalhando.

Recupero o ar depois de rir sorrindo para o nada.

- O que foi? – pergunta ele me flagrando.

- Ah – rio de novo envergonhada – Nada, eu só estava... pensando.

- Pensando no que? – sorri ele virando a cabeça para mim.

- Na gente, em... Em como era bom quando não tínhamos nada a esconder, nada a temer.

Ele coloca o braço atrás da cabeça e olha para as árvores acima de nós.

- E o que aconteceu com nós depois? – diz ele pensativo – Parece que tudo desandou depois de ela ir embora, como se... agora nada mais importasse.

- Do que está falando? – pergunto com o cenho franzido.

- Estava tudo tão bem. Porque ela fez isso Oli? Porque ela partiu? – pergunta num tom baixo me deixando nostálgica por mencionar meu apelido. Apenas Henri e Daisy me chamavam assim.

- Henri... – o interrompo lembrando do meu sonho com Daisy.

Eu talvez soubesse a resposta.

- Olhe tudo o que aconteceu depois: Eu parei numa clínica por ser louco, Oli. Eu era louco por amar?... E você... você foi acusada de tantas coisas que teve que fugir... Nada mais faz sentido, não é?

Fecho os olhos respirando fundo.

- Eu fico me perguntando o que aconteceria se eu tivesse te ouvido antes de ir lá, eu fico me perguntando o que aconteceria se eu não fosse a casa dela naquele dia... Ela ainda estaria viva não é? Eu não teria levado choque, não teria sido dopado e sofrido com a sua perda... – continua Henrique falando dela.

Eu fico me perguntando o que aconteceria se eu tivesse dito que era apaixonada por você, penso.

- Acha que eu não penso o mesmo? – murmuro ainda com os olhos fechados.

- Mas você não tem muito com o que se preocupar, você não a matou, Olívia. Eu fiz isso e podia sentir que morria lentamente a cada dia que ficava na Clínica.

Acho graça.

- Não tenho muito com o que me preocupar? Acha que só você sofreu com tudo isso? Acha que também não tive consequências? – digo me sentando enquanto o encarava. Minha voz estava afiada como uma faca.

- Não foi isso que eu...

- Não ouse... – aponto para ele – Não ouse falar que eu não me preocupo. Eu até tento, mas ninguém deixa.

- Do que está falando? – pergunta ele se sentando na rede também.

Não chore, não chore.

- Não é o único que culpam por matá-la – Engulo em seco – Sonhei com ela ontem... e ela me culpava por detestá-la. Achava que o meu ódio teria sido o responsável por acontecer o que aconteceu.

- Mas, – ele me encara confuso – Você não a matou, e porque a detestaria?

Tarde demais, a primeira lágrima já estava lá.

Cidades IncertasOnde histórias criam vida. Descubra agora