No alvorecer de um dia, estava Hilbert Willian deitado sobre plantações de trigo. Os olhos azuis contemplavam as nuvens brancas do céu, os cabelos pretos balançavam ao vento juntamente com a plantação, a pele cintilava sob a luz do sol. Vestia uma longa capa preta que batia no calcanhar. Encontrava-se completamente deitado no chão.
Era um dia lindo. Os pássaros no céu voavam, a brisa era fresca, e a natureza parecia soltar uma música angelical. Hilbert levantou-se, observou as aves no céu por um instante e depois mudou seu olhar para uma fazenda logo à frente.
A fazenda era grande, recoberta de madeira branca, possuía um andar superior e janelas extensas que expressavam beleza e perfeição nos detalhes. Hilbert se dirigiu até a fazenda passando em meio aos trigos que alcançavam sua barriga. Em passos largos, caminhou em direção à porta principal da fazenda, porém ficou extasiado quando ergueu a mão para girar a maçaneta. Ele ouviu vozes sussurrando dentro da casa. Parou por um instante, assustado, e colocou o ouvido na porta.
— Nossa, olha só esse vaso Sam — disse uma voz feminina abafada dentro da casa. — Ele vale muito no mercado negro.
— Vamos levá-lo, aquele ali e este quadro também. Será que os tolos dessa casa achariam que nunca seriam assaltados? Essa é a moradia mais fácil que já roubei em toda minha vida.
Ouviram-se risos dentro do local. Hilbert girou a maçaneta adentrando com tudo na sala da casa.
— Parem! — gritou ele amostrando as palmas das mãos erguidas.
Para sua surpresa, a televisão estava ligada passando um programa na TV e era de lá que sobrevinham as vozes. Ele soltou o ar pela boca aliviado pegando o controle sobre o sofá e desligando o aparelho que o enganara.
Logo depois, Hilbert passou por um corredor e chegou a um quarto de casal. Foi direto para um guarda-roupa de madeira, abriu as duas portas e começou a mexer. Ele jogava as roupas em cima da cama. Procurava por alguma coisa que deveria ser muito importante, quando, de repente, bateu o braço em um lugar oco no guarda-roupa. Examinou o local cautelosamente. Então, puxou com os dedos nas laterais e a tampa do lugar oco soltou.
Dentro, um livro pequeno de capa preta estava guardado. Ele o retirou e abriu na primeira página. Quando começou a ler ouviu algo cair e quebrar na sala. Espantado, fechou o livro e foi ver o que tinha acontecido.
— Quem está ai? — interrogou Hilbert com voz trêmula e dando leves passos.
Quando chegou à sala viu um vaso quebrado no chão e a janela aberta pelo vento forte. Hilbert fechou a janela e colocou o pequeno livro no bolso. Saiu pela porta da frente e a trancou. Enquanto terminava de fechar a porta, viu do lado oposto da casa uma vassoura caindo, juntamente com o som de baldes rolando pelo chão. Às pressas, correu para ver, mas quando chegou não tinha ninguém.
Ignorando o que tinha acontecido, andou um pouco e chegou até umas plantações de milho. Seguiu subindo as lavouras, que eram bem altas. Ele caminhava quando de repente ouviu gravetos atrás dele se quebrarem. Era como se alguém tivesse pisado e quebrado. Virou-se rápido e falou novamente:
— Quem está aí?
E nada mais se ouviu.
Hilbert ficou assustado e começou a andar mais rápido, até sair das plantações de milho. Caminhando, avistou logo abaixo árvores e foi correndo para a sombra delas.
Ainda alarmado, examinou ao redor, certificando-se que não tinha ninguém. Logo depois, sentou-se no chão e tirou o pequeno livro do bolso da capa. Em seguida, abriu na primeira página e começou a ler. Nela estava escrito:
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O Último entre os Milhares
AdventureHilbert Willian é um jovem que acha que sabe quem ele realmente é. Entretanto, um dia ele se depara com sua mãe Cristina escondendo o diário dela em um compartimento do guarda-roupas. Nesse diário, estava escrita a verdadeira história de Hilbert. El...