O poder do amor (conto)

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A história de vovô e vovó me impressiona e me encanta. É uma história de amor, que é independente de atração física, dinheiro ou status.

Quando meus avós se conheceram eram ainda crianças. Vovó tinha cinco anos e meu avô sete. Eles cresceram juntos. Sempre foram próximos, pois seus pais eram amigos de longa data.

Eram duas crianças comuns como qualquer outra. Viviam para brincar como se não houvesse amanhã. Corriam, pulavam e davam boas gargalhadas juntos. E com o passar os anos e a troca de estações, o sentimento de grande e bela amizade se tornou uma grande e bela paixão

Minha vó disse que quando completou sete anos, ganhou um presente incrível. Foi o melhor presente de toda a sua vida. Em seu quintal havia uma imensa árvore. E foi ali que seu pai construiu um casa de madeira. Sim, uma casa na árvore. Acho que esse é sonho de consumo de toda criança. Esse foi o presente na qual vovó relembra boas aventuras.

No dia seguinte os pais do meu avô foram visitar os pais dela. Ela dizia aos risos que vovô observava a casa boquiaberto, extasiado. E ela, la em cima, ja curtindo seu presente, ria da situação. Ela desceu, caminhou até ele e o fez o convite para subir e claro, ele aceitou.

Aquela tarde provavelmente teria sido uma das melhores por tamanha alegria que minha vó contava.

O tempo se passou e na adolescência eles deram o primeiro beijo, debaixo daquela mesma árvore.

Quando chegaram na adolescência, decidiram assumir aquele amor incondicional e não foi fácil estarem juntos. Foram proibidos de se ver por diversas vezes. Os pais de ambos proibiram e acabaram com a amizade. Se eram tão amigos assim, por que não deixar um sentimento tão bonito fluir? Por que os afastar e os prender?

Quando ficavam semanas sem se encontrar, trocavam cartas. Vovó as escrevia, subia na casa, amassava a carta e atirava no quintal ao lado. Eles eram vizinhos. Tão perto e ao mesmo tempo tão distantes. A única coisa que os ligava eram as cartas. Mas elas acabariam sendo descobertas. Foi então que decidiram fugir. Namoraram por um bom tempo, se conheceram mais profundamente e descobriram que eram almas gêmeas, que algo os ligava. Noivaram e logo casaram. Tiveram 3 filhos. São eles: Tio George, Tio Anthony e minha mãe Isabel.

***

Estou aflita. Seguro a mão de meu avô envelhecida pelo tempo. Vovó ja não está entre nós. Ela faleceu faz uma semana de causas naturais mesmo. Desde então ele adoeceu.

De repente meus pensamentos são interrompidos por alguém que aparece na porta. Ah! É minha mãe. Me levanto sem fazer muito barulho e vou ao encontro dela lhe dando um abraço.

- Vá em casa querida, você está cansada. -disse ela em tom de preocupação.

Me despeço dela com um beijo e saio.

Na rua, a única coisa em que consigo pensar são nas histórias que vovó contava. Desde seu falecimento é a única coisa em que penso, pois é uma história de amor verdadeiro. Minha mãe diz que vivemos em um tempo onde o amor se esfriou, mas o poder do amor nunca morrerá. Sim, o amor existe, e eu acredito, mas é para quem sabe entender esse sentimento tão complexo. E eles dois souberam se amar entendendo as diferenças um do outro. Vovô sempre foi mais quieto e calmo enquanto ela era agitada e divertida. E memso com tantas outras divergências eles se amavam. Hoje estou com 23 anos e tenho lembranças das carícias que meu avô fazia em minha avó. Eu sempre os admirei.

Sinto uma lágrima escorrer pelo meu rosto assim que entro em casa. Sigo para o banheiro e depois de uma ducha, acabo pegando no sono.

***

É difícil para mim como filha ver meu pai nessa situação tão delicada. Ele sempre foi um homem guerreiro, forte. E hoje vê-lo em uma cama de hospital, frágil como se fosse um bebê me faz refletir sobre a vida. Com certeza ele não suportou a perda de sua amada. O que me impressiona é que papai tem saúde de ferro. Mas seus sentimentos foram tocados com a falta que minha mãe faz para ele.

Meu pai foi um empresário muito requisitado aqui no Rio de Janeiro. Seu nome é conhecido. Hoje a empresa está no comando do meu irmão mais velho, George.

Lembro-me que ele lutou para conquistar e nunca desistiu. Mas passamos por maus bocados em tempos de crise e quase passamos fome. Lembro também que minha mãe sempre o dava forças quando tudo parecia não ter uma solução. Em todos os momentos: na alegria e na tristeza, minha mãe estava ao lado dele.

Minhas lembranças se desfazem. Olho para meu pai e vejo que que ele está de olhos abertos. Seus belos olhos azuis estão lacrimejados.

- Oh pai. Como você está se sentindo? (Pergunto acariciando seu rosto)

- Eu... Eu só sinto que... (Ele fala com bastante dificuldade) Que meu lugar... É ao lado dela... até...até a eternidade...

Não consigo conter as lágrimas que inundam meus olhos e logo transbordam.

- Minha filha... viva intensamente... sorria mesmo com... (tosse) com as adversidades... tenha esperança... E o mais importante... Ame.

Os olhos dele se fecham devagar.

***

Quando acordo sinto um misto de sentimentos. Me sinto leve por ter descansado, mas... Mas ao mesmo tempo sinto um aperto no coração.

O telefone toca e eu me apresso em atender.

Minha mãe me da a notícia e posso ouvir seu choro contido.

Assim que ponho o telefone no gancho, meu rosto está coberto de lágrimas. Mas ao mesmo tempo eu sorrio. Sim. Sorrio pelo maior legado que as pessoas mais importantes para mim deixaram: acreditar no poder do amor.

"I said I didn't come here to leave you
I didn't come here to lose
I didn't come here believing
I would ever be away from you
I didn't come here to find out
There's a weakness in my faith
I was brought here by the power of love... "

Fim.

O Poder Do AmorOnde histórias criam vida. Descubra agora