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Eu sobrevivera ao Dia Três Pós -Christian e ao meu primeiro dia
de trabalho, uma distração bem -vinda. O tempo voou graças à confu-
são de caras novas, ao trabalho e a Mr. Jack Hyde. Mr. Jack Hyde…
sorriu para mim com os olhos azuis a cintilar, encostando -se à minha
secretária.
– Excelente trabalho, Ana. Acho que vamos formar uma grande
equipa.
Eu consegui de alguma forma arquear os lábios para cima, numa
tentativa de um sorriso.
– Se não se importa vou sair – murmurei.
– Claro, são cinco e meia. Vemo -nos amanhã.
– Boa noite, Jack.
– Boa noite, Ana.
Peguei na minha mala, vesti o casaco e encaminhei -me para a porta.
Lá fora respirei fundo, enchendo os pulmões com o ar daquele princí-
pio de noite em Seattle, mas este não me preencheu o vazio no peito,
um vazio que estava presente desde sábado de manhã, como uma lem-
brança oca e dolorosa da minha perda. Caminhei em direção à para-
gem de autocarro, de cabeça baixa, a olhar para os pés, a pensar no
facto de que estava sem a minha querida Wanda, o meu velho Caro-
cha… ou o Audi.
Bloqueei imediatamente esse pensamento. Não, não penses nele.
É claro que eu agora tinha dinheiro para comprar um carro – um belo
carro novo. Suspeitava que ele fora excessivamente generoso no paga-
mento e a ideia deixou -me um gosto amargo na boca, mas pu -la de
parte, tentando manter a mente tão entorpecida e vazia quanto possí-
vel. Não podia pensar nele, pois não queria desatar a chorar outra vez
– não no meio da rua.

50 Sombras Mais NegrasOnde histórias criam vida. Descubra agora