PRÓXIMOS DO FIM ĪĪ

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Eu estava apenas de olhos fechados na minha cama, tentando dormir, a trilha sonora apenas tirava o vazio da alma e a quietude das palavras. Afogado em pensamentos, cá estou, penso muitas coisas, mas uma especial não sai da minha cabeça, os olhos de Reeh. No livro Dom Casmurro de Machado de Assis, a personagem Capitu foi marcada por ter olhos de ressaca, li em algum lugar que o adjetivo empregado para os olhos dela fazia menção a ressaca do mar, que é um fenômeno formado por ondas fortes na presença de ciclones. Os olhos de Capitu demonstravam essa força das ondas, eram difíceis de se decifrar. Os olhos de Reeh eram diferentes, eram olhos de maré, uma hora baixa e outra cheia, a maré alta nos olhos dele, é difícil de se enxergar, você tem que sentir para entender, já a maré baixa é o contrário, nela você vê as conchinhas enterradas na areia, nela você vê que o sentimento dele é forte por todos que o amam. Foi naqueles olhos, naquele lindo violeta, que só nele encontrei, que senti meu coração bater mais forte ao ponto de não importar com a distância, dificuldade ou desafio, eu sempre estarei pronto para enfrentar o que vier, se aquele homem ao qual entreguei meu coração estiver ao meu lado. A maré consiste na mudança periódica do nível das águas oceânicas e se devem a atração exercida pela lua e pelo sol sobre elas, eu me perguntava enquanto caía no sono, se eu sou a lua, o que, ou quem, é o sol?

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No dia seguinte, acordei com meu avô perguntando seu eu iria querer ir no hospital, sem animação respondi que sim, ele pediu que eu fosse me arrumar. Assim que terminei, tomei café junto com minha vó e depois que terminamos fui para a frente de casa esperar meu avô tirar o carro da garagem. Enquanto esperava, olhava para o céu e sentia falta de ver o azul, normalmente eu esquecia que não enchergava tão bem quanto antes, quando estava com Reeh, tudo parecia tão triste quando eu estava sozinho, tudo que já era branco se tornou ainda mais branco. O vermelho, o roxo, o verde, o azul escuro e muitas outras cores que eram fortes se tornaram preto. Cores como o azul claro, amarelo, verde claro viraram cinza. Cores mais claras o branco. Pra mim não importava o tempo lá fora, era sempre cinza que eu via ao olhar para o céu, mas quando Reeh estava por perto a falta desse azul não me incodava, porque ele é daquele tipo de pessoa que sabe dar cor as coisas.

Meu avô saiu com o carro, não demorei muito para entrar, por mais que não tivesse ânimo para ir. A viagem foi meio calada, apenas fui ouvindo música enquanto esperava chegar ao hospital, não é que meu avô não tentasse me animar, a questão era que eu não queria papo. Muitas vezes eu nem o respondia.

Chegamos. Quer que eu fique um pouco com você aqui? - Perguntou meu avô, me encarando de lado.

- Não, obrigado, prefiro que o senhor vá tomar conta da vovó. - Disse sendo direto, não dei meu melhor sorriso mas sorri, não queria deixá-lo preocupado e assim segui meu caminho adentrando o hospital.

No salão de entrada, os recepcionistas estavam até acostumados com a minha presença, eu era o primeiro a chegar e o último a sair, queria ser o primeiro a ser informado caso Reeh tivesse alguma melhora. Dona Lara havia me emprestado a chave da sala dela e lá ficava todo meu material de estudo, chegava a ficar oito horas sentado, lendo ou fazendo alguns exercícios até me cansar e resolver sair, e foi isso que eu fiz, comecei a estudar esperando que meu namorado melhorasse.

Já faziam três horas que eu estava estudando. O relógio marcava 10:23, resolvi sair um pouco para pegar um ar. Andei por aqueles corredores, olhando para o lado de fora, por cada janela que eu passava, lambrava da declaração que Reeh fez pra mim naquele hospital e agora era eu quem estou aqui esperando que ele melhore. Eu estava morrendo de fome, resolvi ir na lanchonete que havia no hospital, Vitor foi a primeira pessoa que vi ao entrar no local, por mais que estivesse cheio de pacientes e visitantes. Depois que fui atendido, tentei sair dali, meu objetivo era chegar até o parquinho para que pudesse comer sem olhar para o motorista, mas fui impedido, assim que passei por onde ele estava sentado ele segurou minha mão.

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