Capítulo 5

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Hoje foi uma das raras vezes que o silêncio não me cativou. Oque é estranho, porque o silêncio é uma das poucas coisas que ainda me agradam, apesar de quase nulo em minha vida. Nunca contei a ninguém mas, passava grande parte das minhas madrugadas acordada, olhando a escuridão. Eu contava as horas do dia para que o sol caísse e eu pudesse ouvir aquele barulho inexistente. Escrevia, pensava, respirava fundo e me questionava o porquê disso tudo, sempre fiz muitas perguntas sem respostas, mas conforme fui crescendo, aprendi a lidar com a tortura de ter que aceitar que certas coisas simplesmente não tem explicação.

Como por exemplo, por que eu sentia calafrios so de pensar que Pedro estava em um quarto bem em frente ao meu?

Estou ficando louca!

Levantei-me da cama e fui até a varanda da casa, me encostei no para-peito, peguei meu celular e fone e pus uma música qualquer. A noite estava bem estrelada e fria e eu estava sem moletom, só com uma regata apertada e short jeans pois não tinha planos de dormir na casa da Ana.

Passei as mãos pelos braços fazendo movimentos de vai e vem repetidas vezes afim de amenizar o frio, sem sucesso. Senti o celular vibrar no bolso e o peguei. Uma nova mensagem de um número desconhecido. Decidi ler.

"Noites frias me lembram você... mas de um jeito bom.

:Rafael"

Meu coração acelerou e uma sensação de tristeza pairou em mim ao ler aquele nome. Rafael foi uma das pessoas que marcou minha vida e foi embora, mas foi embora do pior jeito possível. Porque ele voltou.

Novamente senti o frio bater, guardei o celular, fechei os olhos e tentei pensar em coisas boas ouvindo "velha e louca". Senti um pano cobrir minha costa e meus braços congelados. Abri os olhos rápido e olhei pra trás, revirei os olhos e voltei a olhar pro nada ainda com o braço dele em volta da minha nuca e o outros segurando o casaco em meu braço.

-Você parecia com frio.

-E daí. Eu gosto do frio.

-Não pareceu quando você estava tremendo e arrepiada. -ele estava do meu lado e eu nem conseguia ver seu rosto, mas sabia que ele estava sorrindo.

-Me deixa, Pedro!

-Desculpa, só tentei ser legal...

-Tira as mãos de mim.

-Ah, desculpa... de novo.

-Tanto faz.

-Você é grossa.

-Como uma flor -falei dando um sorriso sarcástico pra ele, que por sua vez, sorriu de volta.

-Oque faz aqui sozinha, nesse frio.

-Nada, tanto que já estou voltando pro quarto -tirei o casaco dele e coloquei em seu ombro direito, que agora estava de frente pra mim- boa noite.

-Fica mais um pouco Elô, por favor...

-Da próxima vez, hoje não.

-Então teremos uma próxima vez...

Fiquei nervosa e olhei pra ele séria tentando ir embora mas não conseguia. O sorriso dele me hipnotizava, e os olhos então...

-Talvez. Boa noite.

-Eloise, gosto de você.

Meu Deus, ele disse que gosta de mim. Eu quis rir, imagina só, alguém gostando de mim. Era mesmo hilário. Olhei nos olhos dele, pra saber se era verdade. E era. Me subiu um medo tão grande, mas tão grande. Onde já se viu, medo de ser amada. É que por tanto tempo eu idealizei, sonhei... E quando finalmente aconteceu eu não estava preparada. Acho que isso estava visível em meu rosto, pois a expressão dele me olhando era engraçada.

-Não precisa ficar assim Elô.

-Assim como.

-Com medo oras!

Ele só podia ter lido meus pensamentos, ou então eu estava deixando muito mais na cara do que eu pensava.

-Tenha coragem, não medo. Desse jeito você não vai descobrir nada. Digo, descobrir coisas novas.

As palavras dele me confortavam e me passavam segurança, mas ao mesmo tempo, aquela vozinha me dizia "não vai dar certo. Vai ser como foi com Rafael", e eu queria ouvir essa maldita voz e não a do garoto parado em minha frente, pedindo pra aceitar os sentimentos dele.

Foi nessa hora que decidi que precisava superar. Superar os amores fracos, as decepções, as decepções passadas, os outros caras, principalmente Rafael. Que, mesmo sem perceber, estava os guardando ali, dentro de mim. Percebi que pra aceitar alguém novo, tinha que me livrar dos antigos.

-Acho que também gosto de você, Pedro.

Aquelas palavras fizeram ele abrir um sorriso enorme no rosto, e ao ver aquele sorriso, eu sorri também. Senti vontade de correr para os braços dele, mas me controlei. Eu estava feliz, mas sabia que podia estragar isso, como sempre faço.

Então novamente dei boa noite, já pela terceira vez, e dessa vez ele retribuiu. Voltei pro meu quarto e me deitei na cama com um sorriso no rosto, dormi sorrindo e sonhei coisas boas.

Duas semanas depois...
Segunda, 24 de agosto, 2015.

Essa semana está sendo diferente, na verdade, estão sendo, desde a noite em que Pedro disse que gostava de mim. Depois de muito tempo eu voltei a ouvir minha música favorita, e agora, por surpresa minha, eu não penso na minha fase difícil sobre depressão que tive, não pensei em nada além de Pedro, que foi a pessoa que despertou em mim sentimentos que eu nunca achava que iria sentir(de novo) um dia.

Mas também, depois da mensagem de Rafael, passou pela cabeça todas aquelas lembranças do que vive com ele, e de como nos amávamos, nossa, como nos amávamos. Eu tenho certeza que aquilo não foi só algo que simplesmente ocorreu, nosso amor foi mais do que palavras expressadas, mais que todas as palavras juntas de diferentes livros em uma biblioteca, eu achava algo inexplicável, na verdade, até hoje acho, porque por mais que não pareça, eu me lembro daquilo, e sabe, ás vezes eu acabo achando que tudo não passou de um sonho, porque realmente, foi incrível a forma que ele reagiu com minhas dores e defeitos, ele simplesmente me aceitava sabendo que eu era assim, e que por mais que tenhamos amadurecido, nossas mentes sempre estarão em contato com essas lembranças, por mais dolorosas que elas possam ser. Ele simplesmente foi embora e me deixou sozinha, sem explicações, apenas foi. E isso doeu.

Não mantive contato com ele aquele dia e nem depois daquele dia, até hoje.

Estava sentada em um banco da praça que visito toda semana e sempre acho coisas novas pra fotografar. Estava, como sempre, bem movimentada.

De um lado, um grupo de skatistas em uma pista, do outro crianças brincando na gangorra, no centro umas meninas brincando na casinha de madeira, um pouco mais ao lado um grupinho brincando com massinhas de modelar e ao redor várias crianças correndo e alguns pais sentados em bancos diferentes.

-Oi Eloise.

Fiquei estática ao ouvir aquela voz, será verdade? Era!

-Oi Rafael...

Oi oi amores, tudo bom?
O livro não está tendo muita visualização mas vou continuar assim mesmo. Obrigado aos que estão acompanhando. Bjs e não esqueça de votar! Desculpem o capítulo pequeno.

Droga De Amor (Parado)Onde histórias criam vida. Descubra agora