querido diário

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A Menina Dos Pulsos Cotados.

Hoje foi mais um dia horrível, eu acordei já caída no chão da sala, como que eu fui parar ali? Nem quero saber, o pior que mesmo quando percebi que não estava na minha casa. Lembro que ontem eu fui lá na lanchonete junto com uma lâmina e alguns panos úmidos, lembro também que antes de eu me embebedar, eu fui no banheiro e me corte, o pulso, a perna, as mãos, e uma pequena parte do pescoço. Depois de ter me auto-multi lado eu fui beber... Lembro que eu bebi muito, tipo, muito mesmo! E a última coisa que eu me lembro é ter capotado na estrada e uma luz amarela parando na minha frente mas não me atropelando, parando devagar mesmo...

Acordei na casa estranha como eu já tinha dito, até ai tudo bem, minha mãe trabalha durante parte da noite e chega bem de tarde tipo umas 18:30 por aí, até ai eu não tinha problemas. Então, eu acordei e fui esplorar a tal casa desconhecida... Fui primeiro no banheiro, depois de ter vomitado todas as garrafas que bebi, eu fui até a cozinha e bebi um pouco de água para aliviar diminuir o gosto do vomito... Chegando no quarto eu vi um garoto, parecia ter a minha idade, que estava dormindo com um lençol branco. Como eu sou muito curiosa e tenho o costume de olhar as braços das pessoas fui olhar o dele. Achei estranho porque vi os braços dele todos cortados, mas era um corte profundo... Eu cheguei mais perto dele e toquei na feridas dele, parecia que ele tinha sentido eu tocar nele pois a ferida estava muito ardente, tipo, estava muito ensanguentadas e profundas... Iguais as minhas.

Ele acordou e se mexeu, começou a falar para mim

-Por favor, não toque nelas, estão muitas dolorosas.

Eu dei um pulo para trás, nesse momento percebi que eu estava, além de toda vomitada, ensanguentada. Ele olhou para mim como se estivesse com pena, confuso e com tontura ao mesmo tempo. Ele curvou a cabeça para o lado e perguntou:

-Eu te conheço?

Eu sabi que não, não tenho amigos, não tenho pessoas conhecidas ou ao menos conheço alguma pessoa que se corta como eu...

-Tenho certeza que não.

-Você é a Deborah não é?

Como ele sabia meu nome? Eu falei para ele quando estavo bebada? Tenho certeza que não.

-Como você sabe meu nome?

-Eu te falei, te conheço mas não lembro de qual lugar.

-Qual o seu nome?

-Nicolas.

Não me lembro de nenhum Nicola quando eu ainda era normal.

-Não me lembro de quem é você.

Ele se levantou... Tirou a calça, nessa parte eu já estava apavorada, eu vi que na panturrilha dele estava escrito meu nome, completamente certo. Então, por um lado fiquei confortada e por outro muito apavorada e triste.

-Você não se lembra de mim porque nunca me conheceu, você estava ocupada com seu tal livro no fundamental, sempre que eu tentava me aproximar de você, você saia do seu lugar.

Eu fiquei completamente muda.

-Deborah, eu... Eu te amo!

Continuei muda. Era o momento perfeito para um daqueles beijos de novela sabe? Mas eu respondi com cabeça baixa

-Não confio em ninguem, já parti meu coração milhares de vezes e não quero que você se contamine com a minha tristeza, fúria e arrependimento.

Ele me abraçou fortemente. Naquele momento eu empurrei ele e fui correndo pra fora da casa dele, como sempre, chorando. Sorte minha, ou não, que a casa dele era perto da lanchonete onde me cortei e bebi várias, então voltei para casa como se nada tivesse acontecido e continuei meu dia, quase normalmente.

A Menina Dos Pulsos CortadosOnde histórias criam vida. Descubra agora