Capítulo 02 - Parte I

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MASALOM

   Cheguei ao palácio estressado, com uma enxaqueca dos infernos, cansado, cheio de problemas e, como se não bastasse tudo isso, agora tenho a certeza de que, em pouco tempo, serei o novo rei da Arábia Saudita, pois além de ser o sucessor do meu pai, ele confessou-me ontem estar com uma doença terminal.

   Meu pai é um homem respeitado, apesar dos pesares e dos problemas sociais da população. Também pudera, afinal, ninguém tem conhecimento dos seus negócios clandestinos. Ele não só trafica mulheres para aquele clube, como também faz parte da máfia da Arábia. Pois é, a Arábia tem uma máfia! Não é igual à Cosa Nostra, a Bravta, a Chicago Outfit e às demais máfias poderosas. A máfia da Arábia é pequena, com poucos integrantes, mas, nem por isso, menos influente. Com a morte do meu pai, passarei a ser o chefão dela, Capo, Don ou como desejar chamarem. Ou seja, o homem à frente dos "negócios". Porém isso não me preocupa, já que desde os meus cinco anos fui treinado para exercer os dois papéis: tanto de chefe da máfia, como o de rei da Arábia.

   Meus irmãos, assim como o povo arábe, nem desconfiam das facetas do nosso pai, também não confio a todos os meus irmãos esta informação. O único dos meus irmãos a quem confiaria a minha vida é Horlom. Ele é meu irmão tanto por parte de pai, como de mãe. Nossa mãe faleceu muito cedo. Ela era uma brasileira, como a maioria das esposas que vivem no palácio. Talvez por estarmos rodeados delas, temos o português como nosso segundo idioma. Retomando o assunto confiança, preferi não destruir a visão de herói que meu irmão tem do nosso pai, por isso, nem mesmo Horlom tem conhecimento de tais fatos repugnantes apesar dele frequentar o clube vez ou outra nem desconfia que nosso pai é o responsável por ele existir.

   A verdade é que as quatro esposas do meu pai, incluindo minha mãe, deram-lhe dez filhos, sendo três mulheres e sete homens, uma marca considerada pequena na nossa sociedade. Porém o que quero salientar é o fato que meu pai, mesmo com mais seis filhos, escolheu a mim para substituí-lo e isso me revolta. Digo escolheu, pois ele vem influenciando todos ao redor para aceitarem que serei eu a lhe substituir após sua morte. Coralom, meu irmão mais velho, parece querer me destruir por isso. Mal sabe ele que, se pudesse, simplesmente cederia esta responsabilidade maldita.

   Tiro meu terno perdido em pensamentos. Percebo estar parado no meio do salão. Volto a andar e subo as escadas com a certeza de que Salan cumpriu minhas ordens e tenho minha futura esposa me esperando

   — Masalom!? —  e por falar no meu irmão Horlom, eis que o dito cujo aparece.

   — Sim, irmão.  — respondo impaciente. Estou louco para ver minha futura esposa detalhadamente. Afinal não tive tempo, além, é claro, de tomar algo que me livre dessa maldita enxaqueca.

  — Irmão?!... Já não sei se somos tão fraternais. — diz com um tom de voz doloroso.

   Viro-me para olhá-lo e o que encontro no seu rosto em nada me agrada.

   — O que quer dizer? — questiono intrigado com sua atitude pouco convencional.

   Horlom é do tipo descontraído, de bem com a vida e, no entanto, no momento ele parece derrotado.

  — Quero dizer que o meu irmão mais velho, o meu herói, aquele que me protegia dos sermões do papai, aquele que me aconselhava a respeito das mulheres, brincava comigo, meu espelho de vida, não existe mais. Ou talvez exista, mas esteja sem rumo, aprisionado a sete chaves nesse coração de pedra. —  fico congelado no lugar e, pela primeira vez, em muito tempo, fico sem saber o que falar.

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