LIVRO I - NOVO MUNDO
"Quando uma ideologia fica bem velhinha vem morar no Brasil."
Millor
Berlim, 6 de julho de 1944:
Taiguara esteve no front desde o primeiro dia em que o Brasil se apresentou para o combate mundial. Embora tivesse nascido no interior e estudado apenas até a quarta série do ensino fundamental, sua experiência na Europa lhe ensinara algumas palavras básicas, como "perigo" e "nazista" em vários idiomas.
O rapaz ficou na Alemanha depois do Dia D, encarregado de procurar por sobreviventes e nazistas que fugiram depois da batalha decisiva. Com vinte e poucos anos, Taiguara preferia aquele ambiente a voltar para casa e se casar com sua vizinha. Carpinteiro, assim como o pai, estaria fadado a uma vida que já conhecia e pouco lhe atraía.
O sentimento que tinha por sua noiva era tenro, porém morno. Não sentia qualquer desejo por ela ou por qualquer outra mulher. No exército, por vezes, os soldados festejavam nas cidades e, casados ou não, se deitavam com as mulheres locais, sem saber se aquele era o último dia de suas vidas.
Alguns dos seus companheiros evitavam a festança e Taiguara logo compreendeu que, assim como ele, esses jovens se interessavam por outros homens.
As relações, contudo, eram rápidas, furtivas, sem maiores promessas de conexão afetiva.
Taiguara voltava de um destes encontros quando ouviu um grito, inconfundivelmente russo, para pegar um nazista.
Sozinho, ele não pensou em bancar o herói e correu para se esconder. Mais gritos russos foram ouvidos, desta vez acompanhados de disparos, e ele temeu ser confundido com o nazista perseguido. O que fazer?
A fama do Brasil já não era muito boa desde a Primeira Guerra Mundial. O irmão de Taiguara narrava a Batalha das Toninhas, da qual havia participado. Não poderia manchar ainda mais a reputação do país agachando-se como um menino indefeso.
Tentou entrar em um prédio cujas portas pareciam livres, mas não conseguiu. Provavelmente, estavam barricadas do outro lado. Taiguara encostou-se atrás de um carro parado na porta do edifício e ficou com a pistola em riste.
Os gritos continuaram e Taiguara começou também a ouvir passos. Um soldado de uniforme brasileiro chegou correndo, tentou abrir a mesma porta que ele:
– Aqui! Abaixa aqui! – chamou Taiguara.
O jovem agachou atrás do carro ao seu lado.
– Obrigado.
– Sabe qual é a situação?
Os gritos russos podiam ser ouvidos ao fundo.
– São quatro deles, todos muito bem armados.
– Onde eles estão, soldado Carone? – perguntou Taiguara lendo o uniforme do colega.
– Não está ouvindo os gritos? Bem atrás de nós!
O soldado espiou atrás do pneu, mirou e atirou duas vezes. Taiguara entrou no confronto mas, ao sair para atirar, se refreou e deixou que os três soldados se escondessem atrás de outros carros.
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Os Guardiões
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