Capítulo 1

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   Estava muito frio, a neve caía por cima dos trens e se esparramava pelo chão. Crianças e mulheres com medo passavam fome.

   A rodoviária estava lotada de refugiados tentando escapar dos drones. Eu vestia apenas um agasalho longo, fino e cinza, com uma camiseta branca, calça jeans e sapatilhas brancas cheias de neve dentro.

   Era o pior século da Terra, foi a vez que mais vi pessoas reclamando da vida e outro tipo de coisa como xingar o governo e se cortar. Era horrível ver lindas e pobres crianças chorando, pedindo comida quando nem tínhamos algo para sustentar. Eu queria fazer algo, eu queria mesmo.

   Já era péssimo passar frio e fome, o que piorou foram os drones nos descobrirem na rodoviária e chegar lá. Estava cheio de gente, todos fugindo e chorando assustados. Fui correndo até o fim da rodoviária, vi uma porta pequena de madeira e entrei. 

   Estava escuro e eu não enxergava, de repente um garoto com uma lanterna apareceu atrás de mim. Eu fiquei muito assustada e perdi a cabeça sem querer:

   - Garoto! Você é louco? Quer me matar do coração, seu pateta? Quem é você?

   - Calma! Meu nome é Mark. Não, não sou louco. - De repente ele desapareceu, realmente eu não estava sonhando. Eu estava a ponto de infartar. Eu fiquei paralisada, sem fôlego, suspirei, abri bem os olhos e gritei muito alto. Era a pior sensação que eu tive. Só para você ter uma noção, era como se o medo tivesse controlado meu corpo total. Era como se eu estivesse fugindo do pior pesadelo, vivendo tensão como em filmes de terror e vivendo presa em um lugar cheio de sangue sozinha, quase chorando sem saber o que fazer, com o medo a mil e o suor da preocupação contornando meu rosto. 

   Mesmo com tudo acontecendo lá fora estendi minha mão para puxar a maçaneta e sair correndo, mas ele reapareceu e segurou a minha mão bem forte. 

   - Espere! Não vá, eu não sou do mal! Só quero que você fique bem, então não vá... - Ele olhou fortemente em meus olhos e eu o encarei com uma cara assustada. Percebi todos os detalhes de seu rosto e o achei familiar, mas sabia que teria que tomar cuidado.

   - Que... Quem...É você? - Eu disse meio aos soluços com a voz fraca e baixa.

   - Já falei, meu nome é Mark, Mark James. 

   - Não foi isso que quis dizer com a pergunta. - Eu me irritei, mas com o mesmo tom de voz: baixo.

   - Tudo bem, sou um... Não se assusta! Mas eu não estou exatamente... Vivo.

   Foi assim que eu dei o maior berro de todos os tempos! Um morto? Defunto? Um espírito na minha frente? Como? Os espíritos não se tornam estrelas? Era nisso que eu QUERIA acreditar naquela hora, mas não, não foi assim.

   - Calma. Eu era como você.

   - Falou certo! Era!! 

   - Calma! Por favor! Eu juro, que não vou te machucar, fiquei anos sozinho aqui esperando que alguém me fizesse companhia... Por favor. Eu só queria, uma nova amizade...

   - Hummmm... Ok, mas por quê um espírito iria querer novas amizades?

   - Porque os espíritos vivem sozinhos para sempre, isto é... Péssimo para qualquer um.

   - Eu entendo isso, os drones mataram a minha família e todos que eu amo e desde então eu continuo sozinha. Tudo bem, acho que vale a pena ter algum amigo... - Ta, confesso que eu estava meio preocupada com esse negócio de amizade com espíritos, porque sei lá, eu nunca falei com um espírito realmente. Pode ser uma experiência muito diferente.

Quando As Estrelas SorriremOnde histórias criam vida. Descubra agora