Capítulo 10 - A jornada

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Havia se passado duas semanas desde que Adelfo me contara sobre a profecia, duas semanas que Max havia me beijado.

Eu estava na cozinha com Ariadne, ajudando-a a fazer biscoitos. Eu os estava guardando em latas depois de assados, quando Max chegou em casa. Ao vê-lo minha pulsação acelerou, ele sorriu e pegou um dos biscoitos do tabuleiro, sentou-se próximo a sua mãe.

__Eu sei. – ele respondeu a uma pergunta não ouvida por mim, não voltei a olhá-los, continuei fazendo meu trabalho. __Eu sei mãe, mas não posso evitar. – coloquei a lata na prateleira e lavei as mãos.

Max nunca mais conversou através da mente em minha presença e às vezes era estranho vê-lo responder algo que não ouvi. Eu ainda não sabia como fazer isso, como ouvir a mente de alguém, mas eu podia sentir o que estavam sentindo, mais fortemente com Max.

__Eu não vou deixá-la ir sozinha! – ele levantou a voz e eu me assustei.

__Max, meu filho, já conversamos sobre isso antes.

Senti uma dor no coração. Era isso então? Ariadne não queria que ele me acompanhasse até o Mosteiro.

__Mãe, eu vou com a Vic.

__Isso está indo longe demais! Vocês dois! – ela então se voltou para mim. __Perdoe-me Victória, eu a amo como se fosse minha filha, mas essa relação não vai dar em nada. Você sabe que terá que partir. Voltar para Terra. – ela frisou bem separando cada frase.

__Você não sabe mãe! Não pode ter certeza, e se ela quiser ficar? Ou se eu for...

__Não! Você sabe que não pode.

__Oh! Por favor! Não briguem por minha causa. – saí de casa e fui caminhando sem destino certo pelas ruas de Lenora, agora muito mais familiarizada com a cidade, eu poderia ir aonde quisesse. Segui sem rumo até que percebi que estava caminhando mais uma vez para o outeiro do Templo.

Nos últimos dias, eu estive aqui todas as tardes. Eu precisava conversar com Adelfo e Celandine, entender quem eu era, eles haviam enviado uma mensagem ao Mosteiro de Megaron e aguardavam a resposta para partimos.

Mas hoje eu só queria olhar mais uma vez para aquela massa escura, a floresta das árvores gigantes. Max me disse que o Mosteiro ficava numa colina sobre a floresta, as margens do último dos Meiavis.

Max. Eu o amava tanto, nunca pensei poder amar alguém com essa intensidade. Depois que ele me beijou, tive certeza de que ele é o amor da minha vida, pena que ele tenha se afastado depois disso, nunca mais me tocou de novo. Ele está sempre por perto, mas o máximo que faz é segurar minhas mãos.

Talvez, no fundo, ele saiba que sua mãe está certa. Que futuro nós temos? Eu terei que partir para Terra e ele ficará aqui, assim diz a profecia. Mas... Mas e o tal do livre arbítrio? Eu não tenho o direito de decidir o que fazer da minha vida?

Max chegou, não precisei virar-me para vê-lo, eu o sentia agora, mesmo que estivéssemos longe um do outro. E ele também, não era necessário perguntar, sempre sabíamos onde o outro estava.

__Não fique aborrecida com minha mãe. – ele me abraçou. Fiquei surpresa, depois de dias, ele me abraçou.

__Não estou aborrecida com ela, eu a entendo. O que eu não entendo é porque a profecia tem que ser interpretada ao pé da letra, eu não tenho que partir Max.

__Eu espero que não. – ele passava as mãos na trança grossa que descia pelas minhas costas, repetindo o movimento até que eu estivesse calma outra vez.

Andirá - a jovem da profeciaOnde histórias criam vida. Descubra agora