O aniversário de Laura (Parte III)

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Continuação...

Jorge saiu do elevador no térreo enxugando as lágrimas do rosto com toda a força que conseguira ter ainda; pediu desculpas quando quase derrubou uma senhora ao abrir a porta com raiva e praguejando. A menina não mais lia e tudo estava vazio quando se dirigiu ao estacionamento soltando o cadeado.

A noite como em tantas outras vezes parecia abraçar-lhe e as ruas vazias do bairro normalmente assustariam e ficaria temeroso de ser assaltado ou algo do gênero. Suas pernas estavam automatizadas e pedalavam indo e desviando sem nem ao menos serem guiadas pelo cérebro. Três minutos de aceleração e descuido ao atravessar as avenidas mais movimentadas, foram suficientes para levá-lo à BR-101. Passavam alguns carros, e ele junto do meio fio foi se guiando pra fazer a volta debaixo do viaduto, nunca havia feito esse percurso a noite, mas nesta noite em especial sentia que nada poderia alcançá-lo, estava muito raivoso.

Chegou ao seu prédio com a pupila dilatada, não notou muitos detalhes.

A entrada estava molhada e o piso dos seus sapatos tocando o assoalho fazia um barulho característico; passou por detrás da primeira mureta seguindo para uma área próxima das escadas de emergência onde guardavam as bicicletas, a maioria de crianças e outras tão pouco usadas que enferrujavam na área de solda pela umidade do local.

Quando voltou deu de cara quase que colada com o novo porteiro da madrugada que também entrava para guardar sua bicicleta. Pediu desculpas sem ao menos observá-lo e cabisbaixo se direcionou subindo ligeiramente e entrando no apartamento soltando todo o ar com força. Encostou-se à porta enquanto tentava inutilmente tirar a roupa. As lágrimas rolavam se seus olhos e sabia que era inteiramente e unicamente culpado.

O interfone tocou tempo depois de já ter ficado nu e sentado no chão. Não atendeu. Foi ao quarto sentar-se na cama e ficar observando a luz brilhante das estrelas, algumas mortas, a uma distância consideravelmente estúpida e em como gostaria de ser apenas matéria inorgânica. Respirava.

Seu telefone tocou.

O número estava salvo, mas seus olhos ainda avermelhados e cheios de lágrimas pouco identificaram as letras que vibravam enquanto o próprio celular sugeria deslizar a tela pra atender. Os lençóis eram novos e estavam com aquela aparência de conforto que se tem ao se acordar de manhãzinha cedo e logo se tem de sair para algum lugar tedioso.

Quando pensou em atender, a ligação caiu. Coçou os olhos, esfregou as lágrimas e foi andando ao banheiro, lavou o rosto. Voltou a sala e foi atacar a geladeira, pegou a caixa de suco e um copo no armário de cima; o vento da janela ao lado do sofá soprou forte e mexeu levemente os pelinhos que cresciam na volta da sua bunda.

Ouviu um movimento de chaves, congelou ainda com a porta da geladeira aberta. Poucas pessoas tinham a chave de seu apartamento além dele mesmo, e Esguicho era um deles. A porta rangeu um pouco ao ser aberta e uns passos finos foram entrando.

Jorge agachou-se rapidamente e abriu a gaveta do fundo da geladeira e fechou correndo retornando à sala.

-Então, hoje é o quê? Pepino ou pau?

A luz não estava acesa, mas pela sombra que se fazia da luz pouca que vinha do corredor Jorge logo notou que o rapaz que estava de frente a si não era de modo algum o Esguicho, o topete não estava demarcado. Não respondeu, puxou a porta ainda entreaberta com os pés e bateu-a, o estrondo provavelmente foi ouvido por todos do prédio que estivessem acordados ou no mínimo um sono leve.

O ambiente inteiro estava em penumbra e Jorge abaixou a mão que segurava o pepino deixando-o cair ao chão. Do pouco que vira do homem fora o sapato que rapidamente já estava fora dos pés. Estavam também molhados e faziam o mesmo som que os seus fizeram quando estava no térreo. Imaginou que fosse o porteiro, até perguntou isso, mas não obteve resposta. Ele chegou bem em sua frente com uma calma real, e a cada passo silencioso e aparentemente frio que vinha dando parecia mais como um belo tigre de bengala desfilando por um lugar desconhecido que aos poucos ia se familiarizando.

Sua respiração era forte e pesada, mas pausada e lenta. Ao sair de si o ar estava quente e aquele calor chegava até os pelos do peito do Jorge. Ele apenas usava camisa e calças, e estava a menos de dez centímetros nariz-nariz.

As curvas eram bem visíveis e ele possuía um queixo largo e se houvesse luz suficiente Jorge poderia jurar que possuía aquela bipartição na pontinha. A mandíbula era quadrada e o corpo todo se movia na respiração. Jorge se aproximou lentamente, centímetro por centímetro, e temendo fazer algum movimento brusco, sentia-se como prestes a entrar na jaula e alisar a cabeça de um animal selvagem que podia machucar-lhe. Fungou.

Ele parou e suas feições indicavam que devesse parar também. Suas mãos estavam soltas e no instante entre uma piscada e outra, o Jorge estava beijando-o. Nunca havia sentido a necessidade de esperar permissão, mesmo que não fosse direta para beijar algum dos caras que se interessavam por ele. Tudo sempre parecera tão natural.

Definitivamente sentiu-se ainda mais tenso quando sentiu os dedos tocando-lhe a pele, eriçava-se e todos os pelos de seu corpo se esticavam buscando algum tipo de equilíbrio eletrostático; a ponta dos dedos deslizava pelas suas costas fazendo o caminho de sua coluna até a lombar onde em movimentos circulares ele esfregava as unhas compridas tirando finos gemidos entre os lábios unidos e molhados.

A unha do mindinho era pontiaguda e o seu toque deixava uma marca fina e esbranquiçada ao passo da pressão que exercia sendo levada em meio aos lados perfeitos da bunda do Jorge. De alguma maneira ele se erguia ficando cada vez mais na ponta dos pés. A unha tocou-lhe o anel relaxado e pulsando; a bandeira já poderia ser erguida em seu mastro, que até o momento estava intocado.

Estremeceu quase caindo de joelhos quando aquela unha fina tocou a sua entrada e remexeu tentando conseguir algum tipo de entrada facilita. Seus olhos encheram-se de lágrimas, não mais de choro. Não conseguiu, soltou-lhe os lábios. Estava com a cabeça encostada na camisa, o homem continuava em pé na mesma posição e retirou a mão de lá após o ocorrido.

Pela primeira vez na noite, ele respondeu a uma pergunta sua.

-Ambos, ao mesmo tempo.

O garoto do 304 Onde histórias criam vida. Descubra agora