Capítulo 29

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Observava os alunos me direcionando olhares curiosos enquanto saíam para ir para o recreio, hoje era segunda feira e também o primeiro dia que eu estava "ressurgindo" na escola. Os alunos ainda comentavam ou olhavam para mim, porém agora era diferente, eu tinha três pessoas maravilhosas que me ajudavam a segurar a barra, sendo assim, me sentia segura. Me sentia no controle.

Afinal, eu tinha que estar.

Enquanto eles saíam para o recreio, eu aguardava a professora de Literatura dizer o que diabos queria. A mesma tinha pedido para falar comigo no final da aula e aquele friozinho na barriga dizendo que você se ferrou já estava bem nítido aqui dentro.

- Então Olívia – pigarreia ela chamando minha atenção – Andei lendo seu poema, lembra-se dele?

- Ah – reflito coçando a cabeça nervosa – Claro, lembro sim.

Ela abre uma pasta e começa a folhear as folhas de lá, procurando algo.

- A cidade está promovendo uma espécie de concurso nas escolas. Onde é necessário produzir um segundo trabalho sobre o mesmo assunto do seu primeiro poema. – ela parece encontrar o que estava procurando e percebo ser meu poema – Seu poema se chama Cidades Incertas, então poderia fazer alguma coisa com um tema do tipo. – ela me entrega a folha – O vencedor irá ter destaque no Diário de Itapema. Porém, apenas esses – Ela aponta para meu trabalho – melhores trabalhos de cada turma serão convidados para participar do concurso. Aquele poema foi como uma primeira etapa e como pode ver, você passou, o seu trabalho foi o melhor da turma. – sorri ela.

Lembro que quando escrevi aquele poema, na verdade foi como se estivesse fazendo por mim e não pela nota. Lembro que foi como um desabafo onde eu pude colocar no papel tudo o que eu aguentei, tudo o que enterrei por três anos, o poema era como um grito recheado de necessidade. Pura necessidade de tossir tudo o que me afogava.

- Se você participar vai conseguir uma "notinha" a mais – pisca ela – Vai ser uma série de etapas: O vencedor da turma, o vencedor da escola, que irá competir então com outras escolas da cidade e enfim o vencedor do concurso. E aí, gostaria de participar?

Encaro o poema que tinha feito há algumas semanas atrás.

Cidades Incertas

Pessoas vazias
julgando o incerto.
Corações imaturos
perdidos no inseguro.
"É seguro, juro."
Mas mal sabem eles
que na verdade é
escuro.

Dizem para mim
ouvir a razão
mas eu sei que isso
nem sempre é uma opção.
Eles me atingem
Procuram a fuligem
E fingem amizade.
Mas apenas eu
sei a verdade
por trás da cumplicidade.

A cidade responde
o que o passado esconde.
Vamos fugir e sumir
Para nunca mais afligir.
Escolhas foram feitas
Cidades foram traçadas
Pessoas foram predestinadas.
E agora só nos resta
aproveitar o que sobrou.

Cidades incertas;
e as rodovias de um futuro duvidoso.
Cidades incertas;
sob as sombras da ilusão.
Cidades incertas;

e essas pessoas engarrafadas.

Muitas coisas aconteceram para aquelas palavras saíssem da minha cabeça. E muitas coisas também aconteceram semanas depois. Os sentimentos mudaram, alguns se intensificaram. E eu estava começando a aceitar o que aconteceu. Aquele poema merecia uma continuação.

Olho para a professora que me encarava cheia de esperança.

- Sim.

***

Cidades IncertasOnde histórias criam vida. Descubra agora