11 anos atrás.
- Abre essa porta Rose.
Meu pai esbravejava do lado de fora da nossa casa enquanto minha mãe me abraçava forte no sofá, meu corpo franzino de criança tremia mais forte a cada soco que ele dava na porta de madeira, eu sabia que quando ele entrasse descontaria toda sua raiva em mamãe.
Não era a primeira vez que ele chegava bêbado e sem as chaves, mas aquilo era um alívio pra mamãe pois atrasava a chuva de insultos e as agressões.
Ele gritou mais uma vez do lado de fora:- Abre essa merda!
Em seguida um baque, ouvimos o barulho de alguns vasinhos de planta caindo e se partindo ao chão, mamãe me largou no sofá, caminhou lentamente até a porta e quando abriu, papai estava caído ao solo, os vizinhos que acompanhavam sua tentativa de entrar se aproximaram e tentaram acudir. Eu ainda estava imóvel no sofá, torcendo no meu consciente pra que ele estivesse morto.
Quando a ambulância chegou, mamãe foi com ele para o hospital da pequena cidade em que morávamos. Regina amiga da minha mãe me acolheu em sua pequena casa. Regina era casada e louca pra ter filhos, e ao contrário do meu pai o Seu Cezário era um homem exemplar, as vezes torcia pra ser filha deles, não que eu não amassse meu pai, mas por exemplo eu naquele momento não tinha reações tristes, pelo contrário aqueles eu me sentia aliviada sabia que ele não podia fazer nada contra mamãe e isso me deixava tranquila. Eu só pedia pra Deus que ele acabasse com nosso sofrimento.
Três dias se passaram desde que o papai havia sido internado, a campanhia da casa de Regina tocou e ainda nem eram nove da manhã, mamãe entrou no quarto com uma cara inchada e triste, me beijou a testa e me ajudou a despertar. Fiquei observando seu semblante cansado porém com uma expressão de alivio, ela tinha algo pra me falar, mas não sabia como. Então eu segurei suas mãos calejadas pelo serviço de lavadeira, olhei em seus olhos e disse:
- Mamãe, ele morreu?
Tudo que eu queria ouvir era uma resposta positiva, não queria mais ver minha mãe naquela situação. Sabemos que não é normal uma criança desejar isso para o pai, mas meu pai não era um pai como os outros, sentia inveja de minhas amiguinhas do colégio que tinham pais amorosos em casa, enquanto o meu vivia caído na porta dos bares do bairro e quando tinha forças só ia pra casa para espancar minha mãe. A agressão nunca foi comigo mas me marcava também, vivia acuada e era extremamente tímida, não me relacionava bem com as demais crianças e as vezes era agressiva.
Mamãe fechou os olhos e me abraçou.
- Sim. - Foi a única palavra que saiu de sua boca.
Abracei mamãe e ela chorou, chorou durante horas, chorei por ela naquele momento e me senti aliviada por que nosso sofrimento havia acabado.
Não fui ao enterro e não chorei além daquele momento, só rezei baixinho naquele dia e pedi a Deus que o recebesse de braços abertos.
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Uma Paixão Inesperada
RomanceEstá história é sobre Amarilis Costa e Eduardo Albuquerque, ambos cheios de traumas mas que em certo momento da vida se cruzam e tudo muda. (História fictícia, todos os lugares e pessoas relatados aqui não existem.)