Onde tudo se perde

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Esta estória escrevi faz tempo, quando ainda sonhava em escrever. Se gostarem, por favor, cometem e deem estrelinha. Vai me ajudar. Obrigada.

Onde tudo se perde

Liz gostava de Alan desde criança, só não sabia disso. Andavam juntos. Comiam juntos. Como irmãos? Era assim que ela via tudo. Irmãos.

O tempo foi passando. Ela criou mais corpo e se viu com novos desejos. Começou a olhá-lo diferente. Ele era lindo. O mais popular da escola. E ela, a mais comum. Mas nunca deixaram de andar juntos. Ele a pegava em casa de bicicleta e a levava para o seu lugar secreto. Um cantinho da praia, onde ninguém ia. Lá conversavam de tudo enquanto ela fazia bolhas de sabão.

— Que mania essa sua!

— Gosto de fazer bolhas, me acalma. Você deveria tentar. — Liz estendeu o aro de bolhas para ele. Alan não o pegou.

— Eu vou embora em três dias.

— Como? — Estavam na praia. O céu estendia-se azul infinito adentro. O calor era bom. Alan a olhou de lado. Respirou fundo. Um frio na barriga.

— Vou embora em três dias... Já é certo. São Paulo. Minha tia era a única coisa que me prendia aqui... E já que ela...

Não completou a frase, ela parecia pesar chumbo na garganta, não tinha coragem. Liz o mirou. Sabia disso. Sabia que ele iria embora. Só não sabia para onde. E na verdade já o imaginava andando quilômetros de bicicleta para visitá-la. Mas, São Paulo, tão longe! Um golpe no coração de Liz. Ela tremeu. Não disse nada. Eles só tinham treze anos, o que era essa sensação estranha? Medo de perder, o quê mesmo? Uma amizade, ou...

— Alan, eu...

— Deixa eu te mostrar uma coisa, Liz? Quer ver? — Ela parou e o encarou um instante. Sabia o que era. Mas ele sempre pedia, sempre.

— Pode mostrar, sim. — Um frio dançava em sua barriga. Mordeu de leve o lábio inferior. — Onde?

— Vem!

Foram correndo. Riram no caminho. Olharam-se. E por um segundo, só um segundo, Liz esqueceu que era a última vez. O último encontro. De dois amigos? Ou... Isso corroía a mente dela.

Uma praça jardim. A única em toda a cidade a beira mar. A mais triste por isso? A mais melancólica, será? Ela não sabia o que sentia. Quando soube, era tarde.

— É a minha predileta! — Ele sorriu quente pra ela. Como um sol particular. Só seu? Ela não sabia dizer. — Aqui à noite é lindo, Liz. Você ia gostar, juro que ia. Quer vir aqui à noite, comigo?

Ela o esquadrinhou de cima a baixo. Lindo, alto, louro. Seu? Será?

Já tomaram banho juntos uma vez. Como irmãos. Como seria agora? Como...

— Que está pensando? Não me respondeu, por quê?

— Gosto do dia. É mais bonito, não acha? — Alan lançou mais um sorriso quente. Depois balançou em negativa a cabeça.

— Não, não gosto! Prefiro a noite. — Liz o fitou interrogativa. O que ele queria dizer?

— Como assim? Por quê? — Aquilo era um fora, será? Ele apontou para o mar, depois para o céu. Nuvens de algodão sorriam para eles. Com escárnio. — O que você queria me mostrar?

— Ali, veja. Gaivotas!

— Você gosta, né? Só que você não pode ver as gaivotas à noite, Alan. Só o som, e fica tão triste. — Uma gaivota voou sobre eles. Longe e indiferente.

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⏰ Última atualização: Mar 16, 2016 ⏰

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