MOTOQUEIRO MISTERIOSO

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O quê? Ele chegou mais cedo? Como assim já saiu com dois amigos? Saiu pra onde? Disse que ia me buscar em casa para sairmos? Dona Marta, como assim?


Eu tenho aula até tarde, ele sabe disso. E não estou com ele, como a senhora pode perceber - seu tom


de voz +cando cada vez mais alto e irritado. Kadu começou a se interessar pela conversa. - Não o


defenda, Dona Marta! Pelo amor de Deus, a senhora também é mulher, deveria +car do meu lado. Faça--


me o favor, Dona Marta. Quer saber? Tchau! - desligou o aparelho. - Vaca estúpida!


- Calma - disse Kadu, rindo por dentro.


Ela ameaçou jogar o telefone longe, mas no último segundo desistiu.


- Aquele +lho da puta! - esbravejou. Depois +cou meio sem graça, e colocou as mãos na


frente da boca. - Perdão, saiu sem querer.


- Não tem problema. Faz bem desabafar. Acho que palavrões são capazes de economizarmos


horas e horas de terapia. O alívio é imediato.


- Nem tanto assim. Ainda estou me sentindo péssima. Com certeza a pior noite da minha vida.


Perseguida por um motoqueiro maluco e agora isso.


Kadu arregalou os olhos.


- Motoqueiro maluco?


- Sim, foi um susto e tanto.


- Onde foi isso, aqui no centro?


- Não, na estrada velha entre Pinda e Taubaté.


- Que foda.


- Fez um bons arranhões no meu pobre carrinho. Coitado, já tão velho e agora todo arranhado.


Sempre cuidei tão bem dele.


- Pelo menos você está bem.


- Ah, sim, claro, apesar de psicologicamente em frangalhos.


- Mas parece que você é durona mesmo, vai superar - ela gostou de ouvir aquilo e sorriu para


ele. - Adorei como você encarou a sua sogra.


- Ex-sogra, você quis dizer. E nem me lembre disso. Um trauma por vez.


Kadu soltou uma gargalhada. O namorado já era.


- OK, desculpa.


Eles trocaram olhares por alguns instantes. Sorrindo ela +cava ainda mais linda. E agora estava


solteira novamente.


- Sei que você está fragilizada e tal, mas o convite para o barzinho ainda está de pé.


- Olha, se fosse um outro dia eu não recusaria, sério. Mas ...


- Sempre o mas. Odeio estes mas.


- Calma, rapaz, não seja tão melodramático! Hoje eu seria uma péssima companhia. Cerveja


nenhuma neste mundo me faria esquecer o que me aconteceu naquela estrada. Foi bizarro demais.


Fico arrepiada só de lembrar.


- Nossa, agora você me deixou curioso.


- E vai continuar curioso. Não te conheço direito, portanto não vou lhe dar a oportunidade de


sair por aí espalhando para toda a faculdade que a Anelize do 1º ano de Publicidade é uma maluca de


pedra.


- Eu jamais faria isso.


- Ah, faria, faria sim. E jogaria no seu Facebook ainda hoje, e da noite para o dia eu viraria a


maluca da UNITAU. Não, obrigado. O que eu vi morre comigo, rapaz.


- Você tem dificuldade em chamar os outros pelo nome? Fica me chamando de rapaz.


Ela riu novamente. Dizem que uma garota sorrindo muito para você pode signi+car duas coisas:


ela está na sua ou achou você um total idiota. Kadu está certo de que a primeira opção tem 80 porcento


contra 20 da segunda.


Ele é um rapaz bonito, mas como a maioria dos rapazes da sua idade, tem um péssimo gosto


para se vestir. Hoje ele está com uma jaqueta jeans velha sobre uma camiseta preta do anti-herói Justi-


ceiro, da Marvel. Calça jeans com um buraco nos joelhos e um par de tênis vermelho que parece ter


vindo de uma guerra na Bósnia. Loiro, cabelos estilo Kurt Cobain, barba por fazer, olhos azuis e um nariz Afilado

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