Cap 1. Hieróglifos

87 4 5
                                    


  Eu nunca fui uma criança muito normal. Mas não é o que você deve estar pensando, pois quando alguém fala "Ela não é normal", logo pensamos "Deve ser uma maluca", ou algo parecido. Mas não é esse tipo de "normal" que estou dizendo. O mais apropriado seria dizer que fui uma criança incomum. Sim, incomum é exatamente a palavra que me descreveu em meus primeiros e mais fantásticos anos de vida. Minha infância foi única e, felizmente, posso dizer que sobrevivi a ela! Você deve estar rindo, ou até mesmo pensando "Nossa... Mas o que aconteceu de tão especial? Todos nascidos entre os anos 80 e 90 tiveram uma infância bem parecida!". Sim, minha infância foi de fato parecida com a de muitas crianças, mas ao longo deste livro, você perceberá o quanto ela poderá mudar SUA vida. 

Em meados do ano de 1993, quando meus rabiscos começaram a ficar legíveis, lápis de cor e giz de cera eram ferramentas fundamentais para grandes aventuras, como para qualquer criança, e as minhas não eram vividas em meros pedaços de papel – meus desenhos ou, como eu prefiro dizer, meus hieróglifos, hahaha!! – Não tenho definição melhor para meus rabiscos. Enfim, o que eu queria mesmo dizer é que meus hieróglifos eram mais do que especiais, tinham um lugar VIP, que posso considerar como uma galeria particular.

Todos os dias, eu e meus gizes de cera criávamos aventuras incríveis na longa e alta parede do corredor da minha casa. Sim, pode rir! Com certeza você acabou de pensar que toda criança faz isso, ou então pensou "Eu já fiz isso", mas é aí que está a surpresa, porque eu tenho certeza de que quando você fazia isso, era uma travessura e levava uma enorme bronca de sua mãe ou até mesmo ficava de castigo. Então, como eu disse, minha infância foi incomum, pois o corredor da minha casa era o lugar que minha super mãe havia reservado para minhas primeiras artes.

Era um lugar onde meu talento para desenho começou a se desenvolver e, por mais que fossem apenas rabiscos, foram muito especiais, acompanhando minha rotina diária até os seis anos.

Agora, o que tem de especial nisso? Simples: li-ber-da-de. Ter a liberdade de fazer algo incomum, ser incentivada e apreciada. Por isso é de grande valor. Quando criança, eu não fazia ideia de como desenhar em paredes poderia me fazer uma pessoa melhor. Com o tempo, pude perceber que foi um dos primeiros atos de coragem que pude exercer. Sim, de coragem! Coragem para criar, de ousar. A permissão de desenhar na parede eu já tinha, mas não tive instruções de como deveriam ser os desenhos.

Com apenas quatro anos recebi esta liberdade e, com ousadia, aproveitei bem... Ao menos, até a casa ser pintada. Foi um reinado curto, eu admito, mas dois anos foram suficientes para transformar minha coragem em belos hieróglifos nas duas paredes, de quase cinco metros, do nosso corredor. E lá se foram meus desenhos, cobertos pela primeira camada de tinta. Uma camada grossa o suficiente para apagar os rabiscos, mas não o bastante para apagá-los de minhas lembranças.

Com a chegada iminente da nova cor, minha diversão passou a ser apenas no papel. É claro que, em alguns dias, eu podia desenhar nas paredes e no chão do quintal, mas com giz de lousa, é claro. Não era uma arte muito duradoura, pois os desenhos eram facilmente retirados com água da chuva ou por mim nos dias de sexta-feira, quando ajudava minha mãe a lavar o quintal. De qualquer forma, não importava onde eu podia desenhar, a liberdade de criar já estava viva em mim, borbulhando em minha mente, pronta para ocupar seu lugar colorido no mundo.

A coragem é um dos impulsos mais importante para o desenvolvimento de um ser humano. Cada etapa da vida, cada passo dado, cada lição aprendida, são conquistados com um pouco de coragem.

"Superar um obstáculo não é vencer o medo, é aliar-se a ele em busca de coragem!" – J. C.

Então, qual foi a primeira vez que você aproveitou sua liberdade?

Escreva, para você mesmo, como foi essa experiência e o que trouxe de bom para você:

VinciOnde histórias criam vida. Descubra agora