Capítulo 7

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As pessoas são como refeições que fizemos no passado.

Não conseguimos memorizar o sabor de todas e nem qual foi a sensação que tivemos após prová-las e digeri-las, porém, algumas ficam marcadas na nossa memória por terem sido ótimas ou péssimas.

Mesmo nos esforçando para relembrar completamente o gosto e os detalhes, não conseguimos obter sucesso total nessa busca.

Certo alimento é comum para alguns: consomem, se satisfazem e horas depois nem lembram o que encheu a sua barriga, entretanto, para outros, o mesmo pode ter um sabor especial que vai fazer com que a pessoa comente sobre tal por horas, dias e talvez anos, ou pode causar uma sensação tão ruim que vai levar ao mesmo efeito, só que negativamente.

Não, não é bobagem comparar o ser humano com uma refeição feita. Assim como tudo na vida, isso também tem diversas maneiras de interpretação, podem interpretar de maneira vulgar ou como algo essencial que nos mantém de pé.

É clichê, mas eu preciso enfatizar: Todo ser, precisa de outro ser, para "ser". Sozinhos somos apenas figuras soltas em preto e branco, sem ninguém para colorir e sem alguém para abrir a porta e nos colorir também.

Mas as questões são:

O que fazer para ser uma lembrança boa na memória de quem é importante para nós?

Será que não está ao nosso alcance fazer com que isso aconteça?

É singular ou plural?

O que te marca?

Quais foram as refeições que você nunca esqueceu e quais gostaria de repetir?

Outra comparação seria com as bebidas: algumas como água, outras como o álcool ou o café que tomamos ao visitarmos alguém, deixando o anfitrião sempre em dúvida se o sabor realmente agradou.

Palavras podem ser falsas, mas um pedido de "bis" raramente é.

O que fazer para quem realmente amamos pedir "bis" do nosso sabor?

A rotina nos empurra, muitas vezes esquecemos de organizar as gavetas com as nossas recordações e acabamos acumulando mais lembranças ruins, do que boas.

Por que na maioria das vezes, quando gostamos de algum alimento, comemos rapidamente, como esfomeados querendo encher a barriga, então acabamos não apreciando o verdadeiro sabor e também não aproveitamos a boa sensação no presente, deixando ela para ser sentida no futuro como nostalgia.

Será que o tempo é um professor dedicado e paciente, que ensina aos seus alunos como apreciar e depois fazer uma boa digestão?

Gostaria de concluir esse texto cheio de questionamentos com todas as respostas, mas infelizmente, ainda não possuo elas, espero poder responder algum dia.

Sigo exibindo o meu verdadeiro "eu", com o desejo de ser muitas vezes um alimento para alguém, alimento que além de ser essencial, seja saboroso e tão especial que deixe marca e desperte o desejo com a vontade de pedir "bis".

Já tenho minhas refeições e bebidas importantes guardadas na memória, aguardo ansiosa pelas próximas, espero ter sabedoria para encher não somente o corpo, mas também a alma com elas. Podem me chamar de louca, mas desejo as ruins também, para que eu não esqueça de agradecer, nem o sabor, nem o valor das boas quando chegarem.

No fundo, todos nós desejamos ser inesquecíveis e temos alguém que jamais esqueceremos.

O caso de Ana era assim, só que tudo isso negativamente.

*Ana narrando*

Mais cedo naquele dia...

Acordei com um certo incomodo, um péssimo pressentimento. Mas nem liguei, meus instintos costumam falhar sempre, ou melhor, quase sempre.

Droga De Amor (Parado)Onde histórias criam vida. Descubra agora