Aberração

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O balançar do carro está me deixando tonta, mas na verdade isso só está ajudando a piorar, a realidade é que não estou me sentindo bem desde horas atrás. Me endireitei no chão e os enfermeiros arregalaram os olhos assustados e atentos aos meus movimentos. Minha tentativa de ficar em uma posição boa foi falha já que escorreguei e acabei batendo a cabeça no chão branco da ambulância. Fecho minhas pálpebras e enguli seco sentindo minha gargando completamente seca me fazendo engasgar, não lembro a última vez que bebi água. Passei duas horas na delegacia encarando pessoas desconhecidas que me chamavam de demônio e outros nomes horríveis.

Me chamo Eveline Jones e tenho 17 anos. Estou nesse exato momento a caminho da minha nova casa, já que com a morte dos meus pais não tenho ninguém pra ficar comigo, na verdade eu tenho uma família enorme, mas nenhum deles quiseram a guarda de uma assassina, mas quem quer?

Eu Eveline, fui acusada pela morte dos meus pais, não me deram chance de me defender ou algo parecido, apenas me condenaram e fizerem acusações, me vestiram com uma camisa de força, que é a aqui estou usando nesse exato momento. Mas o que as palavras de uma adolescente conta. As pessoas se baseiam pelo fatos, e tudo indicava naquela cena que realmente fui eu, a assassina dos meus pais.

Levanto meu rosto com cautela encontrando os olhares dos enfermeiros sobre mim, eles me olham com repugnância como se eu fosse um monstro e talvez realmente eu fosse já que não me lembro do que aconteceu naquela triste noite de natal...

Estava prestes a dar meia noite, era possível ouvir a animação da cidade que nunca dorme, Nova York estava no clima perfeito para as comemorações natalinas, a neve caia lá fora deixando o clima agradável, as músicas de natal podiam ser ouvidas, os risos das pessoas, a animação de cada uma delas chegava a ser invejável. Mas na minha casa estava tudo diferente, tudo se encontrava em silêncio. Meus pais estavam na cozinha comendo, nunca comemoramos o natal, e isso chegava a ser frustrante. Me aproximei da árvore e coloquei uma meia empudurada nela igual eu havia visto nós filmes, então o relógio soou anunciando ser meia noite e foi quanto eu fui de encontro ao chão a ser atinginda por algo.

Repite essa história tantas vezes mas ninguém acreditou em mim, ninguém acreditou no meu sofrimento e nem nas lágrimas que desciam desesperadamente pelo meu rosto, eu era apenas uma garota que acabou de perder os pais de uma maneira perturbadora. Eu não tenho culpa de ter apagado e não me lembrar do que aconteceu, mas me lembro do que ocorreu quando eu acordei, e entro em desespero só de lembrar. Meus pais ambos esquartejados no meio da sala, partes do seus corpos espalhados por todo o cômodo e ao meu lado uma faca ensanguentada e me pergunto se na verdade eu teria matado meu pais? Eu estava aterrorizada e as pessoas gritavam...

Monstro.... Satanás... Garota do diabo..... Você merece morrer.... Vai viver no inferno....

Sinto uma picada no meu braço e vejo que o enfermeiro me aplicou uma injeção, a décima apenas hoje e já sei que vou ficar inconsciente em intantes, mas antes de apagar posso ouvir um mumurro do homem:

Você merece sofrer...

Estremeçi de frio e me encolhi abraçando meu corpo tentando me aquecer, estou deitada em algo duro e frio e sei que é o chão, sinto tanta falta da minha cama, antigamente parecia ser um ato irrelevante, mas hoje chega a ser grandioso o ato de apenas deitar naquele acochoado. Abro minhas pálpebras com a esperança de enxergar melhor, mas foi frustrante, minha visão não mudou nada. Eu não consigo enxergar nada ao meu redor, tudo estava escuro. Semi cerro os olhos encarando uns frestes de luz, ali há uma porta. É horrível quando seus olhos não são capazes de enxergar, chegar a ser enlouquecedor não ter noção de onde você se encontra. Meu queixo tremia fazendo meus dentes se chocarem fazendo um barulho irritante, o frio das ruas de Nova York não se comparam a esse lugar, mexo meus braços percebendo que estou livre daquela camisa horrível que me prendia sem me fazer mexer um músculo se quer. Respiro fundo me afastando e dei um pulo quando sentir uma frieza em minhas costas, levo minhas mãos tocando uma parede gélida atrás de mim, me apoio na mesma levantando.

Contos De Uma Cidade Que Nunca DormeOnde histórias criam vida. Descubra agora