Trintas e Três - Alô? Sou eu...

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Tem certeza de que quer conversar sobre isso? — Indagou Youngjae, bebericando um gole mais de café. Ele e Senhor Jung estavam sentados no apartamento do primeiro, um de frente para o outro.

— Uma hora ou outra teríamos que tocar nesse assunto. E quanto antes, melhor. — O economista assentiu, aguardando o mais velho falar. Suspirando, o outro recomeçou: — O que, exatamente, você queria com Daehyun?

— OH! — Youngjae derramou um pouco de café na própria blusa, assustado com o modo direto do... Ex-sogro. Pensar daquele jeito não estava ajudando em nada sua situação desconcertante. — E-Eu o amava... O amo.

— Isso não responde à minha pergunta, filho.

— Senhor Jung, eu queria ajudar a minha amiga ao mesmo tempo em que gostaria de ficar com Daehyun. Eu tinha a falsa ideia de que nós até criaríamos a criança juntos.

— Espera, calma. Que criança, Youngjae?

O economista bateu com a mão na própria testa, irritado com a estupidez e lerdeza de seu cérebro. Cada vez mais se enrolava nas palavras. Foi a sua vez de suspirar fundo; reunindo coragem, explicou resumidamente a história de Dalhee e a situação periclitante em que se encontrava. Ao fim da narrativa, o síndico soltou uma baixa risada, esfregando uma mão na outra.

— Complicado, complicado. Mas você não é o Super-Homem e não pode ajudar todo mundo.

— Eu realmente não sou. — Sussurrou, lembrando do dia em que Daehyun se apresentara como "o herói do seu filho" na casa dos Yoo. Fora ridículo e adorável, simultaneamente.

— O seu compromisso era com o meu filho. Poderia ter ajudado sua amiga de outro modo.

— O meu desespero não me deixou pensar! No início, comecei a ajudá-la porque achei que seria uma ótima maneira de agradar minha família. Depois acabei me apaixonando pelo seu filho e me vi sem saída. De mãos atadas.

— É... Complicado, complicado. — Repetiu o homem, incapaz de dizer outra coisa.

Ficaram em silêncio, avaliando a situação. Youngjae já estava cansado de repetir aquela mesma história e aquele mesmo motivo para si mesmo e, também, para os outros. Queria enterrar aquilo de vez; tentar recomeçar sua vida do zero. Quem sabe assim conseguiria Daehyun de volta.

— Essa conversa não mudará muita coisa. Não vou apontar o dedo na sua cara e dizer que estava certo ou errado, eu só gostaria de ouvir a sua versão. Toda história três dois lados... — Confessou o mais velho, já se levantando e indo em direção à porta. — Ah, já ia me esquecendo. — O homem voltou e entregou a chave do carro na mão do rapaz, dando-lhe um tapa amigável nas costas em seguida. — Cuide dele até que Daehyun volte.

— Quando ele volta? — Perguntou esperançoso, pegando a chave e a apertando entre os dedos com força.

— Só Deus sabe, meu amigo.

...

A noite em Seul estava agitada do lado de fora, assim como o coração de Youngjae. Ele não conseguia dormir. A rápida conversa com o Senhor Jung havia acendido algo dentro de si.

Virou na cama e ficou de barriga para baixo; o rosto enfiado no travesseiro. O que poderia fazer?

O coração estava acelerado e se sentia mais sozinho do que nunca. Cada célula do seu corpo parecia estar em chamas.

O cérebro enchia suas veias de adrenalina à toa, assim como fazia seu coração se sentir esperançoso. Youngjae não iria atrás de Daehyun. Não naquela noite. No entanto, o seu subconsciente apitava que algo grandioso aconteceria. Mas o que seria?

Ligou a televisão, tentando se distrair. A cada canal que passava, sem interesse, sentia-se mais e mais irritado. Era como se o seu corpo estivesse bravo com o desinteresse dele mesmo. O que queria que fizesse?

De supetão, levantou-se da cama e foi até o banheiro. Lavou o rosto com água fria e encarou-se no espelho. Segundos depois, percebera que estava segurando o próprio celular com força. Passou o dedo pela lista de contatos, apertando o número de Daehyun. Deveria ligar? Mas falaria o quê? Provavelmente seu número deveria estar bloqueado.

Cancelou a chamada.

Trincou as sobrancelhas, jogando o aparelho para longe e voltando para sua cama. Abriu a gaveta da mobília e puxou o seu terço de lá. Rezar parecia ser a melhor opção.

Youngjae dormiu e não teve sonhos. Não sonhou com nada, apenas a escuridão. Acordou pior do que já estava e fez a clássica pergunta:

— Que dia é hoje? — Buscou o relógio no criado-mudo e conteve um suspiro. — Sexta-feira...

Teve vontade de chorar, mas não o fez. Calçou os chinelos e se preparou para mais um dia de trabalho.

Antes que pudesse tirar as suas torradas da chapa quente, seu celular tocou no quarto. Caminhando a passos desanimados, procurou-o sobre a cama, não encontrando. Vasculhou o quarto, encontrando o aparelho no chão. Pegou-o e virou o visor para si.

"Jung Daehyun".

Esse era o nome que piscava e tremia na tela de pixels. Uma foto do mesmo aparecia de fundo, o que deixou o economista ainda mais eufórico.

De repente, o celular parou de vibrar. A ligação havia sido perdida.

Mais desesperado do que antes, Youngjae digitou os números que conhecia de cor com rapidez.

Chamou...

Chamou...

Chamou...

E chamou...

Quando já estava desistindo, uma voz profunda e muito conhecida atendeu:

— Alô?

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