Trinta e Quatro - Os pássaros voam, os anos também

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Alô? — A voz do outro lado da linha repete, um pouco impaciente. — Youngjae, está aí?

— Sim... Eu estou. — O economista se joga na cama, triste. — Aconteceu alguma coisa, Senhor Jung? Por que está com o telefone do Daehyun?

— Ah, ele me deu este número. — O rapaz logo entendeu o motivo pelo qual o cantor havia dado o antigo celular ao pai: para evitar falar com ele. — Mas o foco não é este. Eu trago notícias do Daehyun!

— Notícias? Boas ou ruins? Ele está bem?

— Acalme-se, amigo. Ele não poderia estar melhor. O meu filho finalmente conseguiu o que queria...

— O quê? Como assim?

— Ele me ligou hoje, logo de manhã. Não está acostumado ainda com o fuso horário de Ba... — O homem segurou a língua, interrompendo a frase de modo brusco. — Bom... O fuso horário de "lá". E me contou que encontrou um produtor musical em um barzinho e o rapaz acabou dando uma chance para o talento de Daehyun. Ele vai debutar! MEU filho vai debutar!

Youngjae escutou alguns gritos vindos do Senhor Jung e, provavelmente, da Senhora Jung também. Soltou uma risada nasalada, sentindo-se estranho.

— Parabéns! Ele merece todo o reconhecimento do mundo. — E não era mentira. Falava aquilo de coração. — Eu preciso desligar agora. Mas obrigado por me avisar. Continuarei torcendo por ele.

— Eu sei que sim. — O síndico pareceu ponderar por uns segundos, deixando a linha desconfortavelmente muda. — Youngjae, ele me perguntou de você.

— Ah, legal.

Senhor Jung suspirou, desistindo de continuar com tal assunto. Não seria intermediário de uma briga de casal. Despediram-se depressa, com poucas palavras.

O economista ficou um tempo sentado na borda da cama, sem piscar. Uma quente e fina lágrima desceu de seu olho e ele não a limpou. Não demorou para que mais fizessem o mesmo caminho, contornando o rosto redondo e avermelhado.

Aquela notícia mudaria completamente as coisas. E acabava com todas as suas chances de reconquistar o cantor.

...

/TRÊS ANOS DEPOIS/

— JOMIN! Não corra tanto. Se você se machucar, seu pai me mata. Eu me mato. — Sussurrou as duas últimas frases, segurando a bolsa colorida com mais força no ombro.

Era um tarde ensolarada no centro de Seul. Youngjae passeava com os dois sobrinhos, que mais pareciam duas feras soltas na natureza. Corriam de um lado para o outro, pulando nas vitrines e berrando para as barraquinhas de comida; algumas vezes empurraram pessoas, mas foram educados o suficiente para pedirem desculpas.

Os dois haviam crescido. Muito!

Jomin não tinha mais cabelos curtos e bem cortados. Estava uma pequena rebelde. Pintara as pontas de rosa, com alguma tinta inofensiva e feita para crianças, e mantinha-os bem longos, quase em sua fina cintura. Continuava com a personalidade doce e bondosa, no entanto insistira em ser um pouco mimada, emburrando com facilidade quando não conseguia algo.

Bomin, por outro lado, desenvolvera uma personalidade digna de cavalheiro. Era um príncipe! Tinha o mesmo corte de cabelo desde que era menor e as roupas eram sempre formais e arrumadas demais para qualquer ocasião. Todos os dentes permanentes já tinham crescido e, para manter um sorriso reto, começara a usar aparelho fixo.

O economista olhava para os seus sobrinhos e não conseguia acreditar no quanto haviam amadurecido em três anos; já não eram mais criancinhas.

— Tio, vamos no Karaokê? Por favor? — Implorou o menino.

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