Capítulo 1

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Catorze de setembro de dois mil e treze. Tudo começa com uma data, mesmo que você não se lembre, tem um número escondido ali.  Eu estava na aula de história, a professora tinha acabado de fazer seu típico discurso de que não precisava fazer nada, só se sentar em sua cadeira, que mesmo assim teria seu salário no final do mês. Isso era patético. 
Antônio Engrácio da Silva, eu não sabia quem tinha sido esse cara, mas esse era o nome da escola. Eu não queria estar ali, preferia estar em qualquer lugar, menos naquela escola cheia de crianças mal criadas e metidas a ricas, que não tinham nem um tostão furado para comprar um biscoito na lojinha da esquina. Fazia um mês que eu tinha me mudado para essa escola, antes eu estudava em uma escola legal, não tão diferente dessa atual, porém as pessoas não se metiam tanto na vida dos outros. Fazia um mês também que eu estava trabalhando, eu me mudei de escola para poder trabalhar. Eu tinha apenas 14 anos. Que grande orgulho.
Tinha pouco tempo que eu tinha me mudado para essa escola e já sabia como as coisas funcionavam. Você não podia usar celular no intervalo, mas podia usar na sala de aula, desde que nenhum professor visse, e mesmo que vissem, eles não ligavam. Não queriam transtorno, só queriam poder sentar suas bundas grandes e gordas e ganhar seus salários miseráveis. Depois do discurso típico da diabinha de história, eu resolvi simplesmente fechar meu caderno e pegar meu celular. Quando as coisas não dão certo, o melhor é se esconder atrás da tela de um eletrônico e se lamentar na internet. Elaborei meu texto e postei: "Quem quer participar de um grupo no Whatsapp?".
Esperei.
Esperei.  Alguém comentou, Ana Júlia,  que maravilha, eu ia ter o que fazer durante essa aula.

Criei o grupo, Ana Júlia e eu. O que eu tinha que falar?

- Oi.
- Oi – disse a Ana.
- Vou adicionar o resto do pessoal – eu disse – não sai do grupo, ok?
- Ok.

O que eu iria fazer agora? Só ela tinha comentado a merda do post. Então eu comecei a postar em todos os grupos que eu estava, até comentei em post de fã clubes. Meu Deus, que flood. Santo angry bird azul do twitter, me desculpe. Mas não importa, eu consegui o que queria. Quase fiquei louca com tanta notificação. Era muita gente, pedi calma, adicionei a todos. 23 pessoas.  Começamos a conversar. Ou melhor, eles começaram a conversar, bateu o sinal, era hora do intervalo  e eu tive que guardar meu celular e descer as escadas para inferno.

Caos. Essa palavra não é suficiente para descrever o intervalo dessa escola, mas era uma boa escolha. Havia gritaria, correria, brincadeiras ridículas e pessoas. Aquelas pessoas eram o ápice do caos. Um total pandemônio. Fiz o que era típico, fui para a fila da merenda pois estava morrendo de fome e só poderia comer quando voltasse do trabalho de noite. Assim que peguei meu lanche, fui o mais rápido possível para o canto mais silencioso que achei. Não é preciso dizer que não era nada silencioso, porém não tinha pirralhos gritando ali. Comi. Comi todo o meu lanche, estava horrível, mas eu precisava comer. Dei uma espiada no celular, eram 10:05 da manhã, não era possível que só tinha se passado quinze minutos, eu teria mais quinze minutos de espera até o sinal tocar e eu ter que retornar para a classe para mais uma entediante e torturante aula. Que ótimo. Não sabia qual era o pior, a aula a seguir, ou ter que ficar quinze minutos inteiros naquela bagunça sem poder usar o celular. Fiz o que era sensato, fui comer de novo. Depois fui para a escada, faltavam apenas dois minutos. Amém.

Essa aula era de geografia, a cara daquele professor me dava tédio. Ele era como um ursão branquelo de óculos. Ele era legal. Mas não  interessante a ponto de me fazer largar o celular, nesse momento eu preferia conhecer meus novos coleguinhas. Desbloqueei a tela e chegaram as notificações, adicionei o resto das pessoas que faltavam. O grupo estava bombando, no começo era sempre assim, depois ninguém mais falaria nada.

- Então, vamos aproveitar, docinho. – deixei escapar.
- O que você disse? – perguntou o professor – Larga esse celular.
- Claro. – respondi com um sorrisinho de escárnio – vou guardar o celular agora mesmo, alteza.

Fiz uma pequena mesura. Ele gostava quando eu fazia isso. Canalha.

Peguei meu celular novamente assim que ele se virou, tentei pegar o fio da conversa, mas eram tantas mensagens que desisti. Mandei um oi. Vários números responderam, mas não a mim.

Então é isso – pensei – eu crio o grupo e sou ignorada, ótimo.

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⏰ Última atualização: Mar 21, 2016 ⏰

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