Introdução

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Meus passos eram lentos pela rua que outrora costumava ser bastante movimentada nesse horário, lembro de pessoas voltando para suas casas depois de um dia comum de trabalho, pais que buscavam seus filhos na escola municipal, lembro com perfeição do carrinho de pipoca da rua principal, podia fazer sol ou chuva ele sempre estava ali, mas não hoje...

Meus pés adentraram a um quintal, a grama alta e úmida sujavam meus tênis brancos, mas eu não me importava... subi os pequenos degraus em frente a porta principal, ignorei a faixa amarela que indicava que aquela casa havia sido contaminada. Havia um grande X vermelho em toda a extensão da porta...

Há seis meses atrás o exército isolou meu bairro, foi uma ação relâmpago, assim que surgiram os primeiros casos de Mortos-Vivos, ou seja lá que diabos aquelas coisas eram, todas as casas com sangue ou fluidos deles fora isolada e era proibida a entrada nesses locais, o medo de contaminação ainda era muito grande, há boatos que atrás dos portões de contenção não existe mais nada vivo, mas como ter certeza? Somos como prisioneiros em nossas próprias casas!

Quando criança, minha atividade favorita era correr pelo jardim dos fundos que dava acesso à casa da senhora Kinowa, uma senhora gentil que cuidava do meu irmão e de mim de vez em quando, e pegar as florezinhas que nasciam logo abaixo das suas janelas, eram as mais lindas que eu lembro de ter visto...

Uma lagrima solitária escorreu pelo meu rosto quando lembrava do final (ou quase) de sua vida, seus olhos já não eram mais os mesmos, sua pele cheirava mal, estava podre, porém seus pés eram firmes e andavam, suas mãos eram duras e agarravam, seus dentes... meu conselho é "fique longe deles"

Forcei a maçaneta da porta, trancada... bufei frustrada e caminhei pela lateral da casa, lembranças da minha infância invadiam minha mente com força quando cheguei aos fundos, procurei com o olhar aquelas florezinhas, mas tudo o que via era grama, mato, sem flores...

Forcei a porta dos fundos e estava aberta, entrei na casa devagar, claro que estava vazia, mas a apreensão me fazia ter cautela, andei pelos corredores procurando um quarto em especial.

Entrei no cômodo e não deixei de reparar a cama por fazer, no chão percebi cacos de vidros de algo que a princípio poderia ser uma jarra, a pantufa esquerda da Senhora Kinowa....

" Então foi aqui que tudo aconteceu" me aproximei da cabeceira e pude ver marcas de sangue na lateral da cama de casal, lençol, piso... conseguia recriar em minha mente toda a cena, provavelmente ela foi atacada quando acabava de acordar e religiosamente ia tomar seus remédios, como ela poderia imaginar que seu marido já não era "ele" mesmo? Me aproximei do criado-mudo e abri a primeira gaveta, "Achei! " Sorri internamente e peguei o colar rústico, observei com atenção os pequenos símbolos japoneses entalhados no pequeno pingente de pedra, a senhora Kinowa dizia que aquele objeto tinha o poder de atrair coisas boas, e que através dele acabou encontrando o amor da vida dela, não que eu acreditasse em amuletos ou nas histórias que ela me contava, eu só queria algo que me fizesse lembrar dela...

Vi luzes vermelhas indicando que algum carro de polícia passava por ali, algo estava fora do normal, corri pelos corredores até as portas dos fundos e fiz o mesmo trajeto que costumava fazer quando criança...

Entrei em casa correndo, ofegante, o que significava aquelas luzes?

The Last LoverOnde histórias criam vida. Descubra agora