8 | (des)Esperanças

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— Está muito escuro — Catarina reclamou, enquanto tateava as paredes do corredor do térreo. Clarissa riu. — Você também ficaria perdida se estivesse aqui. Parece um labirinto.

Catarina precisava admitir para si mesma que seu plano era falho. Força de vontade a tinha levado para milhares de quilômetros de casa, mas ela não estava mais perto de descobrir o que causou a morte de seu pai. Para começar sua investigação, deveria começar visitando a sala de Maria Cecília. Era seu ponto de partida e possivelmente, o lugar que a levaria para outras pistas, mesmo que tivesse de admitir que não era a maneira mais segura de começar. 

Visitou à biblioteca mais duas vezes naquele meio tempo. Esperava que o príncipe aparecesse, mas isso não aconteceu. E mesmo que ele o fizesse, ainda não sabia se a melhor escolha era perguntar tudo o que tinha em mente.

— Então liga a lanterna do celular — a melhor amiga sugeriu, Catarina sabia que ela estava se segurando para não gargalhar. — Você e essa sua cabeça.

Catarina parou e colocou as mãos na cintura, indignada.

— Qual parte do "não posso ser descoberta" você ainda não entendeu? — falou, revirando os olhos. — Acender uma lanterna é alertar que estou onde não deveria.

Aquilo era normal de Clarissa. Ser impulsiva, no caso. E sempre colocá-las em enrascadas.

Naquele sábado, o vento frio açoitava as janelas do térreo, fazendo com que Catarina se encolhesse de tensão a cada zumbido ecoado. Quando finalmente conseguiu enxergar o nome da diretora gravada numa placa de vidro, deu um longo suspiro.

— Temos um problema — anunciou, e conseguiu imaginar em sua mente Clarissa revirando os olhos.

Até pouco menos de 100 anos, as construções eram completamente diferentes das atuais. Ainda com a Guerra em mente, as casas e prédios só tinham um único objetivo: abrigar a população. Prédios quadrados e cinzentos ganharam espaço. Foi somente no começo dos anos 60 que as coisas começaram a mudar e a arquitetura ganhou formas artísticas mesclado às tecnologias. Uma das que Catarina mais gostava até então, era nunca precisar de chave, já que apenas a sua digital, ou uma senha, destrancava a porta de casa, ou qualquer outra fechadura que precisasse.

Quando ela tentou girar a maçaneta e a luz do visor se acendeu com os números enfileirados, pensou que tudo estava perdido.

As mãos foram até a cabeça, sentiu o suor escorrer pelas costas e a garganta fechar.

— Eu não sei o código da porta — completou.

— Você passou três semanas pensando num plano e sequer pensou nessa possibilidade? — Clarissa brigou.

— Não é como se eu tivesse tentado entrar antes — se defendeu.

Posso arrombar, ela pensou. Sabia como fazer aquilo, mas nesse caso teria de denunciar sua presença e um sistema de alarme seria ativado, obviamente. Isso era algo que ela não precisava. Tentar todas as combinações possíveis também estava fora de questão, levaria tempo demais para finalmente acertar os seis números.

— O que quer fazer? — Clarissa perguntou, mas Catarina não respondeu de imediato.

Vasculhou sua mente em busca de qualquer ideia que pudesse dar minimamente certo. Até que se lembrou de um dia em que ela e Clarissa e Vitória — uma amiga que tinham perdido o contato — voltaram tarde da noite de uma festa que a tinham convencido a ir. O combinado era que as três dormissem na casa de Clarissa, mas a amiga as abandonou para ficar com uma pessoa. Sem a possibilidade de contactá-la, tiveram que descobrir um método secundário.

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