Marianne realmente não poderia ter escolhido uma casa "melhor". A última do condomínio, que por acaso abrigava dezenas de casarões e mansões, e deixava para nós essa humilde casa. Para contrastar com a imagem fantasmagórica da silhueta da casa, na escuridão da noite, os relampejos inundam-nos com a sombra enorme projetada de vez em quando sobre nós duas. Algumas gotículas começam a arranhar a vidraça das janelas do andar de cima, que sobretudo era mais assustador ainda que o de baixo. Sinto os pelos de meus braços eriçarem quando uma brisa gelada fustiga meus cabelos e roupa. Era realmente um dia chato.
- Que "maravilhosa" casa Marianne! - digo, tentando parecer o mais sarcástica possível - será que ela desmorona ao mínimo toque? - pergunto, esfregando os braços, desejando um casaco, pena que estavam nas malas no momento.
- Não seja boba. - diz ela sem tirar os olhos da casa. Telhas empenadas, tinta descascando e folhas por todo o lado. Uma verdadeira cena de terror. A casa até que era relativamente grande, com um enorme quintal, com tufos de grama em umas áreas, e um portão enorme e enferrujado separando-a do resto do condomínio atrás de nós duas - Achei perfeita para morarmos. Afinal só precisamos de um telhado para nos proteger da chuva, e paredes para nos proteger de animais, nada além disso é necessário. Discorda?
-Não, Marianne. Mas bem que poderíamos ser protegidos da chuva por um telhado que dê conta da sua função - a mais velha finge não ouvir o comentário, apenas tira do bolso de trás da calça jeans um molho de chaves. Sobe três pequenos e estreitos degraus que levam a uma varanda entulhada de lixo, e destranca uma porta de madeira pesada.
- Daremos um jeito na aparência, precisa de uma reforma, querida - ela fala como se fosse a coisa mais óbvia do mundo - Resolvo isso essa semana com alguma empresa, o nosso dinheiro acumulado dá conta. Afinal, não ralei todo esse tempo para gastar numa casinha mal cuidada. - sorrio com a ideia, seguindo-a enquanto carrego minhas malas.O caminhão já trouxe os móveis e coisas do tipo na noite passada, e como Marianne me disse, havia vindo mais cedo arrumar os móveis nos seus devidos lugares, mas a sujeira permanecia, e o cheiro de poeira, tão densa que quase palpável, ainda sobrevoava o lugar.
- Ainda bem, não quero ser discriminada por esse povo de nariz empinado que deve viver aqui. - Marianne solta uma risada com o comentário, e enfim, empurra a porta que abre para dentro. Era uma sala grande, extremamente empoeirada, dividida por um balcão, que levava ao que provavelmente era a cozinha. Um corredor curto levava à duas entradas, percebo de longe que era uma outra sala, e um banheiro; Uma escada em forma de caracol levava ao andar de cima. Era tudo muito sinistro, como se eu pudesse ver o fantasma do morador antigo aparecer na minha frente com um castiçal ensanguentado a qualquer momento.
- Isso parece um filme de terror. - digo arrastando com dificuldade a mala - A última casa mal assombrada do condomínio, que divertido. - digo, fazendo Marianne bufar.
- Não fale essas coisas. - reclama ela subindo as escadas. Sigo-a sem hesitar, segurando pelo puxador da mala.
Ela sobe com rapidez, tagarelando sobre cores de tinta que influenciam o bem estar da pessoa e outras coisas em que não presto a mínima atenção. Só desejava um prato comida e um banho quente.
- Venha logo ver! - exclama ela já no andar de cima, apresso os passos e chego a um outro curto corredor, que dava para três entradas.
-Perfeito! - imito-a, fazendo com que a mais velha me lance um olhar irritado.
-Os quartos e banheiros eu já limpei, o meu é esse. - diz apontando para o maior. Dou uma boa olhada no outro. Não era tão grande quanto o primeiro, mas era ótimo para mim, e maior que o meu antigo. A decoração tão sem graça quanto. A cama num canto, o guarda-roupa em outro e uma estante na frente, ao lado da entrada, suportava uma tevê - Instalarei câmeras em alguns cômodos para um trabalho meu, então não faça nada pela casa que te comprometa durante uns quatro dias.
VOCÊ ESTÁ LENDO
You Are In Danger
FanfictionOs raios de sol não banhavam a cidade naquele dia. Nas frestas das janelas, com as cortinas esvoaçantes, não se espremiam os feixes de luz que inundavam a casa com o calor. Talvez eu só tenha percebido tudo isso devido à sua falta, mas eu não notava...