Capítulo Único

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Aniversários poderiam ser cheios de expectativas para a maioria das pessoas. Talvez pra mim também, ao menos até eu ter posto meus pés pra fora da cama.
Minha mãe havia saído mais cedo para o trabalho e me deixou um bilhete desejando felicidades embaixo de um cupcake de morango, argh, não era meu sabor preferido e ela sabia disso. Joguei o bolinho tosco no lixo junto com o bilhete. Mordi um pedaço de panqueca fria e virei a caixa de leite em minha boca, sei, não eram os melhores hábitos para uma garota de dezessete anos, mas eu estava um pouco irritada com o descaso da mamãe.
Meu celular indicava que haviam algumas mensagens. Três eram do meu pai, que deveria estar aqui em Londres comigo, mas nesse momento ele resolvia seus negócios infinitos em Dubai. Primeiro me pedia desculpas por não poder estar aqui, depois disse que me compensaria com qualquer presente que eu quisesse e a última mensagem continha simplesmente uma frase batida de parabéns, dessas sem criatividade. Bufei, rolei a tela do aparelho em minhas mãos, haviam mensagens de alguns parentes e colegas que eu nem tinha tanta amizade assim, mas nada dos meus melhores amigos e principalmente do meu namorado.
Falando nele, Harry vinha me buscar todos os dias em casa, apesar de não haver necessidade já que eu tinha meu carro, não era uma Land Rover chamativa como a dele mas dava pro gasto e sinceramente adoro carros antigos e bem cuidados, como meu Impala herdado do vovô Stone, que descansa em paz.
Hoje ele estava atrasado por demais e nem teve a coragem de me avisar, nem uma mensagem de texto, zero. Ok Raissa Stone, pegue seu carango e vá para a escola, seu dia já começou ótimo mesmo. Meu Impala rugiu furioso, espelhando meu humor esta manhã.
Por eu estar atrasada, boa parte das vagas já haviam sido preenchidas, tive que estacionar um pouco distante da entrada da escola, isso me atrasaria um pouco mais. Corri para a sala de aula, mal conseguia respirar quando abri a porta num rompante. A sra. Smith me olhou por sobre seus óculos fora de moda, sua boca entortou e eu não sabia onde enfiar a cara.

- Muito pontual senhorita Stone. - ironizou. - Você não assiste minha aula hoje. Vá para a diretoria e tente explicar seu atraso de... - ela olhou no relógio. - Quase quarenta minutos.

Quarenta minutos? Como eu não vi a hora passar? Acho que minha cabeça estava muito voltada para o dia "ignorada em seu próprio aniversário."

A diretora não engoliu minhas desculpas e sequer me deixou falar por muito tempo, disse que eu não ficaria ociosa enquanto a aula de literatura não era concluída. Me mandou para a detenção, onde tive de ficar dissertanto sobre filosofia moderna. Não que eu não gostasse, mas minha mente não cooperava para tal. Sorte que Jeff Luck, o carinha que tomava conta dos alunos punidos, se importava mais com seus fones de ouvidos ou em tirar cochilos.
Entreguei meu papel cheio de besteiras a ele, que simplesmente passou a vista, amassou-o e o jogou no lixo, acertando e vibrando como se acabasse de fazer pontos em um jogo de basquete.

- Certo Stone. 'Tá livre.

Suspirei pesadamente, ainda teria duas aulas de matemática e tenho certeza que x e y me soariam mais estranhos que escrita árabe.

Sentei ao lado da minha melhor amiga, Leandra. Seu cabelo escuro e liso estava pra frente, escondendo parte de seu rosto, a franja comprida encobria-lhe metade dos olhos, ela parecia muito entediada enquanto limpava seus óculos de grau e os recolocava no rosto.

- Oi Lea. - falei de má vontade. Eu amava minha amiga, mas poxa, ela nem me deu parabéns.

- Ah. Oi Rai. Tudo bem? - bocejou.

Nossa, ela bocejou e mal olhou para a minha cara que estava caída no chão e pisoteada pelos vans vermelhos que ela usava.
Se 'tava tudo bem? Caramba, hoje não era meu dia, definitivamente.

- Ótimo. - virei o rosto. - Maravilhoso.

Não sei se ela percebeu a ironia, se sim, ela ignorou.

MY BIRTHDAY MASSACREOnde histórias criam vida. Descubra agora