Manicômio Lanys Gatte, Alto da Montanha.
O Alto da Montanha era um lugar tão lindo para se passar as férias que os cidadãos ficaram abismados quando descobriram que um manicômio seria construído naquele lugar. Talvez por ser um lugar de difícil escapatória.
Um dos pacientes mais antigos é Loe Clint, que foi internado depois de matar doze pessoas em um metrô e, depois, justificou dizendo estar sob o efeito do feitiço "imperio", o delegado achou melhor interná-lo. Talvez ele estivesse esperando receber uma promoção depois disso, afinal, não é todo dia que se interna um psicopata. Porém, todos sabiam que quem realmente havia descoberto Loe foi um detetive amador que tentou receber o reconhecimento conhecido e acabou enlouquecendo ao ser demitido e, posteriormente, internado no Manicômio Lanys Gatte.
Loe foi preso depois de se entregar a policia logo após ter matado doze pessoas em um metrô e foi de grande sorte para ele ter sido internado, uma pessoa com essa ficha criminal seria, no mínimo, decapitada.
A maioria dos internados no Manicômio Lanys Gatte, na verdade, são prisioneiros de alto nível, ou seja, altamente perigosos, por isso que não há psicólogos trabalhando no local, porém, Loe se sentia mais seguro assim, ninguém saberia no que ele pensava. Loe, até mesmo, se sentia seguro dentro dos grandes muros do castelo no Alto da Montanha, além do café da manhã ser delicioso.
O inverno era a época que Loe mais gostava. Passava todos os dias no jardim e quando chovia, na biblioteca. Passava dias fazendo bonecos de neve e esperava a primavera para vê-los derreter com o tempo e acabava contraindo graves gripes e resfriados, que pioravam com os anos. Já que, para Loe, aquilo era um ritual anual, construir diversos bonecos de neve para vê-los morrer na primavera.
Porém, depois que alguns internos somem, os bonecos de neve aumentam de quantidade e espantam Galego Blent, um interno mais recente, que já estava espionando Loe há algum tempo. Rondando seu quarto à noite, sua mesa no café, no almoço e no jantar, observando-o de longe no jardim, sem coragem para chegar perto e, muito menos, conversar com ele. Precisava preservar sua vida, já sua família esperava por ele e era isso que ele realmente almejava, investigar Loe era só um hobby, algo para tomar seu tempo.
Loe nunca o percebeu. Até hoje.
À noite, enquanto Galego jantava, Loe desceu até o jardim e continuou a construir seus bonecos de neve caricatos, sem olhos e com bocas largas e profundas, porém, Loe não os completou, um corpo de neve com uma grande abertura na barriga. A princípio, Galego pensou que Loe escondia um tesouro dentro dos bonecos, mas depois pensou no que ele fazia com o tesouro na primavera.
Enterrava? Mas aonde ele teria conseguido uma pá?
Escondia dentro do armário? Mas como ninguém tinha encontrado ainda? Embaixo da cama, talvez.
Gastava? Aonde? Como?
Essas perguntas rodearam a cabeça de Galego por um longo tempo, enquanto Loe continua a fazer seus bonecos de neve, porém, sem nunca dar muita importância a eles. Observando isso, de pouco em pouco, Galego decidiu esperar a primavera chegar. Durante aquelas semanas, Galego se afastou completamente de Loe e seus bonecos de neve tão misteriosos.
Galego começou a escrever rascunhos de algumas ideias soltas que havia tido durante todos esses meses, mas não tinha nada sólido até então, mas nem queria, pretendia esquecer dali a alguns meses, quando sairia do manicômio. Porém, aquele manuscrito começou a perturbá-lo e ele não conseguia parar de escrever, passando noites acordado, vivendo de garrafas de café e bolachas de água e sal.
Perto do Natal, Galego recebeu uma carta de sua mãe dizendo que foram viajar e não poderiam acolhê-lo no recesso de Natal, onde ele seria liberado para comemorar em família. Dado aos fatos, ele teria que permanecer no Alto da Montanha, sofrendo com o frio extremo. Galego, ágil, aproveitou o tempo para reiniciar sua investigação e, ao descer ao jardim, na noite de Natal, viu que o número de bonecos de neve havia dobrado e que agora todos estavam fechados.
Ao colocar a mão na barriga de um deles, Galego viu que algo se mexia lá dentro e que liberava calor. Ao desmanchar, caiu um cadáver de um policial e Galego teve que tapar a boca para não gritar. Abismado, Galego abriu a barriga de todos os bonecos e em cada um havia um cadáver e, quando abriu a barriga do último, viu ele mesmo morto, ensanguentado. Depois, foi acertado com uma pá na cabeça e desmaiou.
Descobriu-se mais tarde que Galego estava internado por ter matado toda a sua família na festa de aniversário de suas filhas gêmeas. Na verdade, o hobby de Galego de espionar Loe era uma rotina anual, pois sua família nunca chegaria para buscá-lo e todos os invernos Galego destruiria os bonecos de neve de Loe e receberia uma pá na cabeça.
A partir daqueles dias o Alto da Montanha não era mais um lugar lindo para se passar férias.
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Contos Errados
Short StoryQuando alguma coisa é diferente, ela é tratada como errada. Então, para não chamar essa história de "Contos Diferentes", vou chamá-la de "Contos Errados", mas não pense que são versões distorcidas dos contos que você já conhece. São contos envolvent...