TIQUE-TAQUE, TIQUE-TAQUE, era o barulho que eu ouvia. Somente ele, em uma imensidão sem fim.
Eu havia acabado de ser vestida, com uma roupa de um couro escuro, que parecia ser muito resistente. Fui apresentada a um monte de agulhas, cada uma sendo aplicada em algum lugar do meu corpo, porém a última atrás da orelha foi a mais dolorida.
Aos poucos fui percebendo, que os antídotos aplicados não me faziam nenhum mal aparentemente, mas na verdade me davam uma força revigorante e era isso o que mais me apavorava. Em poucos minutos eu estava sendo levada por um série de corredores, com paredes brancas e diversas luzes. As vezes eu sentia a presença de outras pessoas, mas não as conseguia ver.
- Após a entrada na cápsula, você ouvirá três sirenes e então as portas irão se abrir. Entretanto, antes disso escolha as armas a sua disposição. Uma dica escolha a faca.
O homem a minha frente, parecia cansado, ele me olhava de um jeito esperançoso e triste. Talvez existisse muito mais coisas a se descobrir do que eu imaginava.
Após a saída da Mulher da Voz Irritante, ele havia entrado de modo discreto e fez o seu trabalho, que era especificamente aplicar as agulhas, e diferentemente da mulher ele era mais delicado ao aplicar os antídotos. Seus cabelos ruivos, pareciam pegar fogo sob a luz fraca da sala onde eu me encontrava desde... Eu não sabia à quanto tempo estava ali.
Agora estávamos em um lugar relativamente grande, de frente a uma porta dupla de vidro fumê. E eu nem sabia o que me aguardava.
- Por favor. - Eu disse tentando parecer calma. - Me explique o que vai acontecer e onde está meus amigos.
- Desculpe Emily, mas não posso discutir isso com você, porém posso garantir que você encontrará seus amigos em instantes.
- Tudo bem, mas... - Eu comecei, porém desisti de falar qualquer coisa, dado que o homem já havia encerrado a conversa.
- Por favor, entre. - Ele apontou para a porta dupla e me direcionou para dentro do lugar.
Minhas mãos tremiam e eu tentava controlar meu coração disparado. O que estava acontecendo? O que aquilo significava? Onde eu estava? As perguntas me cercavam, mas não tinha respostas. Era desesperador.
- Pode escolher suas armas. Lembre-se pegue apenas duas.
Fui caminhando lentamente até uma mesa de vidro com várias armas dispostas em cima dela. Havia uma adaga, uma arma que eu nunca havia visto antes, um quadrado com um botão, uma faca com cabo de couro, um arco com uma bolsa cheia de flechas, uma espécie de martelo com superfície cheia de agulhas pontudas e um cabo quase do meu tamanho que não possui nada além da ponta cortante.
Eu respirei fundo, sentindo uma fina camada de suor escorrer pela minha nuca. Minha mão se dirigiu a faca e a agarrei sentindo a textura, ela não era pequena e também não era grande, tinha tamanho e peso confortáveis, parecendo bem afiada. Por segundo, me arrisquei na pequena caixa azul marinho com o botão vermelho.
- O que ela faz? - Indaguei para o homem que estava perto da porta.
- Você irá descobrir se escolhe-la. - Ele ergueu as sobrancelhas e um pensamento sombrio passou pelo meu semblante. - Você pode tentar me matar, mas lhe garanto que você não chega nem mesmo ao corredor e ainda verá seus amigos morrendo por sua culpa.
- Eu não ia...
- Entre naquela cápsula. - Ele fez um movimento com a cabeça na direção de um tubo de vidro transparente, que parecia acomodar uma pessoa.
Eu caminhei lentamente, segurando um item em cada mão. Meus pés estavam firmes, sobre o chão sólido polido. Mas quase cai quando tropecei no degrau. Liam, Halsey, Youki, Louis e Sebastian, o que eles estavam pensando nesse exato momento?
Eu entrei dentro da cápsula e logo em seguida virei de frente para o homem.
Passei alguns dos momentos mais importantes na minha mente, até aquele momento.
***
Era uma tarde parcialmente nublada. Eu havia acabado de chegar de uma temporada de férias no Rio e o vento frio Toronto não estava ajudando muito a me aquecer.
Meus pais se divertiram muito durante a viagem. Minha mãe com seu sorriso do tamanho do mundo e uma beleza tão natural, mostrava o quanto era brasileira. Meu pai apesar de tentar parecer sério, não conseguia. Ele era natural da Inglaterra, mas ainda pequeno mudou-se para o Canadá e lá constitui sua vida. Eles formavam um belo casal. E em consequência disso, nasceu Camille uma mulher de vinte anos que possuía muitas semelhanças com o meu pai e parecia se irritar com as atitudes meio infantis da irmã, que no caso era eu.
Era uma família normal, com problemas normais. Mas quando o avião posou no Aeroporto Internacional Pearson de Toronto, tudo mudou drasticamente.
As pessoas lotavam as ruas, umas mais desesperadas do que outras. Era estranho ver aquela comoção. Eu estava sentada com Camille, as pernas cruzadas, esperando meus pais, naquele tempo típico do outono.
- Isso me parace... estranho - disse minha irmã com os cabelos negros esvoaçando sobre o vento e olhos azuis como os meus refletindo, um homem correndo com um carrinho de compra no meio de uma avenida movimentada, até que um caminhão em alta velocidade o atropelou de forma brutal.
Um grito saiu pela minha garganta.
- Vamo sair daqui Emily - Ela disse me puxando, enquanto eu pegava minha mochila.
- E nossos pais?
A resposta veio logo em seguida, quando um carro que eu conhecia muito bem, parou na nossa frente, derrapando.
- Vamos! Entrem logo meninas - gritou meu pai, enquanto saímos correndo em direção à SUV.
Eu e Camille nos jogamos dentro do carro, sem compreender absolutamente nada. E quanto mais o carro se aproximava do centro e passava por lugares normalmente movimentados, eu percebia a gravidade da situação.
- Mãe o que significa isso?
- Não sei, querida. Mas aperte seu cinto, pois coisa boa não é.
Pessoas corriam de um lado para o outro. Outras caídas no chão, inconscientes começavam a se retorcer de modo estranho; de modo não mais humano.
***
O silêncio se prolongou e a única coisa que eu ouvia era a minha respiração acelerada. Eu olhei para o homem a minha frente e ele assentiu ao meu olhar de incompreensão, enquanto saía da sala.
Olhando para as armas em minha mão, com um pensamento um tanto suicida passando em minha mente, percebi que aquilo poderia ser uma saída, mas não iria significar nada, eu teria que tentar. Se não fosse por mim, pelos meus amigos. O tique-taque parou. E uma voz computadorizada anunciou.
"O teste irá começará em cinco, quatro, três, dois, um..."
A voz, com um leve timbre feminino ressoou dentro do pequeno espaço, que se dirigia para cima, como elevadores dos velhos tempos. Eu fechei os olhos, após perceber que a única coisa que eu iria conseguir ver era a escuridão, mas após um momento a escuridão acabou.
Então a cápsula se abriu e revelou o inesperado.
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Sem Saída
FantascienzaEmily poderia até desistir, mas isso não estava em seus planos, pois para ela a única opção era sobreviver. Depois de várias tentativas frustradas para encontrar sobreviventes ao redor do mundo, após uma doença dizimar grande parte da população e tr...