Ainda muito pequena Sophia fora abandonada em um orfanato por uma senhora que alegava que seus pais morrera em um acidente.
Sem a mordomia ou a luxúria de ter sua própria casa e pais que pagassem por suas despesas Sophia aprendeu a batalhar por suas coisas desde cedo e a dividir o pouco que tinha com todos a sua volta.
Muito querida pelos mais velhos e invejada pelos de sua idade, Sophia nunca foi boa em se socializar, ou realmente não queria tal contato, ainda mais se essas pessoas só soubessem falar de sexo, drogas, filmes ruins ou futebol, então se adaptou a conversas longas e antigas, a pessoas cansadas e carentes, velhos e graciosos.
Sophia era bem chata quando se tratava de diversão, não bebia, não fumava, não tinha uma vida sexual ativa, não tinha amigos, não saía para lugar algum, não tinha uma série preferida ou um filme para se ver inúmeras vezes, como sempre sua desculpa era que seus estudos e trabalho vinham em primeiro lugar. Seu tempo livre era gasto com faxinas desnecessárias numa casa ridiculamente limpa, sonecas e as vezes quando estava muito inspirada gostava de jogar palavras cruzadas, sudoku ou caça palavras.
Sophia não era feia, mas também não era uma modelo de passarela, uma garota normal, olhos miúdos e sempre cansados, um lindo cabelo negro, a última vez que o soltou estava nos ombros, talvez tenha crescido ou tenha cortado outra vez, baixa quando comparada a um jogador profissional de basquete, alta se comparada a um anão, tudo é uma questão de perspectiva.
Uma garota normal como muitas espalhadas mundo a fora.
Nada de especial para contar, rotina chata e monótona, dias cinzentos e congelantes, não fazia questão de mudanças, conformada com sua chatice, estava bom daquele jeito, nem extraordinário nem péssimo, era o suficiente.
A vida não era exatamente chata, Sophia era chata, os dias não eram congelantes, Sophia era fria como um iceberg. Sophia estava apagada e sem vida, apenas vagando, por algum motivo nunca conseguira tirar sua vida, mas sentia que não tinha mais uma e que partir era só uma questão de tempo.
