Era a segunda aula do dia na faculdade, a turma não estava muito preocupada em chegar na hora, só tínhamos dez minutos de intervalo então os professores não se aborreciam muito quando chegávamos um pouco atrasados. Dessa vez ao invés de ficar batendo papo com meus colegas, Lisa e eu decidimos ir logo para a sala. Enquanto caminhávamos pelos corredores eu fui narrando as melhores partes das histórias que tinham acontecido no trabalho.
– Então a mulher pediu pra eu pegar três cores diferentes do mesmo sapato, e é claro que eles estariam na prateleira mais alta no lugar mais escondido de toda a loja. Sério eu consegui achar a passagem pra Nárnia e nada de sapato. –Lisa riu. – Aí quando eu chego lá, cadê a mulher?
– Ah Mentira. Ela foi embora. – Lisa adivinhou.
– É oficial, eu odeio esse trabalho.
– Mas e o seu amigo? – Lisa pronunciou a palavra com sorriso malicioso. – Aposto que não deve ser ruim já que ele faz tudo o que você manda.
– Ok, primeiro: ele faz o que eu peço – corrigi – porque eu sou a chefe dele... Quase. Bom meu chefe é chefe dele, então... E segundo somos mesmo só amigos – Lisa riu e tentou argumentar, eu a corte – Qual é Lisa, ele é só uma criança.
– Ele tem a minha idade Anna.
– Exato. Vocês ainda são bebês...
Chegamos à sala e como já era de se esperar a professora era a única lá, ela nos comprimento e voltou a atenção ao computador. Lisa me cutucou e apontou com a cabeça o cachecol azul que a professora usava, nós duas rimos porque sabíamos do motivo real do acessório, não era pra se aquecer do vento gelado que circulava na sala, e sim pra esconder um chupão do namorado. Não tem coisa melhor do que professor com uma vida romântica ativa.
– Três anos de diferença não é muita coisa. – Lisa jogou a bolsa na primeira carteira. – Eu já namorei um garoto cinco anos mais velho.
– Ah, mas quando o menino é mais velho e diferente...
– Diferente como?
– Ah, sei lá. – tirei a bolsa do ombro e coloquei na mesa – Ei, dá um tempo, a gente é só amigo. Ponto.
– Até parece, Anna o garoto parece um cachorrinho quando ta perto de você. – eu ri – Porque mais ele viria na nossa sala toda hora?
– Pela amizade. – falei como se fosse obvio – Lisa, você é muito maldosa – ela abriu a boca dramaticamente – Você não acredita na verdadeira amizade entre um homem e uma mulher. É tão triste pensar que você perdeu aquele toque de inocência em tão pouco tempo... – falei em tom de brincadeira como uma mãe decepcionada – Você devia ter vergonha.
Ela abriu a boca pra responder, mas fechou assim que Pedro entrou na sala. Ele encostou no batente da porta e nos lançou aquele sorriso de menino metido.
– Eu tava te procurando. Por que já ta na sala?
– Eu precisava dar uma aula pra Lisa. Sabe repassar minha imensa sabedoria.
Ele riu. Percebi que ele estava com as duas mãos atrás das costas e não se mexia. Ele percebeu que eu notei e deu um sorriso tímido. Devagar ele levantou a mão direita que segurava uma rosa vermelha. Ele a estendeu na minha direção.
– Pra você. – ele disse.
Em um primeiro momento fiquei sem reação. Vi os olhos de Lisa brilhando e o seu sorriso dizia: Eu te avisei. Dei dois passos a frente e segurei a flor.
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Sanduíche
Short StoryUm dia pode ser muito cansativo as vezes, mas nada que um bom sanduíche não resolva. Conto feito para o concurso do @RomanceBr