A Serra do Peru e A Cidade dos Eremitas

Capítulo 1: O quê era aquele lugar e quem eram aquelas pessoas?

Ninguém sabia ao certo dizer, mas aqueles caçadores eram obcecados pela caça naquela serra, a admirável e imponente Serra do Peru, todos os caçadores, rústicos e atentos, tinham de formação apenas o conhecimento das curvas sinuosas daquela serra. Admirável, mas misteriosa. Mistério, a palavra que melhor defini aquela serra. A lenda da 'Serra do Peru' ia além daquilo que os habitantes da cidade de Monteiro, na Paraíba, conheciam. Na verdade ninguém que viu o peru de ouro voltou para contar de fato o quê viu, exceto uma, Mr. Borges, mas ninguém lhe deu crédito, pois reza a lenda que o cara enlouquecera com o dilema que lhe fora posto pelo Peru, uma espécie de esfinge da montanha. Tamanho foi o seu medo da pergunta que o Peru lhe fizera quê o danado enlouqueceu. Mas os nossos destemidos caçadores nunca haveriam de sofrer tamanha exacerbação mental, pois eles não eram de andar na linha da loucura como o tal Mr. Borges, conhecedor e amante das filosofias, das dicotomias e das conexões hermenêuticas e quânticas, que assunto louco caro interlocutor, mas haverá de ser isso que o levara ao encontro com o 'Peru de Ouro' na fatídica tarde em que ele adentra a cidade gritando aos quatro ventos:

_Eles existem! Eu sempre estive certo. Os hermeneutas existem.

Os moradores da cidade de Monteiro, na Paraíba, com todas suas línguas afiadas e suas vidas sem projetos longos trataram logo de condenar:

_Enlouqueceu de vez!

_Quem mandou estudar tanto.

_Virou professor de Filosofia na Capital, mas esqueceu de que para arrumar emprego de professor em cidade de interior, precisava era mesmo de ter babado os políticos que haveriam de lhe dar um emprego.

_Tadinho. Ô dó...

Mas o Mr. Borges não cansou de bradar o quê haverá visto naquela mata, dizia ele em auto e bom som:

_Eles existem, os eremitas. Eu os vi. Eles viviam em harmonia. Não me julguem, pois lá na serra do peru há uma cidade em que o julgamento não é permitido. Não há fome, não há brigas, guerras... Somente a paz impera. A paz entrelaça a todas as tramas. O mundo precisa de paz. Nós cidadãos monteirensses precisamos daquela forma de viver. Ecológicos, responsáveis e sensatos, calmos e singulares, inteligentes e comprometidos com o próximo. O próximo... Vocês monteirensses precisam pensar melhor na forma como vivem, como se portam em relação aos seus jovens... Escute-me eu os vi. A lenda do peru dourado era verdade... Mais que uma lenda ele me mostrara a entrada da cidade que eu acabei de descrever. Eu... Vi... A verdade... A verdade que eu sempre busquei nesse mundo, que eu sempre busquei formar na mente dos amigos próximos, aqueles que gostavam de escutar-me falar de filosofias, questionamentos e poemas. Eu finalmente vi um povo que vive de acordo com a norma mística do destino, a canção que rege o infinito. Se eles conseguem vocês também conseguem meu povo. Povo de Monteiro vocês conseguem... Livrem-se dessas amarras, desses políticos toscos que não conseguem pensar em outra coisa a não ser em seu próprio umbigo e nas eleições futuras. Para quê esperar por eles, políticos apenas a favor de seus próprios interesses. Venham comigo a Serra do Peru, lá existe o portal para a cidade onde todos são reis do seu próprio destino.

Mr. Borges bradou tanto aquelas informações que padeceu da pena e da indiferença dos concidadãos da cidade, veio ao chão com tamanho ímpeto que defendera aquilo que haveria descoberto como ele bem disse, a verdade. A verdade... A verdade? Pobre Mr. Borges, amante intelectual das ciências. Talvez o mais sábio visto que descobrira a verdade. Desde Gregos e Baianos o ser humano busca a verdade sem saber que a única certeza é a construção do presente... Do presente! À vida um presente para se refazer na solidariedade e bem estar de todos. Pobre Mr. Borges. Pobres seres humanos que caminham sem saber para onde. Mr. Borges caiu na Praça João Pessoa, balbuciava as suas verdades recém-descobertas, mas muito antes imaginadas por ele em seus estudos diversos: