Capítulo 1 - Aquele banco

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Um senhor já de idade avançada acabara de sair da pequena mercearia na qual costumava diariamente entrar para comprar pão. Quando saiu a porta, reparou estar uma laranja no chão, e aquele momento tão banal fez com que se recordasse da sua infância, quando ele e os seus amigos haviam tentado roubar fruta naquela mesma mercearia, pois era dia de verão e iria saber muito bem. Ele inclinou-se para apanhar a laranja do chão, e enquanto o fazia, pareceu-lhe ouvir a sua própria voz, de quando ainda era um jovem, vinda do parque que ficava mesmo em frente ao sítio onde se encontrava.
Sem hesitar, atravessou a estrada e olhou, por entre as tábuas coloridas que faziam a cerca daquele parque que tão boas recordações lhe trazia, vendo um monte de crianças a brincar no baloiço e no escorrega, e curiosamente 4 rapazes com os seus 13, talvez 14 anos a jogar futebol.
Ele abriu o trinco de metal que trancava a porta do parque e ao entrar, reparou que o banco onde se costumava sentar quando era pequeno estava vazio, então decidiu sentar-se lá. Pelo caminho, ouvia o som da bola a bater na parede e numa grande árvore, que era onde desde a sua juventude se faziam as duas balizas. Era ótimo ouvir os miúdos a gritar golo, o som da bola, os risos... Aquela sensação que só a pessoa que joga tem...


- Bons tempos - exclamou, sentando-se e pousando a sua boina esbranquiçada no banco.
— Lembro-me tão bem da... - estava Sr. Hugo, como agora lhe chamavam pela sua idade, a recordar quando, de repente, ouve a voz do seu velho amigo, Ruben, a chamá-lo já do lado de dentro só jardim
- Então Hugo, o que andas aqui a fazer? - perguntou, sem querer mostrar a felicidade que sentia por encontrar um dos seus grandes amigos, passado tantos anos.
- Vim descansar um pouco e aproveitei para recordar os tempos em que nós éramos rapazitos e passávamos neste parque - disse Hugo, com um pequeno sorriso. - Mas e tu? Que vieste aqui fazer?
- Estou farto de Queluz, sempre as mesmas lojas, sempre as mesmas pessoas, sempre as mesmas ruas, então decidi apanhar o autocarro e vir até à minha antiga zona, para ver como estavam as coisas, e quando ia a passar vi-te sentado - respondeu Ruben, sentando-se a seu lado.
- Nunca pensei voltar a ver-te Ruben - admitiu Hugo - depois de tantos anos em que o grupo esteve separado, pensei que só nos víssemos no além.

- Cala-me essa boca homem - gritou Ruben, rindo - continuas a ser o mesmo, nunca mudas! Sempre estúpido e com aquela vontade de fazer todos rir, hã?
- Rir é o maior prazer que temos na vida! - respondeu Hugo, olhando para o sol radiante no céu surgindo por entre as nuvens escuras de inverno - O que é feito do Oliveira? - perguntou Hugo
- Não sabes? - perguntou Ruben, a medo
- Saber o quê?! - exclamou Hugo, desconfiado de que algo mau se havia passado
- Ele teve um ataque cardíaco há 1 mês, e agora está em casa a recuperar - disse Ruben, com a cara mais triste que se pode imaginar
- E eu não sabia de nada! Um dia destes tenho de o ir ver. Ele ainda mora na Caparica?
- Sim, julgo que pensou em voltar para Hungerford, mas acabou por ficar por cá - contou Ruben
- Era bom voltarmos a encontrar todos, como nos velhos tempos - exclamou Hugo, com uma cara entristecida.
Nesse momento, uma voz familiar, vinda de cima da cabeça deles, do alto do muro do parque que ligava à rua de trás, gritou - Dragão!
Imediatamente Hugo ficou alertado, pois aquela era a sua alcunha de criança, e não havia muita gente que soubesse disso e ainda morasse naquela rua.
- Quem será?! - perguntou Ruben, curioso
Hugo virou-se para trás, e olhando para cima, viu o busto de alguém, encostado à grade que impedia que alguém caísse da rua de cima para o parque. Não conseguia ver a sua cara, pois o sol estava mesmo por trás dessa pessoa. Então, com um sorriso rompente na cara, exclamou para o seu amigo sentado com ele no banco - Não sei, mas vamos descobrir!

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⏰ Última atualização: Feb 07, 2021 ⏰

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