Quer saber? Que se dane!

Quer saber? Que se dane!

Ele se aproximou da garota, meio sem jeito, mas meio confiante também. Ele estava de saco cheio de tudo aquilo, o que mais poderia acontecer? Ela seria a garota perfeita e ele estragaria tudo? Que pensamento idiota é esse? Se ela fosse a garota perfeita, não teria como algo daquilo estragar o momento, afinal, a garota perfeita não seria chata.

- Oi.

Ele estava parado, em pé, ao lado dela, as mãos nos bolsos e as pernas juntas. A garota levanta a cabeça e olha para o rapaz.

- Oi.

OH DAMMIT, o que eu estou fazendo? Preciso me acalmar e continuar.

- Eu vi você aí, e achei que seria legal te conhecer... meu nome é Marcos.

Ele tira uma das mãos do bolso e estende para a garota. Ela estende a mão dela de um modo completamente desajeitado, e com a outra mão segura o livro, colocando um dos dedos sob a página que ela estava lendo.

- Hm, meu nome é Gabriela.

Esquisito, começou bem.

- Ah, legal, o que você ta lendo?

- Dragões de Éter, comecei agora... já leu?

- Ainda não, mas me falaram bem do livro. Está gostando?

- Uhum.

Parecia que estava melhor, mas ele ainda estava de pé, enquanto ela estava sentada no chão da biblioteca, olhando pra cima.

- Posso me sentar aqui do lado? Trouxe um livro pra ler também...

Gabriela olha para os lados, vendo todas as poltronas da biblioteca vazias, e então diz meio que por impulso - Pppode sim.

Marcos se senta, pega seu livro e abre na primeira página.

- O que você ta lendo?

- Ah, é o livro novo do Neil Gaiman, to curioso pra saber como é.

- AAH! Eu to louca pra ler! depois me diz se é bom!

- Huhum. - Marcos responde com um barulho parecido com esse e retorna para o livro.

Ele se sente como uma presa sendo vigiada pelo predador. Seus movimentos são calculados, o modo como se senta, como apoia a mão no livro, a posição das pernas. De vez em quando ele tenta dar uma olhada para o lado e ver como está a situação. Ao que parece, Gabriela já se afundou novamente em seu livro, enquanto Marcos está agindo igual bobo. Até que ele percebe que ainda não saiu da primeira página.

Esquisito.

O que estou fazendo? Pensou ele. Isso aqui ta muito estranho, por que raios eu to sentado aqui do lado de uma garota que eu nunca vi na biblioteca antes, sendo que todas as pessoas normais sentam nas poltronas.

Eu não sou normal, eu sei disso, mas eu sempre sentei nas poltronas. Será que eu, lá no fundo, era normal? O que é normal, afinal? Uma vez eu li que uma atitude normal só pode ser definida pela maioria de pessoas que a fazem. Se for ver por esse lado, eu sempre fui normal ao ponto de não sentar no chão quando há poltronas confortáveis por perto. 

Quer saber? Que se dane!

- Hey, por que você está sentada no chão, sendo que as poltronas estão disponíveis?

Ela acorda novamente do livro, como se tivesse acordado de um sonho, olha para ele com uma cara de dúvida, e responde:

- Não sei, você também está sentado no chão.

- É... estou mesmo...

Após um breve sorriso, ela volta para o livro.

What the... O que eu acabei de perguntar? Ok, vamos rever os fatos: Ela não é normal, eu não devo ser normal também, pela lógica isso nos faz parecidos? Nah, deve ser minha cabeça tentando pregar peças em mim de novo. Isso sempre acontece.

Mas, mas ela sorriu. Isso é um bom sinal.

Marcos sorri, enquanto vira a primeira página.