Além do espelho

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  Olhando-me no espelho posso ver tudo de físico e material que possuo, vejo meu cabelo negro, longo, ondulado e cheio, vejo meu corpo de 17 anos com aparência de 14, vejo meus olhos verdes, posso ver as minhas roupas caras e sem sentido que me fazem parecer esnobe, mas olhando além do espelho, olhando para mim, para meu íntimo posso avistar a minha forma verdadeira, cheia de encantos e amor que talvez ninguém veja em mim, agora chega, está na hora ir sobreviver a minha rotina. Para começar meu dia eu sempre faço esse exercício de me arrumar e me olhar no espelho, ver como estou e o que sou, me perco nesses momentos, são como meditações, duram geralmente uns 5 minutos e o sentimento trazido nesses pequenos 5 minutos são levados para o dia inteiro comigo em algumas poucas vezes permanecem, hoje estou bem, meu momento meditação me trouxe amor, estou disposta a dar amor. Vou encontrar o Miguel e a Patrícia na entrada do colégio, sempre nos encontramos na porta, estou ansiosa, sempre estou ansiosa, venho o caminha inteiro roendo as unhas e andando rápido pelas ruas abertas e apenas com movimentos de carros, Caminha do norte é uma cidade que fica no Espírito Santo no Brasil, e ninguém gosta pois dizem ter poucos lugares e poucas oportunidades, mas particularmente não aspiro muito da vida então acho uma cidade boa, tem um clima bom, na maioria das vezes calor, bastante calor, realmente tem poucos lugares para se visitar, mas tem colégio, tem praças e restaurantes, e é meio tediosa porém eu gosto do tédio, isso faz parte de mim. Dobrando a esquina que da entrada para a vista do colégio, um prédio grande para um colégio de cidade pequena, a cidade possui muitos estudantes do 6º ano a 3º ano do ensino médio, uns 5 andares de puro bege quase marrom escuro, o ensino não era dos mais rígidos mas parecia ser, percebo um casal discutindo, percebi também que os conheço, é o Miguel e a Patrícia, eles já estão brigando, vejo que Páti e seus cabelos cacheado e sua pele moreninha consegue me avistar e logo encosta em Miguel e pede para parar a briguinha, Miguel logo tenta aliviar seu nervoso, passa a mão pelos cabelos loiros e respira fundo, eles sabem que não gosto de qualquer briguinha sem motivo, já estou a seis passos deles quando Patrícia vem me abraçar, depois comprimento Miguel e conversamos um pouco e já é hora de entrar.

São 07:00 horas vamos pra sala vemos todos os nossos quase 25 colegas desprezíveis, chatos, modelos de pessoas carregados de modinhas, percebo que Miguel está estranho, venho percebendo isso a algumas semanas, tenho que perguntar o que está acontecendo não consigo evitar me importar tanto com ele logo espero a professora dar uma pausa na explicação e pergunto baixo a Miguel o que está acontecendo.

- Por que está tão cabisbaixo?

- Não é nada Elisa, dormi tarde ontem - Reposta baixa, meio grosseira, nem olhou para meu rosto.

Miguel não é de ser assim, ele é muito atencioso, ele realmente está passando por algum problema, vou esperar a aula acabar, fazer perguntas mais profundas mas enquanto isso Páti já está me chama para mostrar o lanche estranho que ela trouxe hoje, era algo muito estranho, não dava pra entender, parecia uma mistura de sanduíche de atum com banana e coco mas poderia ser coisa pior então elogio a escolha e não aceito um pedaço, ela gosta comidas excêntricas, ela é toda diferente, quer sempre estar fora dos padrões, sendo sempre do grupo do contra, contesta tudo que pode, é isso que me faz gostar tanto dela, suas perguntas e questionamentos são toques nas feridas e eu gosto de quem toca na minha ferida por que me faz ativar minha mente para pensar mais sobre o porquê dos meus problemas, mas está bem distante esses tempos, ela está bem ocupada. Talvez ela saiba o motivo do Miguel estar tão tristonho, não custa perguntar.