Já passava das duas horas da tarde quando atendi ao telefone que tocava insistentemente dentro da minha bolsa. Olhei o visor com dificuldade, a luz me incomodava, as vozes das pessoas me incomodavam. Tudo o que eu queria era continuar procurando qualquer coisa sobre meu irmão nos registros do computador da oficina e não ser incomodada. Mas, infelizmente, eu não podia fazer isso.
– O que você quer Zack? – perguntei assim que deslizei o botão verde da ligação.
– Boa tarde melhor amiga. Como vai você? Eu vou bem, muito obrigado – respondeu com a voz divertida e mais alta que o normal.
– Vai se ferrar, você sabe que eu bebi ontem, não começa – rolei os olhos e continuei a fuçar nas pastas de documentos do computador.
– Noite das garotas, não é mesmo? Se preparem, eu e os meninos vamos começar a excluir vocês também.
– Drama não combina com você nerd – sorri um pouco e, apesar de não poder vê-lo, sabia que tinha feito uma careta ao ouvir o apelido.
– Vai se ferrar! Enfim... preciso de um favor, já que você voltou para o seu cargo na oficina – continuei calada esperando o menino falar o que ele queria. – Preciso que confira o óleo para os carros que chegou. Eu encomendei semana passada, usei no carro de um cliente, mas algo está dando errado. Eu olhei aquela porra toda, mas não é do carro.
– Você olhou direito o que você comprou? – perguntei mesmo já sabendo a resposta. Queria irritá-lo.
– Óbvio que olhei sua retardada! Mas não sei se foi o mesmo que chegou aí, não fui eu que coloquei no carro, pedi para o Júlio – o garoto falou, mostrando um pouco de nervosismo na voz.
– Ele é inexperiente ainda. Bom rapaz, mas tem muito que aprender – disse me referindo ao ajudante que Zack tinha contratado.
– Eu sei. Mas como você disse, ele é um bom rapaz, o quero com a gente. Tenho que desligar feiosa – dei tchau para ele e desliguei o telefone.
Continuei fuçando as pastas, mas percebi depois de um tempo que não acharia nada. Era em vão. Qualquer coisa importante que Enzo tivesse que fazer com toda a certeza ele não deixaria em um lugar de tão fácil acesso, mas eu precisava tentar de tudo.
Fechei as abas que estava mexendo e saí do escritório pequeno que antigamente era do meu irmão. A oficina era espaçosa para poder caber todos os nossos automóveis, muito bem arrumada e cheia de coisas decorativas de carros, motos e tudo mais. Quando Daniel e Enzo decidiram construí-la eles se dedicaram bastante. No começo ninguém pensou que daria certo, mas acabou sendo um bom negócio. Aqueles dois podiam fazer qualquer coisa dar certo juntos.
– Pensando na vida princesa? – a voz rouca soou nos meus ouvidos, me fazendo levar um susto.
– O que você faz aqui? – perguntei com a mão no peito, onde meu coração batia acelerado pelo susto daquele garoto irritante.
– Vim conversar com o Brad – Ethan endireitou o corpo e cruzou os braços, sorrindo um pouco de lado.
– Viagem perdida. Ele teve que sair com o Zack – afirmei e desci as escadas de ferro pintadas de azul escuro.
– Digamos que não foi tão perdida assim, preciso falar com você também – ele me seguia enquanto eu ia para o galpão da oficina, onde guardávamos coisas importantes.
– Eu estou te ouvindo – falei um tanto quanto seca e passei a procurar com os olhos as caixas de óleo que eu precisava verificar.
– Visitei um velho amigo do meu pai esses dias...
YOU ARE READING
Drive
General FictionEm um mundo onde a rivalidade reina, não existe sorte. Correr riscos é o preço que se paga por querer a liberdade. Numa estrada onde não existe perdão e nem limites de velocidade, ela se jogou. Decidiu fazer de tudo para ser ouvida. Até onde você ir...