Vento

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 Seria estranho começar uma história sem me apresentar, meu nome é Zero. Não é bem meu nome, mas é como eu me sinto comparado ao universo. Posso dizer-lhes que esta história não será igual aquelas que vocês leem por aqui que é melodramática, mas também posso dizer que terá um pouco.

 Tudo começará em uma estrada, enquanto eu caminhava. Era uma rua vazia de pessoas, apenas carros estacionados e latidos. Uma leve brisa que ao se juntar com o frio do inverno fazia o nariz ficar gelado. Minhas mãos estavam no bolso do meu casaco de couro sintético, junto a minha carteira e meu celular. Nele, estava a tocar a minha biblioteca de música que era totalmente indefinida a que estilo eu seguia. Um bom som violento com o heavy metal, o estilo largado do grunge, a criatividade do indie, a cultura americana com o folk, o romântico com o pop rock e as poesias do MPB. Todos juntos, sem nenhum tipo de padrão, fazendo meu dia ser definido pelas músicas que escuto. Aquele dia? Ele estava a terminar, e podia definir ele como uma música melancólica, daquelas que fazem a lembrança mais triste vir tona e fazer lágrimas saírem dos seus olhos. Mas nada de ruim tinha acontecido, era só o passado, que mesmo se chamando passado atormentava o presente e prometia ir para o futuro. Apenas mais um dia. Apenas mais um momento.

 Foi nessa caminhada, com esse vento gelado que eu senti mais ainda a falta de alguém. Ao sentar em um banco, perto do rio que passava pela cidade, de frente para um prédio antigo, com grandes rachaduras que faria um cenário perfeito para sentar a dois, que eu pensei em visualizar meu celular. Estava tudo normal, por não ser muito popular, não havia nenhuma notificação importante. Coloco no bolso, levanto e volto a caminhar.

— Preciso de um café, ou algo assim, mas em uma tarde de domingo não vai estar nada aberto. Melhor eu voltar, assistir algum filme, sei lá, fazer algo. — Penso comigo mesmo.

 Ao chegar em casa, tiro meus coturnos sujos e coloco num canto, perto da porta. Aqueles eram meus únicos pares de sapatos, eu não ligava muito para roupas. Meu casaco é jogado no lugar mais próximo, que era meu sofá. Era um apartamento pequeno, mas aconchegante. Vou até a cozinha e abro a geladeira, pego uma cerveja, uns restos de comida e preparo algo. Eu tinha uma habilidade incrível para criar comida com restos, fazia aquele arroz de um dia atrás se tornar um requintado prato gourmet. Pelo menos eu achava isso. Vou até o sofá e sento com minha comida e minha cerveja, ligo a TV e coloco um filme para ver. Quando percebo o filme já tinha acabado, minha cerveja esquentado e a comida esfriado. Eu havia adormecido e acordado com o toque do meu celular.

— A-a... alô?

— Faaaaalaaaa Zero, como estás? Vamo pra uma festa? Vai ser fodaa, muita bebida, garotas e música boa! VAMO CARA, VAMO!

— Não sei, hoje é domingo cara. Aliás, que horas são?

— Agora que é onze horas cara, vamo, vamo, é ai perto da tua casa!!!!

— Vou pensar, qualquer coisa te encontro lá.

— SE TU NÃO FOR EU VOU NA TUA CASA TE ENCHER DE PORRADA!

E o pior, ele iria mesmo.

— Claro, claro, vou me arrumar e eu estou indo. Até mais, brother.

— TE ESPERO!!!! VAMO ZOAR MOLEQUE! FALOU!

 Pode parecer estranho, mas aquele era meu único amigo. Mesmo sendo filho de papai, tendo grana e um carro legal, fama com as garotas, ele era meu amigo. Acho que isso explica o porquê dele estar em uma festa em um domingo. Vejo que minha camiseta estava manchada de laranja, parecia ser um molho ou coisa assim, provavelmente foi o molho que fiz para melhorar o macarrão do outro dia que tinha feito, mas não me importei, até porque eu não queria ficar muito tempo lá mesmo, eu só iria dar um alô para o Mike, beber alguma coisa mais forte e voltar bêbado para casa para no outro dia trabalhar.

  Pego meu casaco do sofá, me certifico de estar tudo no lugar. Chaves, carteira, celular... é, estava tudo no lugar. Antes de sair, dou uma conferida nas minhas redes sociais. Fotos de amigos distantes em viagens, pessoas comentando futebol, política, ciência, foto do Mike da sua festa na noite passada. Eu realmente queria saber como aquele cara aguentava tantas festas, em uma semana, vi ele, através das redes sociais, em umas cinco festas. O cara não parava. E sempre com as melhores roupas, melhores mulheres, melhores bebidas e nos lugares mais luxuosos da cidade. Coloco o meu celular no bolso, coloco meus coturnos e vou para a tal festa. Antes de fechar a porta, olho para trás, como se tudo fosse mudar da noite para o dia. Tranco a porta, e saio.


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