Capítulo 1

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Quando mamãe me deu a notícia de uma viagem à Europa estar se aproximando, fiquei extremamente ansiosa. Porém, ela não me disse de imediato que eu não estava inclusa nos planos para a dita viagem. Meus pais pretendiam uma segunda lua de mel e, obviamente, não me levariam junto. Como tenho dezesseis anos, apesar de não ser perigoso como eles pensam ser, não tive a alternativa de ficar uma semana sozinha em casa. Fui obrigada a pegar um avião para Olympia, no estado de Washington.

O voo não fora assim tão demorado, me distraí facilmente com as músicas do meu ipod e com a leitura de Belo Desastre. Ainda dentro do avião, eu tentava não pensar muito em como seria complicado suportar uma semana na casa da minha avó. Ela era uma senhora de quase setenta anos de idade, com cabelos castanhos e grandes olhos verdes. Tinha um senso de humor agradável e cozinhava muitíssimo bem, mas vovó era viúva e sua enorme casa de campo permanecia praticamente vazia, exceto pelos três cachorros enormes que lhe faziam companhia.

Já estava preparando-me psicologicamente para dias monótonos repletos de comida e TV à cabo, quase a mesma rotina que eu levaria se tivesse tido a oportunidade de ficar quieta dentro de casa. Da minha casa, em Nova York, praticamente, do outro lado do país. Ao menos eu não sofreria tanto com a diferença de temperatura, já que os telejornais estavam noticiando que o verão em Washington não seria intenso, assim como em NY.

A casa de vovó era imensa, cheia de quartos que normalmente eram ocupados nas festividades de final de ano, como no dia de Ação de Graças, no natal e no ano novo. Havia um lago nos arredores da propriedade e uma piscina deliciosa no quintal, com várias árvores frutíferas que eu adorava escalar quando era menor. Mas, agora, com dezesseis anos e um notebook, a vontade de subir em árvores, pescar ou nadar no lago era mínima. Quase inexistente.

Tentei curtir a paz dentro do avião e fiz questão de ignorar os torpedos que recebi de mamãe quando ainda estava no aeroporto de NY. Ainda estava chateada por ter sido deixada de fora da viagem, mas ignorei tais pensamentos ou acabaria ficando de mau humor e vovó se culparia eternamente por isso. Ela simplesmente detestava ver qualquer um de seus netos tristes, irritados ou descontentes com alguma coisa. Eu preferia que ela não soubesse da minha falta de vontade de passar uma semana em sua casa.

Quando o avião pousou joguei minha mochila nos ombros e retirei os fones dos ouvidos, deixando-os pendurados no pescoço. Seguindo atrás de um casal de ruivos que também iria desembarcar, arrisquei olhar pela janela na esperança de ver alguém ansioso me esperando. Não havia ninguém. "Ótimo, Emily! Você terá que ir andando...", pensei, negativa.

Já no aeroporto em posse de minha mala com rodinhas, eu ia puxando-a comigo em busca de um local para me sentar e tentar ligar para vovó, mas antes mesmo de precisar fazer tais coisas, avistei ao longe, uma jovem morena segurando uma plaquinha com meu nome escrito. Arqueei uma sobrancelha, descrente que vovó tinha mandado uma estranha me buscar. Freei os passos e olhei ao meu redor, procurando por alguma outra Emily. Ninguém estava realmente prestando atenção em mim ou na morena há alguns metros de distância, então, decidi me aproximar.

Conforme ia avançando o espaço que nos separava, mais surpresa eu ficava. Eu conhecia a jovem. Claro que conhecia! Ela fizera parte de vários verões maravilhosos de minha vida, isso porque ela era Alexandra Lewis, minha prima. Ela sorria largamente para mim, mantendo a plaquinha firme em frente ao peito. Sua aparência havia mudado da água para o vinho. Alex havia crescido e emagrecido, seu cabelo estava repicado, pouco abaixo dos ombros e ela havia dito adeus ao piercing que possuía na sobrancelha.

Notei que também deixei-a um pouco impressionada. Fazia um bom tempo que não nos víamos e as mudanças muito mais que visíveis assustou a ambas. Quando parei de andar, já de frente para ela, notei que meu coração batia meio acelerado demais dentro do peito. Tentando reprimir um imenso sorriso de satisfação, eu deixei Alex se aproximar, abaixando lentamente a plaquinha para envolver meu corpo num abraço apertado e confortável.

Você Deveria Ser MinhaOnde histórias criam vida. Descubra agora