Capítulo 1

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É o começo das férias de verão e minha vontade é de passa-la completa em minha cama assistindo seriados ou ouvindo músicas. Mas nem tudo é como queremos. Por isso passarei dois meses completos na casa de minha avó com tios e primos sem nenhuma chance de paz ou sossego. Não que eu não goste deles, ao contrário, amo todos de minha família, mas não é minha praia querer passar dias com eles.

Quando mais nova, mamãe e papai sempre me obrigavam a passar ao menos duas semanas com eles. Ficava sentada na calçada com minha irmã mais nova vendo nossos primos e vizinhos da vovó jogarem bola, se sujando e se machucando. Nunca fui de querer correr ou sair gritando, e Alice era jovem demais pra brincar com os mais velhos.

Mas tudo mudou quando minha irmã faleceu há quatro anos. Foi um completo acidente, ou falta de descuido, não consigo culpar uma pessoa ou algo pelo o que aconteceu. Alice queria passar um dia na casa de uma coleguinha de escola que fazia aniversário. Mamãe não queria aceitar de jeito nenhum. Lembro que mamãe brigou com papai por ele sempre querer fazer nossas vontades. Mas depois de tantas tentativas e paciência, papai conseguiu convencer mamãe a deixar Alice ir.

Confesso que fiquei me mordendo de ciúmes por ela ir passar um dia incrível na casa de Madeleine e, eu ter que ficar estudando para uma prova de matemática ou eu reprovaria.

Alice comprou uma bolsa rosa toda fofa para de presente. Usou seu vestido azul de babadinhos e seu cabelo castanho estava com várias trancinhas que nossa vizinha Emily fez. Ela estava radiante e não parava de repetir que queria que eu fosse junto. E eu deveria ter ido.

Na metade do dia, as meninas resolveram brincar de verdade ou desafio. Alice parecia relutante mas para não decepcionar as amigas, ela aceitou. Quando a garrafinha de perfume parou nela e em Daisy, a loira perguntou se era verdade que Alice deu um selinho em George, o garoto gordinho da turma. Todas as meninas deram risadinhas e Alice envergonhada correu para fora do quarto e nenhuma das meninas a seguiu. Ela correu para os fundos da casa, onde a piscina estava vazia para tratamento.

Alice foi encontrada afogada uma hora depois quando o homem responsável por limpar a piscina chegou e gritou por socorro. Foi o dia mais triste de minha vida. Papai se culpou por muito tempo, mamãe ficou tempos fechada e eu fiquei sozinha.

Sozinha pelo fato que eu não poderia dizer a verdade. Alice morreu mas retornou.

Alice agora é um espírito que vive comigo.

Duas semanas depois do enterro, eu estava em meu quarto chorando quando algo me pediu para não chorar mais. A princípio achei estar louca, mas vi ser verdade.

— Não chores Lucie. Eu estou aqui, Lu! Olhe

E rodopio pelo quarto. Seu vestido ainda o azul de babadinhos e ela parecia tão alegre. Mas sua pele não era mais corada, seu olhar não era mais brilhante. Mas ainda sim, era ela.

Mas eu não podia acreditar ao mesmo tempo que queria acreditar.

— Mas... Você morreu... Lice, como? — Eu perguntava incapaz de raciocinar e finalizar alguma coisa.

— Eu morri. Mas papai do céu me deixou voltar! Não é o máximo? — E lá estava o sorriso que eu tanto amava e achava que nunca mais iria ver.

— Ele... Deus te deixou vir?

— Sim! Ele viu o quando eu estava triste.

Fez um biquinho e tudo o que eu queria no momento era chorar novamente.

— Você o viu? Quero dizer, ele te disse isso?

Ela pensou um pouco e forçou as sobrancelhas juntas.

— Não sei. Por algum motivo eu não me lembro de tudo, mas eu sinto Lucie. Eu sinto!

E desde estão Alice me segue por todos os lugares.

Ela não me deixara contar para mamãe e papai. Disse que eles precisavam superar e seguir em frente.

Mesmo ela não deixando, eu sabia que o motivo pelo qual ela voltou é que eu não superaria.

♦ ♦ ♦ ♦ ♦

Sai do transe que me encontrava quando ouvi mamãe gritando comigo no andar de baixo para andar mais depressa. Talvez, só talvez eu tenha deixado para arrumar as malas uma hora antes de partirmos.

— Lucia! Ande logo! Você disse ontem que já estava pronta — Gritou e sua voz ecoou pelo corredor. — Vê se pode Jonathan. E eu te avisei. — Ouvi ela falando baixo para papai.

Virei e vi Alice sentada no tapete ao lado da cama.

— Vixi, ela realmente está brava — Comentou rindo e pegando meu celular. Apenas acenei concordando.

— E você vai ficar só aí rindo e não vai me ajudar? Já basta eu ter que ir pro inferno.

— Vou ficar aqui sim. E você vai esquecer sua escova. — Cantarolou divertida sem levantar a cabeça.

Droga, Corri para o banheiro pegando minhas coisas e ao mesmo tempo arrumando meu cabelo num alto rabo de cavalo.

— Dessa vez pode ser legal. Lauren também cresceu, talvez não esteja tão má quanto antes.

Sai do banheiro com cara de descrença e apontando minha escola para a traidora.

— Vai mesmo defender o demônio? Se você se lembra bem, da última vez que nos vimos ela me empurrou num buraco e se não fosse por aquele menino esquisito eu teria passado a noite dormindo numa cova!

— A gente já ia te procurar — Balançou a mão despreocupada.

— Depois de duas horas?

— Talvez.

Suspirei fechando minha mala e pegando minha bolsa.

— Vamos, levanta daí, senão eu te farei companhia do outro lado.

— Ei, sem piadas sobre morte . Não tem graça.

— Tem sim, eu até morro de rir com elas.

Talvez ela tenha tentado me acertar com meu próprio celular.

— Cala a boca!

— Cala você!

— Lucia?

— O quê? — Perguntamos juntas.

Nos viramos e mamãe estava na porta do quarto com uma cara incredula. Não a culpo. Estsva conversando com o vento para ela. Mas se ela observa-se mais atentamente veria que o tapete está um tanto abaixado pelos pés de Alice. Só que ninguém nunca repara.

— Oi mamãe... — Disse sem graça.

— Com quem...? O que você tá fazendo?

Tentei ignorar Alice rindo como um louca.

— Eu to, é... Treinando! — Praticamente gritei. — Quero fazer teatro quando as aulas voltarem.

— Sério? — Perguntou desconfiada

— Sim. Eu sempre tive esse sonho mas tinha vergonha de falar.

— Você é uma péssima mentirosa. — Disse Alice enquanto se fazia acreditar em minhas palavras.

— Okay... Bem, já está pronta? Ótimo. Vamos.

E parou na porta me impedindo de voltar a brigar com Alice.

— Mamãe vai falar pro papai que você tá ficando louca.

Alice gargalhou enquanto eu passava por mamãe e virava para trás dando meu olhar mais mortal possível.

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⏰ Última atualização: Apr 04, 2016 ⏰

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