Cartas e Despedida

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- Olá, estamos de volta com o quadro amo... - Travo novamente. Merda, não era para isso acontecer. Não igual o ano passado, não, não.

- Caroline! - repreende meu chefe - Travou novamente? O que está havendo com você hoje?

- Desculpe, prometo que não irei travar novamente - respondo rapidamente, mas como resposta, ele nega com a cabeça.

- Você disse isso nas últimas três vezes em que travou - fala ele e anda até á mim. Ele pega na minha mão e faz um movimento para que eu me levante e eu faço isso.

- Vá beber uma água e falar com sua amiga Bonnie. Depois volte e iremos gravar novamente. Aliás, é o dia dos namorados amanhã e temos que entregar essa reportagem, e ela tem que estar perfeita!

Afirmo com a cabeça e saio do estúdio de gravações. Olho para trás e observo alguns estagiários me lançando um olhar de pena. Controlo minha raiva e saio da sala, indo até o camarim de Bonnie.

Depois de tantas revira voltas na minha vida, eu e Bonnie conseguimos seguir em frente. Cada um dos nossos antigos amigos foram para um lugar, mas ela e eu permanecemos unidas. Aliás, eu preciso dela tanto quanto ela precisa de mim!

Há 2 anos eu consegui achar o emprego para ser apresentadora de um programa de televisão, mas sempre que eu precisava fazer uma reportagem sobre o dia dos namorados, ou até mesmo algo relacionado ao amor, eu simplesmente travava. Eu sei bem o que está acontecendo. Mas não quero admitir.

Chego no camarim de Bonnie e bato na porta três vezes. Espero ela abrir, o que não demora muito.

Quando ela abre a porta, ela está toda sorridente. Ela me olha de cima a baixo e seu sorriso se desfaz. Está tão na cara assim que eu estou mal?

- O que aconteceu? - ela me lança um olhar preocupada.

- A mesma coisa do ano passado. Tem algo na minha cabeça que simplesmente não me deixa continuar! -Respondo à ela, começando a andar de um lado para o outro, aparentemente nervosa.

- Car, eu não quero preocupa-la nem nada... Mas existe algo que você tenha deixado para trás? - pergunta Bonnie. Paro de andar e a encaro. Começo a pensar em várias coisas, mas lá no fundo sei muito bem o que me faz travar. Eu só tenho que admitir.

- Não - minto. Ela olha para mim com uma sobrancelha erguida.

- Não minta para si mesma - ela adverte - São essas mentiras que contamos para nós mesmos que faz com que percamos coisas preciosas.

Mordo o lábio inferior. Por que Bonnie tem que ser tão observadora a ponto de saber se estou mentindo?

-É o Klaus -respondo-a. Ela olha para mim e esboça um sorriso.

-Ainda gosta dele? Não consegue tira-lo da cabeça? -ela pergunta, aparentemente interessada.

-Como conseguiu tirar o Jeremy da cabeça? -pergunto, não respondendo a pergunta dela.

-Eu simplesmente me declarei. Tirei o peso das minhas costas. -explica Bonnie, dando de ombros. -Claramente você gosta ainda do Klaus. Acho que tenho uma solução para você.

Ela entra dentro do quarto e começa a procurar por alguma coisa. Ela pega uma caneta e logo depois um caderno e corre até à mim. A garota me entrega e sorri.

-Escreva seus sentimentos aqui. Eu iria falar para você mandar para ele, mas isso fica ao seu critério. -a garota dá de ombros e continua a me encarar. Fico nervosa quando toco o caderno, mas tento esconder esse sentimento -Vai dar tudo certo! Se tem uma coisa que aprendi muito bem nesses últimos anos, é que devemos deixar o passado para trás para podermos seguir em frente.

Concordo com a cabeça. Bonnie me abraça e se despede de mim com um aceno de mão. A garota entre novamente dentro do seu camarim e fecha a porta.

Olho para o corredor vazio à minha frente e começo a andar. No meio do percuso, encaro o caderno e a caneta. O que eu iria escrever? E por que? Será que isso iria dar certo?

Sento no corredor e abro o caderno. Não havia nada escrito nele, e isso de algum modo me reconfortava. Respiro fundo e começo a escrever.

"Querido Klaus,
Eu realmente espero que tenha seguido em frente. Eu espero isso para o seu bem, porque no fundo, o que eu quero é que você não me esqueça e não tenha seguido em frente. (você está tão longe. Como isso pode acontecer?).
Começando do começo: Eu sinto sua falta. Sinto falta de você me chamando de lover (Será que você ja achou outra garota para chamar assim?), sinto falta das nossas brigas idiotas e sem motivos. Sinto falta de exatamente tudo. Será que você ainda se lembra? Será que você se lembra daquela valsa inesquecível na sua mansão?
Ou será que você já se esqueceu de tudo e eu estou me iludindo? É provável que seja a segunda opção. Mas mesmo assim, Klaus, Eu sinto falta de cada toque seu. Sinto falta do seus desenhos e de suas frases poéticas que me motivaram. Sinto falta, principalmente, do seu jeito de ser. Nunca eu achei alguém assim, alguém que realmente me cativasse e que gostava de mim do meu jeito. Isso era uma das coisas que mais me chamava a atenção em você.
Mas outra coisa era o fato que você sabia o que eu sentia, mesmo que eu não admitisse.
Você me esperou até aquele dia na floresta (você irá me esperar novamente?). Você me esperou falar exatamente as palavras que você queria. Você sabia que eu não queria admitir pelo fato que meus amigos iriam me julgar.
Você se lembra quando me disse que Tyler estava livre? Eu pensava que era só para me fazer lhe perdoar, mas era bem mais que isso. Você queria que eu visse o quanto eu lhe afetava (será que você achou outra que lhe afeta assim?).
Lembro muito bem de quando você me disse que eu era uma garota brilhante, linda, e que eu tenho a luz.
Sim, Klaus. Eu tenho a luz, mas todos nós temos uma escuridão. E você faz parte da minha escuridão. Eu preciso de você. Cada pedaço e cada célula do meu corpo precisa do seu toque que me faz sentir aquele fogo enorme, e também o sentimento que nunca senti por alguém.
Lembra da promessa que Você me fez? Eu irei espera-lo, Klaus. Irei esperar Você ser meu último amor.
Você deve se perguntar porque eu estou escrevendo isso. Uma pessoa disse para mim que devemos deixar o passado para trás para seguirmos em frente. A partir de hoje, irei tentar esquece-lo (tentarei. Eu prometo) Até que você venha até a mim (realmente espero que venha...)
Agora eu me sinto mais leve. Eu finalmente coloquei para fora o que eu sentia. Mas, eu não consigo escrever aquelas três palavras e sete letras. Mas na hora que você estiver do meu lado, eu irei falar para você.
Obrigado por todas as pequenas coisas que fizemos juntos.
Finalmente eu me sinto livre.
Com amor, Caroline"

Encaro a carta com um sorriso fraco no rosto. Limpo as lágrimas do meu rosto, com um gesto rápido, e levanto do chão. Escuto sons de passos vindo na minha direção, e imediatamente rasgo a carta e jogo ela no lixo mais próximo. Arrumo a minha roupa e meu cabelo, e logo depois, limpo as minhas lágrimas.

-Caroline? -chama meu chefe. Olho em direção à ele e sorrio. Um sorriso de verdade. Não era mais aquele sorriso falso...Eu realmente estava me sentindo mais leve -Você está melhor? Podemos continuar com à reportagem?

Faço um gesto de afirmação com a cabeça. Meu sorriso aumenta, fazendo-me com que eu ria. O meu chefe ri também e me olha com um olhar estranho.

-Você está feliz. O que Bonnie fez? -ele segura o meu braço e entrelaça com o dele.

-Eu simplesmente me libertei. -respondo e guardo a caneta, que estava na minha mão, no bolso da minha calça.

RememberOnde histórias criam vida. Descubra agora